Suspiro de Recomeço

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 Há muito o que se pensar quando o relógio marca 5:15 da manhã e seus olhos se notam em uma ponte extensa sobre um rio cercado de estrada e vista para a cidade. Meus pés já andaram o suficiente pelas mesmas ruas, agora se recusam a sair do chão quando se sentem acima do solo cimentado por dentro do solado emborrachado do sapato desgastado. Todo o corpo está inquieto, sem tempo para sincronizar as agonias.

Sei o que sinto, mas não me obrigo a nada, não me impeço de pensar em nada, enfrento de uma vez o furo no bolso da jaqueta, azul surrada, como o cenário que me faz insistir em tragos venenosos para assistir, com descaso, a fumaça ardente das narinas sumir em velocidade visível junto aos faróis baixos. Hora em que me vejo largar os fones de lado, tudo é confortável ao som de ruídos naturais. Buzinas, portas de aço se abrindo, sirenes escandalosas. Ao menos se transparece ser, enquanto abafado pelo som da água. Meus pulmões se enchem, e o vento me avacalha. Meus pensamentos sabem que são passos vazios até tocar o solo grudento do mundo, e por pouca razão, considerados os últimos. Os últimos pisados em poças de chuva, a última sensação de perder tudo, a última risada, lembranças de ensino médio, saudades maternas, e o fim dos dias de fracasso onde não consigo controlar meus próprios sentidos.

Me falhando a ação, como salvação tenho algo que está além de mim. As vontades. As vontades honestas são desiguais, já quis muitas coisas, dinheiro, status, fama, ela, outra e outra vez ela, foi fácil me alto usar, usar os meus novos sonhos como empolgação para aguentar todos os passos repetidos e a droga dos mesmos lugares e pessoas.

Apesar de nada ter feito sentido durante todos esses anos, meus pulmões resolveram continuar se ferindo por um maço novo e se curando com o vento que não é o mesmo de ontem, o mesmo que talvez tenha vindo junto a um suspiro de alguém que desistiu de desistir, e que como uma mão se orgulhando do meu suspiro de recomeço, balançou meus cabelos por me notar de volta à estrada.

https://medium.com/@emilyevellyn

FALA ABSTRATAWhere stories live. Discover now