Bênçãos e Maldições

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Para Jacqueline, tudo deveria ser simples. Estava experimentando os lençóis no estado do Colorado, relaxando depois de uma captura bem-sucedida até uma ligação de sua chefe que a colocou no primeiro avião para Cairo. Deveria ser o elo entre o governo local e um recuperador obscuro.

Mal sabia que Ignácio Cortez arrebataria para sempre seu coração.

O jeito que ele a fazia se sentir especial; a forma como, diferente de seus antigos parceiros que a achavam mais um rostinho bonito, ele aceitava seus planos; a confiança em suas habilidades e a adrenalina de sempre estar na ponta dos pés com ele lhe deixavam doida.

Fora o sorriso tinhoso, que era como uma flecha do deus da paixão. Aqueles meses trabalhando juntos para a recuperar o cetro da rainha mais famosa do Egito mexeram demais com ela.

Não sabia como, provavelmente havia consultado seu irmão elusivo, mas ele conseguira rastrear o cetro. O plano depois foi tranquilo: seduzir um homem, fazê-lo levá-la até seu escritório, nocauteá-lo e, do cofre, retirar o objeto.

Dali em diante era somente entregar o cetro à sede do governo para análise para posteriormente ser exposto em um museu. Entrar e sair, como muitas outras missões que fizera. O que era simples virou complicado.

Os traços afiados do rosto casavam com o jeito esguio e elegante do homem. Os olhos avelãs pareciam calmos, porém as pernas saltitantes e o tremor das mãos enquanto ele agarrava o recosto da porta lhe denunciou. Ele era um exímio jogador de pôquer, para não dizer o contrário.

— Como você ativou o cetro?

A pergunta o pegou de surpresa, mas Jaqueline precisa saber. Ao recuperar o item das mãos de um neonazista, ele não ativou. Nem quando ela o viu em todo seu esplendor e totalidade na noite anterior, quando teve de lidar com patetas que se achavam agentes do Mossad.

— Não entendi a pergunta.

— Deixe para lá. — Ela agitou a cabeça em negação. Ao parar em um sinal vermelho, pegou um rádio do banco traseiro, ajustou a frequência e o jogou no colo dele. — Avise quando eles estiverem próximos. Precisamos ir urgentemente a sede do governo e entregar o cetro, mas eles devem estar vigiando as entradas.

Ela prestou atenção em todos os carros que passavam muito próximo ao deles.

— A Interpol tem uma casa segura. — Ela acelerou quando o sinal acendeu a luz verde. — Podemos nos reestruturar lá e ir a algum ministério.

— Soa perfeito. — Ele respondeu, esfregando as mãos. — Mas Jac...

— Jane. — Ela o fitou com dureza. — Já disse que meu nome verdadeiro só quando estivermos sozinhos, babe.

— Você é impossível. — Ignácio deu um risinho. — Jane, estamos completamente cercados. Não queira saber como o Julian é conectado. Posso ligar para meu assistente.

— Não, Ig. — Jacqueline negou com veemência. — Não quero que seu aprendiz esteja na linha de frente de assassinos mercenários. E eu já falei como eu me sinto colocando-o diante do perigo.

— Eu acho que você o subestima demais.

— Não é essa questão. — Era difícil acelerar o carro no meio do caos rodoviário de Cairo. — Somos adultos, o dever dos adultos é proteger crianças desses perigos que estamos enfrentando.

Seguiu de volta para a parte islâmica de Cairo e entrou na cidade velha. Passando pelas ruas enraizadas na mente, ela serpenteou pelo centro da capital que nunca dormia em direção às ruas estreitas e aos minaretes da enigmática e sagrada região. Tinha que pensar rápido para aproveitar aquele momento de respiro.

PT-BR | O Cetro MalditoWhere stories live. Discover now