Um Cupido No Balanço (⚣)

4 - Todo o meu coração

MINHA CONFUSÃO é quase tangível, e ele parece perceber:

— É... Também fugindo da reunião noturna?

— Reunião? — pergunto, esforçando-me para recordar como vim parar aqui. — Ah, você... tem um celular? Preciso falar com alguém.

— Foi mal, não trouxe — lamenta ele, deixando claro que a sorte não foi minha guia para o caminho entre os quiosques.

— Tudo bem... — Meus olhos, incontroláveis, fixam-se no garoto sentando-se ao balanço. A necessidade de provocá-lo por sua baixa estatura é também indomável. — Vem cá, você tem idade para estar aqui?

Os olhos de céu me encaram, em uma fúria imediata:

— HAH! Você é hilário — Ele hesita antes de admitir, em birra. — Tenho 15.

A irritação em seu timbre era a faísca que eu procurava.

— Então você está burlando as regras, Pequeno? — Agora tempestuosos, os olhos relampejam em um ódio genuíno, como eu queria.

Um sorriso rebelde, involuntário, insiste em despontar de meus lábios ao ver seu cenho franzido ao máximo, mas ele logo me acompanha em um semblante sorridente, as rugas indo embora à medida que deixam a fúria para trás.

E assim ficamos por um tempo, presos um ao outro. É um momento inesperado, mas intenso e... fascinante, como se fosse para ser. Para mim, já poderia muito bem ser. E como poderia.

A passagem secreta que acabou de ser descoberta entre nossos olhares, contudo, é destruída por um súbito estrondo de vozes na floresta.

— Parece que começou o toque de recolher — Ele dá a impressão de que foi arrancado de um estado de devaneio.

— Precisamos ir? — pergunto sem pensar, igualmente absorto.

— As reuniões acontecem toda noite — Posso ouvir um sorriso em sua voz enquanto ele se diverte em um leve balanço, sombreado pelos galhos folhosos. — Já sabe onde me encontrar.

— Eu havia me esquecido de que você é uma má influência, Pequeno — Com a oportunidade evidente, não perco a chance de provocá-lo.

Ele se limita a rir, incapaz de contestar.

— Te vejo por aí, Capitão.

E assim nos despedimos pela primeira vez.