Capítulo 3

936 104 2
                                    

As vezes eu queria contar a verdade pra ela, dizer que na verdade nossos pais não morreram, que eles estão vivos, se escondendo iguais a covardes na Itália enquanto nós fugimos pelo mundo de um homem cruel que a quer por causa de uma dívida.

Não quero nem imaginar o que ele pretende fazer com ela quando a encontrar, usá-la como empregada seria a hipótese mais otimista.

E é por isso que eu luto todos os dias, pela segurança dela, preferia que ela brigasse comigo do quê ele a levasse.

Sem dúvidas eu tinha que a proteger.

Fui pro meu quarto e arrumei uma mala, o mais básico que consegui, na verdade nela tinha minhas coisas de sobrevivência, na madrugada arrumaria mais algumas coisas.

Esperava que não fosse parada pelo aeroporto novamente por causa da quantidade de remédios que tinha na bolsa bem no fundo da mala.

Não podia evitar, ou tomava eles ou não dormia a noite inteira.

Hoje eu não os tomaria, isso era óbvio.

Desci indo para o meu escritório, pronta para terminar de arrumar as coisas quando Carol surgiu com um balde de pipoca e um olhar de cachorro que caiu da mudança.

-Grace.-chamou com a voz calma.-Me desculpa, eu sei que você está só tentando me proteger e eu... eu agi feito uma idiota.-abri os braços para ela que logo se aproximou.

-As vezes eu sou um pouco intensa de mais, eu sei, mas é pelo seu bem.-afirmei novamente.

-Eu sei que você tem medo, mas olha, eu já sou grandinha, posso cuidar de mim mesma.-dizia se afastando, abrindo parcialmente os braços.

Se ela soubesse...

-Eu sei, mas ainda preciso de um tempo pra me acostumar com essa ideia, esta bem?-ela assentiu e então segurou firme minha mão.

-Vem, vamos assistir a um filme.-ligou a televisão.

Eu precisava arrumar o que ia levar do meu escritório, me peguei olhando para a porta do cômodo.

-Não pode assistir comigo agora?-perguntou atraindo meu olhar pro seu rosto. Ela estava com aquela expressão de um filho que só queria a atenção de seus pais.

Como sua irmã mais velha e responsável mais próxima, ela me via como uma mãe e eu sabia disso, havia até desenvolvido um forte sentimento materno com relação a ela.

Sorri.

-Claro que posso.-ela sorriu.

-Vou pegar o refri.-me deu o balde de pipoca e o controle da televisão e se levantou.

Esperei ela voltar para colocar o filme que queria, enquanto esperava passava no noticiário que um homem, atendente de uma loja em um shopping foi morto.

O mais louco foi que ele trabalhava exatamente no mesmo shopping que fomos hoje e na praça de alimentação.

Um arrepio de medo cruzou meu corpo.

Poderia ser... Marcus?

Claro que não! Não vi ele e nem o diabo careca, vulgo seu primo Gael, pelas câmeras.

Eu teria notado algum sinal, ele sempre deixa pistas.

Respirei fundo me acalmando.

-Vamos assistir uma noite no museu, minhas colegas falaram que é muito bom!-ela piscou os olhos animada e colocou o filme.

-No escuro é melhor.-apaguei as luzes e me sentei no sofá ao seu lado.

A pipoca estava boa e o refrigerante gelado, fora que o filme era ótimo, muito descontraído, mas a notícia que eu tinha visto a pouco tempo não saia da minha cabeça e por mais que eu tentasse, não conseguia me concentrar 100% no filme.

Grace - Obsessão Além do tempo [Degustação]Where stories live. Discover now