A agonia de Karine

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A clássica madrugada iluminada da Laugen Cairo se via escurecida por uma nuvem chuvosa, os vitoriosos ginetes traziam seus feridos em uma maca improvisada com troncos e panos invocados por magia até o vale divino que há meses não via um ginete dourado.
A estrada comumente deserta parecia mais tenebrosa do que silenciosa, um frio na espinha fazia os ginetes instintivamente cerrar o punho a ponto de quase despertar os poderes.
Um segundo de distração e Lucas surgiu praticamente do nada em uma labareda verde tirando todos dali para um salão fechado.
- A situação aqui está tensa...- Afirmou ele após se ajoelhar de exaustão.
- Jura?- Respondeu Karine com sarcasmo.
- Vocês não devem saber mas...- Disse ele ignorando completamente.- Há uma governante na cidade agora, ela tem recebido as cartas que os ginetes mandam para os familiares, outro grupo de ginetes estava planejando um ataque mas ela falou que se sentisse a presença de qualquer um por perto iria começar a matar todos os Divinenses.
- Outro grupo?- Perguntou Felipe, o acréscimo mais recente não tinha ideia do que acontecera até ali.
- É Felipe, para sobreviver nós nos dividimos em grupos coordenados, são três grupos de ginetes, um deles deveria estar vigiando o vale divino.- Respondeu James.
- Sim eles estão vigiando mas não podem ajudar sem atrair os errantes, um ginete pediu minha ajuda, ele notou que eu trazia outros ginetes de diferentes partes do mundo usando o cajado do Anastácio, parei minha função para fazer esse favor e não tive coragem de voltar. Por favor me dêem uma boa notícia, todos estão vivos quer dizer que encontraram uma forma de derrotar essas abominações.
- Essa é exatamente a boa notícia que temos para você. Mas em algumas horas eu extrapolei todos os meus limites mais vezes do que posso contar...- Falou Felipe antes de cair seco no chão porém ainda consciente, não sentia mais os membros e foi levado para um canto do salão onde adormeceu em companhia de outros ginetes igualmente exaustos.

Algumas horas depois antes mesmo de abrir os olhos ele ouvia a explicação de Benjamin ainda sentindo sua mente fora do corpo.
- Recapitulando temos algumas formas de ferir a armadura deles, entre elas podemos contar com magia sendo a menos eficaz, o modo bersek parece não ser afetado pela fome deles, é capaz de quebrar com facilidade a defesa mas em compensação ele coloca em risco até nossos iguais. Isso quer dizer que única forma de matar esses invasores de mente é usar a condução, nós já sabemos que um ginete pode despertar a condução em outros, Felipe conseguiu fazer isso em 10 de nós, se esses dez passarem para mais dez de cada teremos um exército capaz de matar errantes sem precisar de uma batalha mas o nosso problema está agora nos flagelos...
- Você está um caco!- Afirmou Roger sentado em frente a Felipe.
- Como você chegou aqui?
- Foi você que chegou depois, o Lucas trouxe vocês pra cá, estamos acampando perto do vale divino há umas horas. É a primeira vez que vejo um ginete desmaiar de exaustão.
- Só aconteceu duas vezes, no caso essa é a terceira. Mas você falou certo, são poucos que usam o poder até o limite, eu não sei o que tem de errado comigo.
- Ok...- Falou Roger pouco antes de desviar o olhar para ver novamente a explicação de Benjamin.- Eles são muito bons né, eu invejo essa união e fico feliz por que faço parte disso agora.
- Não se iluda tanto com os ginetes, são só um bando de babacas com alguma síndrome de protagonista.
As palavras de Felipe penetraram no peito do pequeno Roger, sem um pingo de sensibilidade Felipe lançou isso mas mudou sua fala em seguida.
- Eu não quis ser agressivo... desculpa.- Justificou.- É que, não há nada de especial em ser ginete, são pessoas com um problema a mais, ou uma responsabilidade a mais. Não os veja como eles se vêm isso vai acabar com você.
- Tá bom, mas temos uma aposta né, que você perdeu...
- Perdi nada eu não usei mais do que a luva da minha armadura.
- Mentira, você lembra que usou uma das minhas estrelas pra desviar as outras né? Ela também conta.
- Isso é ridículo, a estrela não era minha eu só usei a luva, vai lá pode me chamar de papai! Anda to esperando.
- Vai ficar esperando por que eu ganhei a aposta...
- Da pra parar?- Comentou Karine se aproximando.- O restante dos ginetes chegarão em breve, tem cerca de cinquenta a caminho, o Benjamin está preparando mais treinamentos para a condução, estimamos que em menos de um mês e meio a Laugen Cairo esteja livre novamente.
- Mês? Achei que com a nova habilidade dos ginetes nós iríamos reunir todo mundo em um ataque frontal.- Respondeu Roger.
- Eles têm as duas vilas como refém, épreciso coordenar tudo, principalmente por que nós vencemos meia centena de errantes, nosso inimigo vai ficar mais cauteloso que nunca, precisamos esconder os outros ginetes que não tiveram acesso à condução, resgatar as pessoas e encontrar formas de multiplicar nossos números.
- Então o que nós faremos?- perguntou Felipe erguendo-se para sentar.
- nós? Você precisa conhecer sua filha, depois vai se tornar parte da linha de frente multiplicando a quantidade de ginetes com a condução pra depois ser o pai que ela merece. Eu vou equipar os ginetes prateados com mais equipamentos, os ginetes vão resistir e o primeiro passo é retomar o vale divino e protegê-lo com nossas vidas. Isso vai chamar a atenção do inimigo mas também vai mandar uma mensagem.
Felipe ignorou cada palavra que veio depois de "você precisa conhecer sua filha" pois entrou no limbo da pergunta sobre como contaria para Carol que teve uma filha.
Sua mente divagou e ele se levantou para ir até Laura.

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