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Meus pés tocavam a grama fofa do quintal de Christopher, este que estava concentrado em beber sua cerveja enquanto observava as nuvens passarem lentamente no céu azul de Budapeste, o vento soprava nossos fios, os meus fios escuros e os seus fios loiros, que estranhamente pareciam combinar um com o outro.

— Você mora sozinho? — questionei–lhe, vendo este ter sua atenção totalmente a mim.

— Sim e não exatamente, tenho funcionários, mas eles estão de férias.

— De férias em meio a uma guerra ocorrendo? — estranhei, vendo Chan dar de ombros.

— Uma guerra nem sempre vai impedir as pessoas de fazerem o que elas querem, ainda mais se só for dois países entre si. — balancei a cabeça lentamente, bebendo minha coca. — Tipo eu e você, tem uma guerra acontecendo entre nossos países e nem por isso deixamos de vir para o meu quintal e bebermos juntos.

Ri baixinho com sua fala, ele não estava errado, passar o tempo com Christopher não era tão ruim assim, acho que só de ficar observando as nuvens fofas andarem de uma forma extremamente lenta no céu era maravilhoso. Christopher por algum motivo me passava confiança, me sentia acolhido com ele, em um mundo onde quase ninguém se entende é muito raro encontrar seu parceiro.

Por mais que eu tivesse que matar esse meu parceiro, eu não conseguia criar coragem e sei que se não fizesse isso logo, o morto será eu. Mas eu não quero morrer, mas também não quero que Christopher morra.

— Com o que você trabalha?

— Quer que eu diga o trabalho real ou o inconfidente?

Estranhei, arqueando as minhas sobrancelhas. Ele estava se referindo ao seu trabalho na máfia? Eu realmente nunca entendo Christopher Bang, por que parece que ele não mantém segredo de nada sobre quem ele é de verdade perto de mim? Por que ele não tem sigilo total? Ele não tem medo de eu descobrir a verdade? É como se ele soubesse porque vim para aqui. É como se ele quisesse que eu acelerasse o processo de sua morte...

— Estou apenas brincando! — soltou sua risada contagiante, me fazendo sorrir sem graça. — Trabalho com negociações, coisas de família isso, geração por geração e essas porcarias.

— Com o que você realmente queria trabalhar? — me ajeitei na cadeira, interessado na minha própria pergunta.

Christopher voltou seu olhar do chão para mim, enquanto seu dedo rodeava a boca da garrafa e seu sorriso de canto crescia ao decorrer dos segundos, o que me fez sorrir também, eu senti seus olhos brilharem.

— Me diga logo! Você tem cara de querer trabalhar com a arte... — chutei, vendo o mesmo rir baixo e concordar.

— Você me conhece bem pelo visto.

— Isso é fácil! Sua cara já diz tudo quando você toca em uma câmera. — me lembrei de nosso piquenique, sentindo falta daquele dia.

— A arte é consolar aqueles que são quebrados pela vida.

Respirei fundo e deixei a lata de coca no chão, me sentando na cadeira de Christopher, o mesmo me olhou surpreso, se ajeitando na cadeira e parecendo ficar sem graça.

— Já ouviu no mito de Eros e Psiqué? — Chan discordou, o que me deixou surpreso. — Psiqué foi destinada a se casar com Eros, ele a tratava com amor e carinho, sempre sendo cuidadoso com ela e lhe dando o amor que lhe era merecido, mas Eros tinha feito uma condição, ela não poderia lhe vê–lo, pois se assim o fizesse, o perderia para a eternidade e Psiqué aceitou tal condição,  mais um dia em que suas irmãs falaram para Psiqué tentar ver o rosto do amado,  ela ficou ansiosa em tentar descobrir e então acendeu uma vela no escuro e viu o rosto de Eros, ficando encantada com tamanha beleza mal percebeu que uma gota de cera havia caído no peito dele, o assustando, ao ver que ela tinha quebrado a promessa, ele a abandonou.

𝖽𝖺𝗇𝗀𝖾𝗋𝗈𝗎𝗌𝗅𝗒 𝗒𝗈𝗎𝗋𝗌 ( 𝗰𝗵𝗮𝗻𝗺𝗶𝗺 ! )Onde histórias criam vida. Descubra agora