Estou aqui

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"Se eu deitar aqui
Se eu apenas deitar aqui
Você deitaria comigo e esqueceria o mundo?"

- Chasing Cars - Sleeping At Last.

Em meio aquela angustia, a notícia do nascimento de minha sobrinha, me animou. Ela era tão pequenininha. Os cabelos loirinhos, como os de Nat. Os olhos ainda não tinham uma cor definida. A mais nova Thronicke era o motivo de briga entre Fred e Amy. Os dois queriam segurá-la o tempo todo. Minha mãe estava no céu com a menina. Celeste chorava muito, pois sentia inúmeras cólicas. Era nesse momento que eu pegava Stefan, e rumávamos para casa.

Stefan aos poucos foi se soltando, e mostrando-se um ótimo amigo, como ele mesmo dizia. Cansado das mesmas promessas, ele foi deixando de perguntar sobre Simone. As perguntas foram substituídas por desenhos, muitos desenhos.

Como o ultimo que pregava a parede a UTI. Stefan se auto desenhou, correndo no campo com uma pipa nas mãos.

- Stefan está enchendo seu quarto de desenhos, não me culpe, Simone. - olhei os desenhos, e retomei a posição atual, sentando-me na cadeira. - Ele não pode vê-la, já tentamos. Sinto muito. Ele é um garoto muito especial, e precisa de você. - corri as pontas dos dedos nos lábios roxos dela. Simone estava tão frágil. A sonda gátrica em forma de tubo passava pelo nariz, alimentando-a. Meus olhos sofriam, por terem que registrar aquela imagem.

- Já se passaram cinco meses. - disse, pausadamente. - Sinto a sua falta. Você quer fazer o favor de encontrar o caminho de volta? É tudo tão doído sem você. Estou sem rumo, perdida. Arranque essa agonia que sinto, acorde, Simone. - freei as mãos que a sacudiriam. Eu estava a ponto de cometer aquela loucura. - Preciso de você para viver, acredite, estou acordada, mas no fundo, minha esperança está adormecida com você. - olhei ao redor, secando as lágrimas. Puxei a máscara, e a beijei na face.

O rosto estava frio, como uma pedra de gelo. Os cabelos ainda eram pretinhos, a fisionomia estava serena. Simone não perdera a beleza, ela era tão bonita. Como Stefan. Suspirei, imaginando como seria se ela viesse a ter um segundo filho. Afastei-me, como se o pensamento fosse pecaminoso. Nada relacionado a Simone seria de tal forma. Ela era o meu amor, a minha força adormecida. Naquele momento tomei a decisão mais apavorante de toda a minha vida.

- Eu te amo, Tebet. Preciso ir, voltarei o mais rápido possível. - acarinhei a cabeça dela, dando um beijo em sua testa. - Se comporte!

Sai do hospital, e liguei para meus pais, eles teriam que cuidar de Stefan por mais um tempo. Não dei grandes detalhes de onde eu iria, e isso bastou.

Xx

- Soraya? - César secou a mão no pano, e o jogou em cima do ombro. - Entre.

Entrei, já familiarizada. Senti falta de meu antigo apartamento. Imitei seus passos até a cozinha. César cozinhava, a julgar pela zona que estava.

- Simone?

- Dormindo.. - nervosa, comecei a me remexer no lugar. - César... - Ele cortou um tomate ao meio, e me olhou, ao separar as sementes.

- Desembucha.

- Eu quero engravidar! - soltei tudo de uma vez, foi a primeira vez que falei em voz alta. Ele soltou tudo em cima da pia, e marchou até as cadeiras.

- Você está bem?

- É claro que estou. - bufei. - Eu preciso sentir uma parte de Simone viva dentro de mim, porque eu estou praticamente morta.

- Soraya! - me abraçou. - Isso é maravilhoso!

- Como nós o faremos? - o empurrei.

- Você quer mesmo isso? Não acho uma boa ideia, você está se sentindo pressionada.

Too Close | Simone & SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora