2. Sete chaves

14 0 0
                                    

Érico não esperou o despertador tocar. Já estava acordado quando a luz de seu ID se acendeu e tocou a versão instrumental de Sweet Dreams (Are Made Of This), outra canção clássica de seu planeta natal. Não conseguia conter a ansiedade por ter encontrado uma Decifradora e por estar a um passo de respostas.

Parou em frente ao espelho e levantou o braço direito, tentando ver se o músculo desenvolvera.

— Nota mental #11: fazer mais exercícios! — disse Érico para seu gravador interno.

Cansou-se de olhar para o corpo magro e vestiu a camisa cinza com a touca caída para trás, depois a calça, prendeu as fivelas das botas confortáveis para caminhada e, por fim, vestiu a jaqueta vermelha preferida, dada por Vexel quando ele completou dezoito anos. A irmã conhecia seu gosto para roupas, ele tinha que admitir. Desceu os olhos para as holofiguras de super-heróis sobre a cômoda. A cadela Laika girava em um movimento de ataque em looping eterno.

— É hoje, Laika! Minha primeira caça ao tesouro! Ou quase isso...

Acima da cômoda, os pôsteres dos caçadores de Relíquias em poses heroicas que enfeitavam as paredes de pedras rejuntadas o abasteceram com mais energia ainda.

Na cozinha, encontrou Vexel já acordada.

— Você nunca vai acordar mais cedo do que eu, Érico — riu a moça, estendendo-lhe o copo. — Agora, bebe isso, vai te dar energia pro resto do dia.

— Ou uma caganeira, como naquela vez com os cogumelos do Vale de Cima — disse Miro, com sua cara de quem odiava acordar cedo. — Nunca mais experimento suas vitaminas nojentas. Da última vez, fiquei cheio de bolhas!

— Medo de tomar esse negócio, Vexel... — disse Érico com uma careta.

— Bebam agora! Enquanto vocês apreciam essa maravilha fitness, eu vou falar com o líder da vila.

Érico tomou um gole da gororoba e quase engasgou. Miro puxou a sua e jogou sobre uma planta em um vaso do canto, recebendo de Érico seu olhar de censura.

— Que foi? As plantas precisam de energia — gargalhou Miro.

Os irmãos partiram após o retorno de Vexel com a permissão do líder de Planalto Castelar, vila onde viviam, que era território dos nobas — espécie semelhante a humanos, mas com corpos revestidos de exoesqueletos, verdadeiras muralhas de resistência. Felizmente, os nobas aceitavam pacificamente a presença de outras espécies em seus territórios, embora os tratassem com rédea curta. Vexel estava acostumada a relatar todos os seus passos aos líderes da comunidade, enquanto Érico e Miro preferiam cuidar de suas vidas sem dar muita satisfação.

Com o mapa ativo em seus olhos, Érico deixou a rota ligada e eles caminharam quase um dia inteiro por tantos lugares de Miesac que ele jamais visitara, que, em certo momento, achou estar em outro planeta. Vales de lama, lixões, planaltos cercados por formações rochosas, abismos onde lixos espaciais e detritos das duas luas eram acumulados pelos limpadores de dejetos espaciais.

— Lembra do seu primeiro emprego como limpador, Érico? — perguntou Vexel, ajustando o zoom de seus olhos digitais para analisar o perímetro pelo qual passavam.

— Prefiro esquecer — respondeu Érico, agradecendo aos astros por ter aprendido a pilotar naves e conseguir um novo emprego de manobrista, embora aquela estivesse longe de ser a profissão de seus sonhos.

Miro reclamou mais da metade do caminho por não poderem pagar transportes que os levassem mais perto do vale, enquanto Vexel tentava entusiasmá-los.

No final do primeiro ciclo diário, eles passaram por um acampamento no Vale da Lua, uma vasta planície entrecortada por fendas e abismos.

Prévia de Absolutos: Sinfonia da Destruição - Livro 1 | Rodolfo SallesWhere stories live. Discover now