2 - E a paz foi embora

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O PROJÉTIL PROBLEMÁTICO não me deu o trabalho que imaginei

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O PROJÉTIL PROBLEMÁTICO não me deu o trabalho que imaginei. Talvez guiado por meu desejo gritante de ter um repouso merecido, veio parar em um pequeno jardim de um acampamento de férias.

Pela branda energia no local, humanos são a maioria dos que estão por perto.

Jamais imaginaria que uma seta pudesse desaparecer e surgir em um lugar como este. Ainda que seres tão frágeis não sejam capazes de enxergá-la, uma conexão acidental entre corações já comprometidos poderia ocorrer, a visão caótica que faz calafrios percorrerem minhas asas ao mero pensamento.

Envolvido pelo alívio de ter a flecha ao meu lado, caída entre as flores no chão, permito-me relaxar sobre o balanço amarrado em um dos robustos galhos da árvore central do jardim, apreciando o revigorante frescor da floresta ao meu redor.

— Isso é algum item alienígena?

E a paz foi embora.

— Você tem noção de que arruinou meus preciosos segundos de férias? — questiono entredentes, determinado a punir quem perturbou minha oportunidade de descanso.

O jovem que subitamente apareceu diante de mim emana uma energia tão tênue que sua presença passou despercebida. Após uma breve avaliação do cenário, concluo que minhas opções são limitadas:

— Deixa eu adivinhar... é um bruxo iniciante? Um vampiro recém-transformado?

— Estão fazendo alguma festa à fantasia por aqui? Acabei de chegar, entã-

— Quem é você, garoto? — questiono às brisas, pois o menino misterioso parece não ter conhecimento do que está acontecendo consigo.

— Uma... pessoa? — Ao tempo em que dirige a palavra para este Cupido intrigado, seus olhos oscilam entre medo e encanto, observando fixamente a seta dourada refletir seus próprios sentimentos.

Examino-o com curiosidade, na tentativa de desvendar quais os mistérios ocultos por trás de sua aura enigmática.

— Sério, o que é isso no chão? — insiste ele, a voz beira súplica.

Ao fim da inspeção criteriosa, o clique final da roleta que gira em minha mente revela a resposta para meu questionamento e entendo o que está por vir.

— Isso, meu caro, é a flecha de um Cupido — balbucio, mal conseguindo mascarar minha empolgação.

— É uma fantasia bem previsível — Ele encolhe os ombros, em um inconsequente desinteresse, os olhos ainda inundados pelo dourado pulsante.

— O que posso fazer se, no fim, todos desejam o amor? — Deixo passar a afronta insipiente e direciono o foco a nova tarefa que tenho em mãos. — Você também, não estou certo?

Tudo que recebo é silêncio, e estou certo de que as linhas em sua testa são obra de um sentimento contido, preso em um nó que ele nunca soube desvencilhar.

Imerso em pensamentos incessantes, o jovem, em um movimento ingênuo, estende a mão para alcançar a flecha.

— Você tem certeza? — pressiono sutilmente, tentando emergi-lo de seu próprio oceano, a fim de compreender o que afunda sua mente.

— Eu... não sei, mas é como se... eu precisasse fazer isso — Seus olhos, antes terrosos como areia do mar, são alagados pela escuridão de um medo que costumo ver em corações desacreditados.

— Apenas escute seu coração  — declaro, estampando o sorriso petulante que a flecha daria se pudesse sorrir, sempre certa do que faz.

O garoto, entregue à necessidade urgente que agita seus sentimentos, toca no projétil e, de maneira inconsciente, faz papel de fantasia previsível em sua própria jornada.

O garoto, entregue à necessidade urgente que agita seus sentimentos, toca no projétil e, de maneira inconsciente, faz papel de fantasia previsível em sua própria jornada

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Um Cupido No Balanço (⚣)Where stories live. Discover now