Capítulo 77

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Cecília Moraes foi enterrada aos 42 anos na cidade de Oxnard, no estado da Califórnia, no dia 12/06/2023. Morreu devido a uma parada cardíaca causada por uma hemorragia interna pós-parto. Deixou dois filhos, e seu posto de General do Exército Brasileiro, vago. Sua cerimônia foi a coisa mais honrosa e fúnebre que presenciei na vida. Fernando e Beta mantiveram-se ao meu lado, como se esperassem o momento em que eu me perderia em lágrimas, e isso de fato aconteceu bem ao fim da liturgia, quando o caixão da mamãe foi completamente fechado e coberto, num ato sepulcral marcado por alguns tiros e gritos de guerra.

Nos instantes finais do culto senti que o remédio que Axl havia me dado diminuiu consideravelmente meus batimentos, mas em compensação, arrancou um pouco do peso que eu carregava sob meus ombros naqueles últimos dias, me deixando um tanto lesada e cabisbaixa, sem querer trocar qualquer palavra com ninguém. Também não estava sequer a fim de observar as pessoas que ali estavam ou deixavam de estar. Tudo que meus olhos realmente observaram, durante todo o funeral, foi mamãe e Oliver.

O final daquele entardecer verânico tornou tudo ainda mais difícil de digerir. O céu arroxeado e límpido fazia todo o cenário ficar mais e mais melancólico.

Vi Axl cobrir o rosto dorminhoco de Oliver enquanto saíamos do quartel rumo ao carro de James. A cada passo que eu dava uma pessoa fardada e diferente vinha até mim oferecendo-me um abraço e algumas palavras de conforto, que na realidade, só aumentavam minha mais genuína tristeza fria e silenciosa.

Os dois seguranças de Axl aproximaram-se de nós assim que saímos do quartel. Para Axl todo cuidado parecia pouco. Ele definitivamente não queria que ninguém nos importunasse ali.

Antes que eu pudesse adentrar o automóvel que nos levaria para Malibu, vi o reflexo de alguém que eu achava que conhecia, aproximando-se afobadamente de mim.

-Ah, não! - Axl rangiu os dentes, desgostoso.

Era Hugo. Axl havia reparado na presença dele antes mesmo de mim. Suspirei e tentei ignorá-lo, mas ele parecia estar ali somente em meu aguardo. Ele não estava na cerimônia, e era óbvio para mim que aquilo era o certo a acontecer.

-Porque não me deixou vê-la? Este é o bebê? - Hugo perguntou afobado.

Ele com sua barba, agora exuberante, aproximou-se de mim e de Axl. Axl estendeu a mão para que Hugo se mantivesse longe de Oliver, que estava em seus braços. Eu mal o olhava. Hugo para mim era um alguém indiferente. Um estranho.

-Você não tem nada a ver com a nossa vida, Hugo - Falei, ríspida, tentando desviar-me dele, e ir rumo ao carro.

-Deixe-me vê-lo! Ele é meu filho! - Insistiu Hugo.

Minha consciência vagueava longe e um pouco lenta. Certamente ainda era efeito do remédio de mais cedo. Olhei ao redor, conseguindo notar algumas pessoasdo outro lado da rua com câmeras fotográficas miradas para Axl Rose.

E tão logo vi Axl avançar no rosto se Hugo num soco ultra rápido e certeiro. Hugo cambaleou sentido ao carro e apoiou-se no capô do automóvel, segurando o queixo atingido.

-Dê o fora daqui! - Bravejou Axl Rose.

Retirei os óculos da face e tentei localizar Oliver. Eu não sabia como, mas Beta já estava com o bebê dentro do carro, no banco carona.

-Ei, você me agrediu! Eu fui agredido! - Hugo resmungou num grito um pouco agudo, olhando para as pessoas ao nosso redor, e inclusive para os paparazzis.

Uma mão rígida e firme empurrou-me para dentro do carro, para o lado de Beta. E então Axl entrou em seguida, sentando-se no banco da frente do carro, ao lado de James. Peguei Oliver do colo de Beta depressa, e no instante que James deu partida no carro, vi Hugo cambalear pela calçada, à frente do quartel, ainda tumultuando.

-O que ele fazia aqui? Não entendo... e Axl, você devia ter tido cabeça... Não pode simplesmente bater nas pessoas assim, por mais que ele merecesse... - Beta resmungou quando já estávamos longe o suficiente daquilo tudo.

-Beta, não vamos ter essa conversa outra vez - Axl disse, sério.

-Havia fotógrafos lá, você sabe como eles são! - Beta insistiu, com uma voz cheia de preocupação.

-Beta, por favor, não quero mais ouvir sua voz! - Axl disse, exibindo certo nervosismo em sua voz, o que calou Beta instantaneamente.

Ajeitei Oliver em meus braços e o chacoalhei devagar, tentando simplesmente esquecer aquele episódio. Eu estava certa de que todo o funeral da mamãe já havia sido doloroso o suficiente para mim.

Her soulmateWhere stories live. Discover now