Prólogo

298 92 442
                                    

                        Abro a porta da minha casa, e Aguiar entra com os seus equipamentos de gravação. Ele chegou na hora combinada, às sete da manhã. Nos cumprimentamos e sentamos à mesa, onde preparei um café para nós.

— Obrigado por me receber. — Fala, organizando seu gravador. O homem tinha uma voz marcante que o fazia ser a lenda que era.

— Você quer alguma coisa? — Pergunto para o locutor bigodudo. — Eu preparei um café para você.

— Não precisava, mas muito obrigado. Só me deixa uma água por perto, por favor. — E assim faço, rapidamente vou à cozinha e retorno com uma jarra de água e copos. — Tem mais alguém na casa? — ele pergunta.

— Sim, minha irmã e a Luna, mas elas estão dormindo, mas já avisei para que elas fiquem em silêncio.

— Você autoriza que sua irmã grave?

— Sim, mas o Pierre deixou? — digo preocupada, não gostaria de expor a irmã, mesmo sabendo que ela adorava ser o centro das atenções.

— Ele autorizou que vocês duas pudessem dar suas versões da história. Jorge também.

— Tá, mas como isso vai funcionar, você vai gravar a minha história e a da minha irmã, e aí vai vender?

— Você contará a sua história de vida sobre o que aconteceu com você, Pierre e Jorge.

— Quer que eu conte desde o início?

— Se possível, quero o máximo de detalhes possível.

            Era assim o entretenimento na cidade; as histórias narradas de acontecimentos reais ou fictícios eram a maior forma de entretenimento da nossa cidade, já que a Zelândia cobrava uma fortuna para que víssemos ou alugássemos algum filme dos anos dois mil.

            Não gostava da ideia de ter a vida exposta daquela maneira em uma história, mas eu conhecia o poder daquelas histórias; elas inspiravam os jovens, e se eu pudesse contar minha história e mostrar os meus erros, talvez as pessoas não os repitam e não se envolvam com dois bandidos mentirosos.

— Eu aceito que você grave a minha história e a da minha irmã, mas quero que seja fiel ao meu relato, tudo bem.

— Claro. Pierre e Jorge já gravaram para mim, e junto com a sua história e a da sua irmã, eu organizarei o enredo. Vou te enviar uma cópia assim que estiver pronta. Se não gostar de algo, eu posso mudar, combinado.

— Tudo bem para mim.

— Jorge e Pierre pediram para que eu lhes pagasse o valor combinado. — Ele fala mexendo no comunicador, pedindo o meu QR Code e pagando cento e cinquenta mil. — Esse é o valor das três histórias. Pago dez mil para sua irmã.

              Como se isso fizesse diferença. Eles sabiam que não fazia. A imagem do meu velório vinha me atormentar mais uma vez, o fato de saber que a morte viria me buscar a qualquer momento já não assustava tanto, mas o medo não era por mim.

               Elas ainda precisam de mim. Mas o fato não fazia diferença para o destino. Estava com os dias contados e isso era minha culpa.

— Tenho que ver com ela, se quiser eu a chamo.

— Sua história é longa, não é? — Diz ele, colocando um celular antigo em minha frente. — Deixa ela dormir, depois eu converso com ela. Vamos começar?

— Quando você quiser. — Digo.

— Então vamos começar, é só clicar em play. — Eu assenti, e me sirvo de um copo de água. — Me diga o que aconteceu com você, Ellen Sandler?

                            Aperto o play e começo a recordar o meu pesadelo

Amor não me mateOnde histórias criam vida. Descubra agora