Screaming Sometimes Can Help

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"por favor, não despedace. eu estou tentando ser forte,
pare de pedir pra que eu fique"
— adele

TW: Essa oneshot segue a linha temporal do 6.07. Os tópicos a seguir podem ser sensíveis.

A cena de Carina deixando o meu quarto no hospital ainda não saía da minha cabeça.

Fazia pouco menos de uma semana que eu finalmente estava livre da psiquiatria, depois de três longos dias sob supervisão médica, mas depois que Carina passou por aquela porta e Altman conseguiu me fazer calar a boca, eu simplesmente entrei no modo automático.

Por protocolo, Andy teve que me buscar no hospital e me levar até em casa, porém, assim que pude abrir a porta do apartamento, não fiz menção de deixá-la entrar, sem me importar em simplesmente bater a porta assim que passei.

E, piorando o que já estava ruim, aquele apartamento não me parecia o mesmo.

Demorei alguns segundos até perceber que as coisas da Carina não estavam por ali. Sua foto de infância, a qual sempre gostei de passar um tempo imaginando como seria tê-la em uma versão nossa, não estava mais na prateleira. Seus livros? Nem sinal. Caminhando até a cozinha notei que nem sua cafeteira fazia menção de algum dia ter existido naquele balcão.

Não me importei sobre alguém poder me ouvir, apenas joguei o celular e as chaves na mesa com a maior força que consegui juntar naquele momento.

Sabendo que eu já não tinha mais absolutamente nada a perder, segui caminho até o quarto e confirmei o óbvio. As roupas de Carina também não estavam mais no closet, e a cama, perfeitamente arrumada. Era como se ninguém nunca tivesse ousado dormir ali comigo, como se ninguém nunca tivesse ousado me amar ali.

Bati a porta do cômodo sem nem notar que eu segurava a maçaneta com tanta força que consegui entortá-la, mas eu não me importava com aquilo. Sem me dar ao trabalho de deitar naquela cama tão bem feita, deixei meu corpo cair na quina entre as paredes.

Nenhuma lágrima descia pelo meu rosto. Eu somente queria acordar e descobrir que os últimos oito meses foram um pesadelo. Eu queria acordar e descobrir que Carina estava grávida, que iríamos ter um bebê. Eu queria acordar com o meu emprego de volta.

Não faço ideia de quanto tempo passei sentada atrás da porta, sem sequer me dar ao trabalho de segurar meus joelhos. Minha cabeça apenas repassava mais e mais vezes a briga que tive com Carina e, a cada vez que eu relembrava o que disse, eu tinha mais vontade de tomar algum remédio que me deixasse sonolenta e torcer para nunca mais acordar.

Levantei quando o quarto já estava todo escuro e eu sentia minha cabeça latejar como nunca. Mas, ao me direcionar para o armário do banheiro, onde eu e Carina costumávamos guardar qualquer tipo de medicação, notei que ela havia esvaziado a caixa inteira. Maldita mulher inteligente com quem fui me casar.

Imaginando que talvez eu pudesse ao menos fazer um chá na cozinha, me forcei a ficar de pé e segui em passos lentos até perto da ilha, onde me apoiei antes de sentir meu tornozelo desequilibrar um pouco. Ele estava agora devidamente mobilizado e Andy ficou responsável em me levar de três em três dias para trocar as bandagens, mas isso não anulava nem a dor nem o quanto eu não queria ver ninguém naquele momento. Na verdade, a única pessoa que eu queria por perto era a última que me aturaria.

Ao menos consegui fazer uma xícara de chá e, mais uma vez sem me dar muito luxo, sentei com as costas apoiadas no metal frio da geladeira, esticando ambas as pernas já que eu não aguentava mais suportar meu peso.

E, entre muitas mais xícaras e diversos pacotes recém abertos de biscoitos que encontrei no armário, passei o resto da noite no chão da cozinha, tentando entender se fora assim que Carina se sentiu na morte do irmão. Ela provavelmente se sentia tão vazia quanto eu. Perder a pessoa que mais se ama nesse mundo nunca é fácil, independente de ser um parente de sangue ou apenas de coração – apesar de Carina DeLuca nunca fora apenas minha parente de coração, ela sempre me teve com mente e alma também.

i love you in every universe - marina oneshotsDonde viven las historias. Descúbrelo ahora