Capítulo 112

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Adentramos o saguão quieto do prédio. A recepcionista nos atendeu bem depressa, apesar de ter reconhecido Axl. Era sempre engraçado ver como as pessoas reagiam na presença dele. Já passava das três da madrugada quando finalmente adentramos o apartamento novo, que ainda cheirava a mobília recém-comprada. Axl pendurou-se no telefone dizendo que ia pedir algo para comer, pois estava faminto. Apressei-me a ir tomar um banho, e por mais que eu quisesse evitar, eu já sentia muito sono.

Assim que saí, vi Axl receber na porta, uma caixa grande e uma garrafa de espumante. Ele caminhou para a cozinha e eu o segui silenciosamente, curiosa para saber o que comeríamos. Vi ele tirar o casaco de moletom e expor sua pele branca tatuada. Acendi um restante do baseado no canto dos lábios por puro hábito. Enquanto fumava vi Axl abrir o espumante e colocar em duas taças.

-Ao apartamento novo! - Ele ergueu a taça e brindamos um brinde com um sorriso sem graça.

Beberiquei o espumante e logo apaguei a maconha na pia da cozinha. Axl ajeitou-se frente aos seus tacos mexicanos e beliscou um deles e eu o acompanhei discretamente.

-Como você está? - Axl quebrou o silêncio esquisito que perdurou-se entre nós.

-Acho que podemos pular essa balela, Axl - Falei, largando meu taco pela metade de volta no prato, irritada com sua pergunta estúpida.

-Estou arrependido pelo que fiz, Juli, e preciso que acredite em mim - Ele murmurou, também largando sua comida em seu prato.

-Eu acredito - Respondi.

E vi os olhos verdes dele correrem suavemente pelo meu rosto, provavelmente estudando se eu falava a verdade ou não.

-Você me perdoa? - Axl perguntou com a voz mais macia que de costume.

-Não - Respondi, sem pensar muito. Eu me sentia machucada demais para perdoá-lo.

Ele soltou o guardanapo das mãos e recostou-se na cadeira da mesa de jantar, afastando-nos. Vi-o suspirar e olhar ao redor, como se procurasse a resposta que queria ouvir.

-O que posso fazer para conseguir seu perdão, Juli? Diga-me... qualquer coisa...

-Não há nada que possa fazer hoje, nem nunca...

Vi sua expressão transformar-se em indignação e um pouco de revolta. Ele levantou-se e rodeou a mesa, inquieto.

-Sinto como se você não se importasse comigo - Axl disse, refletindo exatamente o que seu rosto irado sentia.

Eu também me levantei, levei os pratos até a pia...

-É ruim, não é?! Esse sentimento... - Falei.

Ele fungou, irritado - Não está me levando a sério! Porque não está me levando a sério?

-Axl, eu não vou falar o que você quer ouvir! Eu entendo que você não planejou me trair, mas traiu! E eu não consigo transformar a mágoa que sinto agora em perdão... Ainda não...

Ele riu transparecendo desespero em sua voz. Andou em círculos.

-Eu te perdoaria, Juli - Ele disse.

-Ah, por favor! - Resmunguei, incrédula - Esse não é o ponto, eu jamais faria uma cagada dessas... E se fizesse, jamais deixaria que você descobrisse sozinho!

-Eu ia te contar...

-Quando? Na nossa lua-de-mel? - Falei interrompendo-o grosseiramente.

Ele suspirou. Por mais que ele tentasse, nada poderia mudar a minha posição. Senti ele se aproximar de mim, parando bem a minha frente. Estávamos a alguns centímetros de distância um do outro e eu já podia sentir seu perfume.

-Devemos dar um tempo pra nós... - Sugeri, falando devagar.

-Quanto tempo?

-Eu não sei, não existe uma fórmula... - Falei depressa.

-E se até lá você encontrar outra pessoa? - Axl questionou e senti sua voz parcialmente travada.

Eu não respondi. Encarei-o nos olhos verdes, querendo gritar, a plenos pulmões, que eu nunca, em hipótese alguma, ia encontrar alguém que eu quisesse mais que ele. Ele era a pessoa dos meus sonhos. O homem com quem eu queria estar a todo momento. Era ele. Não era mais ninguém e jamais seria. Ele estava tão próximo de mim, que senti que ele sabia exatamente o que eu pensava naquele segundo. Encarei-o nos olhos, depois na boca, e sem que eu pudesse fazer algo contra, ele segurou-me na nuca e puxou-me para um beijo urgente que tirou-me do eixo e me colocou num estado de atordoamento. Ele empurrou-me contra o batente da porta sendo completamente imparcial. Senti nossos lábios dançarem em uma sintonia sem igual, como sempre. A sensação de reconexão era um doce suspiro de familiaridade e calor. Toquei-o no rosto, guiando-nos devagar, num beijo intenso que eu não queria parar. Ele arqueou-se levemente em minha direção e senti o meu corpo ser erguido pelas suas mãos firmes, que puxavam-me pelas nádegas. Enrolei minhas pernas em seu tronco e de repente eu estava extremamente vulnerável, embora confortável e gostosa. Ele parou devagar nosso beijo e passou a beijar-me o rosto, depois o pescoço, depois a região da orelha que ia de encontro à nuca. Minhas mãos adentraram seus cabelos enquanto eu sentia ele segurando-me na bunda com as duas palmas abertas. Por mais que eu soubesse que deveria me afastar, eu não queria. Meu corpo levitou devagar em seu colo e ele me levou direto para o quarto. Eu não quis parar e ele muito menos.

[...]

Assim que abri meus olhos vi o peitoral nu de Axl bem à minha frente. Levantei-me quase que num movimento imperceptível, que não o acordou. Segui com passos silenciosos até a cozinha e tomei um copo grande de água. O relógio marcava 8 da manhã. E a dor de cabeça era grande, mas não tão grande quanto o arrependimento que eu senti naquele segundo. Que merda, Julie! Quer merda! Paguei um par de roupa e vesti-me bem rapidamente saindo daquele apartamento num pulo.

Perambulei pelas ruas de Los Angeles refletindo o que seria melhor a se fazer, mas pensar na noite anterior me causava um misto de sentimentos que eu não sabia como lidar, e por isso acabava desfazendo-me daquele martírio.

Eu tomava café no Starbucks quando senti meu celular vibrar e o nome de Axl brilhar ali. Meu corpo todo estremeceu e ignorar todos aqueles toques foi extremamente difícil. Mais alguns minutos se passaram e novamente meu celular tocou. Eu não ia atendê-lo e também não ia voltar para o apartamento tão cedo para confrontá-lo. Eu estava amedrontada com a ideia de conversarmos sobre o acontecido. Perambulei pelas ruas de Los Angeles um pouco incomodada por estar sem banho, sem roupa decente ou sequer ter escovado os dentes. Tudo intensificou-se à medida que notei ser percebida por pessoas por todo ao meu redor. Acendi um cigarro e resolvi me tranquilizar perante aquilo tudo, afinal, pior do que estava não poderia ficar. Enquanto procurava um jeito de matar o tempo, passei frente a uma concessionária. Observei os carros da vidraça e namorei alguns deles, mesmo sem entender absolutamente nada de carros. Um vendedor logo pescou-me ali e ficou por um longo tempo tentando me convencer de coisas que eu não entendia, como cilindradas, calibragem, bateria e fluidos. Apenas acenei e fingi familiaridade.

Era pouco mais de 2 da tarde quando adentrei o saguão do meu novo prédio e  recepcionista devolveu-me meu molho de chaves. Aquilo enfim me confirmou que Axl já não estava ali.

Her soulmateWhere stories live. Discover now