Pantera

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Cairo, Egito. 2014

Ah, Cairo.

Parecia que a maior joia do mundo árabe sorria para ele. Como um agente do caos e da trapaça, nunca amou tanto uma cidade que era um museu aberto, composto pelo antigo e moderno que se mesclavam nos bairros, ruas, ruelas e becos.

O Cairo religioso, cheio de vida e de contrastes, revelava diferentes civilizações. Da suíte presidencial de um dos hotéis mais luxuosos, podia ver o Planalto de Gizé e suas monumentais pirâmides e a antiga Necrópole de Mênfis. Adorava aquela cidade, conhecida pelos locais como a "mãe de todas as cidades" e a "cidade dos mil minaretes".

Com uma taça em mãos, saboreou o delicioso vinho, brindando sua chegada sem muitos percalços, o que era bastante raro se dependesse do azar que lhe perseguia. Já a gentil dama que lhe acompanhava aquietou-se, talvez em reverência. Ou talvez estivesse abismada com a cidade caótica.

Ou talvez estivesse provando a mais profunda essência do local enquanto se desfrutava daquela imensidão? Ali, diante do clima árido e seco, teria a oportunidade de contemplar alguns dos monumentos mais surpreendentes e veria como os diferentes grupos interagiam e conviviam.

Ele bebericou mais um pouco o vinho e observou os homens de ternos enegrecidos que se espalhavam como um emaranhado de formigas, todos hostis, com feições capazes de aterrorizar os bebês mais calmos. Apesar de indefeso contra as intemperes do azar, já esperava ser caçado.

Ainda mais quando tinha acabado de sair da Irmandade.

— Ignácio Cortez! — O trio de homens não imaginava o que as tecelãs do destino reservaram para eles. — Onde está o Cetro de Cleópatra?

Queria saber os motivos para tanta desconfiança. Ele não era um ladrão mequetrefe, longe disso, mas por que toda santa facção fazia essa pergunta para ele? Se recebesse um euro por cada um que perguntasse...

Ah, Murphy, por que você me ama tanto?

Bebericou o restante do vinho e deixou a taça em cima da mesa de cristal.

— Por que eu saberia?

— Você não é o Pantera? — O líder, bem mais elegante que o resto, arqueou a sobrancelha e sorriu ironicamente. — Ou vai me dizer que foi um irmão gêmeo que invadiu o escritório de um ilustre empresário e roubou o que era nosso por direito?

— Pantera, meus amigos, não é um ladrão apenas. — Suspirou e checou a garrafa de vinho. Quase vazia. — Ele é um ideal, tão efêmero quanto Arsène Lupin e Sherlock Holmes.

— Deixe de enrolação! — O líder contornou o sofá circular que cercava metade da mesa de centro. Ignácio estava sentado no outro. — Ou até diante da morte você é debochado?

— Não, estou explicando para vocês quem lhes roubou. — Suspirou novamente. Era difícil lidar com pessoas que não ouviam. — E vocês não têm noção do que acordaram ao entrar arrebentando a minha porta.

Derramou o restante do vinho na taça e olhou para a porta que separava a antessala do quarto. Um dos homens estava bem próximo a ela, de frente. Não segurou os lábios, arqueando-os para cima em um sorriso sem dentes.

Balançou um pouco o líquido e apertou a mão no topo da pesada garrafa, tentando recordar. Se tinha uma coisa que o azar sempre lhe trazia era a sorte de conhecer pessoas capazes.

Incluindo uma bela agente recrutada apenas para seguir seus movimentos.

— Jane, meu amor, faça as honras da casa para nossos ilustres hóspedes.

No futuro, a chamaria de beleza indomável. No presente, de deusa da vingança, afinal, coitados daqueles que importunavam o sono dela. Ameaçou beber o vinho, mas desistiu. Preferia ter suas faculdades mentais para o que aconteceria depois.

Jane, ainda belíssima em uma camisola de renda vermelha sensual, chutou a parte traseira do joelho do homem e o envolveu em um mata-leão. Retirou, em segundos, a pistola presa ao coldre da cintura do rapaz e deu dois tiros no que estava próximo à porta.

O homem que conversava com ele apenas arregalou os olhos antes da fúria em pessoa dar uma leve coronhada no pescoço de outro homem, na altura onde havia a carótida. Ele não tardou a perder a consciência aos pés da mulher que mexeu demais com seu coração.

Ela apontou a pistola com as duas mãos para o homem engravatado e líder daquele séquito. Ele entrelaçou os dedos atrás da cabeça em um sinal de rendição. Jane deu um leve risinho nasal.

— Você acha que pode vir ameaçar meu homem e ficar impune? — Ignácio não queria estar na pele dele. — Agora me diga. Quem lhe mandou?

— Mossad.

— Mossad não ataca dessa maneira, eles capturam primeiro e perguntam depois. — Empurrou o cano da arma para a testa do homem. — Diga novamente. — Inclinou-se e da sua posição, Ignácio poderia ver o quanto ela lhe enfeitiçava. Arrepiou-se mesmo quando ela ameaçava para o homem rendido. — E, dessa vez, diga o que eu quero saber se não...

Deslizou a pistola para entre as virilhas do meliante e o próprio Ignácio se contorceu em imaginar o que ela faria.

— Irmandade! Foi a Irmandade.

Como eu imaginei.

Satisfeita, Jane apenas rodou a arma na mão e atingiu em cheio com o cabo no rosto do indivíduo, que caiu desacordado. Os três homens esparramados no quarto chamariam muita atenção da polícia local e, talvez, só talvez, eles poderiam ser presos e detidos.

Se por algum acaso não namorasse com uma agente da Interpol.

Tomado por um desejo luxuriante, ele pegou aquela mulher de tez clara e cabelos levemente ondulados e a puxou para si. Unindo seus corpos em um só espaço, armada e perigosa, a mulher poderia se desvencilhar a qualquer instante.

Mas repartiu os lábios carnudos e permitiu que ele se inebriasse com o gosto de framboesa de sua boca ou o amadeirado do perfume que ela usava. O vapor quente de sua respiração foi como uma ambrosia, enlouquecendo-o. Não teve jeito.

Atacou ferozmente os lábios da mulher. Ela o abraçou e montou em cima de seus quadris, entregando-se à paixão.

Jacqueline. Ela odiava ser chamada pelo nome real em missão, mas agora ela não estava em uma. Eu... te amo.

 te amo

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PT-BR | O Cetro MalditoWhere stories live. Discover now