21 de dezembro de 2022

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"Oppa, o que vamos pedir para comer? Aqui perto tem um restaurante de samgyeopsal muito bom. Podemos pedir pelo aplicativo e comer em casa." Sua namorada diz, mas ele está aborrecido, prefere não responder. "Oppa?" Ela chama atenção dele. 

"Você não devia ter vindo aqui. Já disse que não é bom." Ele diz sério ao caminhar ao lado dela pelo corredor da empresa. "Aqui é o meu trabalho, você não pode aparecer aqui sempre que quiser. Precisa me avisar antes." Ele não estava sendo rude, mas, talvez, a forma vazia como disse, indicou sua desaprovação.

"Eu quis fazer uma surpresa." Ela responde chateada. "Por que você tem sido tão rude ultimamente?" 

Ele coça as sobrancelhas de um jeito ansioso, e então, coloca o dedo indicador abaixo do nariz. Um sinal claro de ansiedade e desconforto. Ele não quer iniciar uma discussão, nem ali nem em lugar algum. Ele está cansado das brigas.

"Vamos conversar em casa. Ok?"

"Você sempre procrastina os problemas. É impossível conversar com você!"

Ele não demonstra nenhuma reação a fala dela. Sabe que está sendo cruel, e que nos últimos tempos não tem sido um namorado agradável. E os motivos são claros para ele, não há nada a ser encoberto, mas ele não consegue lidar com tantas coisas ao mesmo tempo. O álbum que precisa ser finalizado, sua namorada precisando de atenção, os seus pais que ele não vê já há algum tempo, seu irmão que ficou noivo e ele não pôde ir ao noivado, o aniversário dela... Principalmente o aniversário dela. É amanhã. Já se passaram seis anos, mas ele nunca esqueceu. 

São tantas coisas em sua mente que ele não consegue administrá-las. Mas uma delas ganha seu foco quando ele avista Jimin saindo do estúdio de um dos produtores. Ele está falando ao telefone. E mesmo que há alguns passos de distância, ele escuta a voz do seu dongsaeng dizer:

"Ya! O que vocês vão fazer amanhã? Vão comemorar com a Sasha?"

Seu coração para por alguns segundos. O nome que ele não ouvia ser dito há tanto tempo. O nome que ele mais amava, mas não ousava dizer.  

"Acho que não vou poder ir, tenho que gravar umas coisas e tenho uma reunião. Mas você pode passar aqui na empresa para buscar o presente dela?" Jimin continua falando sem perceber que ele se aproxima. 

Seu coração voltar a bater freneticamente, como se estivesse gritando aquele nome com todo o seu ser. 

"Ah, Suga hyung!" Jimin se curva para ele educadamente. "Noona!" Ele se curva para a namorada do seu hyung. 

"Jimin-ah, preciso falar com você. Quando chegar em casa te mando uma mensagem."

Naquela fração de segundo ele já havia pensado no que faria, no que pediria a Jimin. Ele não é impulsivo, nunca foi esse tipo, mas quando se trata dela, as coisas são tão diferentes. Sempre foram. E sua mente está tão instável, que mesmo depois dos anos longe, ele ainda é capaz de voltar ao seu antigo eu e agir como se ainda pudesse fazer algo por eles. Culpa ou amor, não importa. A distância construída entre eles foi uma barreira que apenas serviu para aprisionar seu amor. 

"Ne. Vou esperar."  

Ele sabe que não deve fazer nada do que está pensando. Mas está decidido. Sabe ser teimoso quando quer, sabe que não desiste quando pensa em algo. Os risco são muitos, mas não há o que fazer. Seu coração está gritando no peito. A urgência de anos infinitos de um calar involuntário finalmente se libertando e gritando. 

Aquela noite estava sendo difícil. Talvez seja egoísmo meu, ele pensa. Mas há egoísmo no amor? Ele tem culpa de não conseguir reprimir algo que está tão vivo que o queima por dentro? É incontrolável. É impossível deixar de amar alguém que até as células do seu corpo reconhecem. O som do  nome dela causa um impacto diferente nos seus tímpanos, não é como os outros nomes. É como se a cada vez que o nome dela é proferido, uma dose de amor líquida é derrama em seu coração, aquecendo-o, fazendo-o lembrar de todas as promessas, de todos os segredos trocados, dos olhares cúmplices, das mãos dadas nos momentos difíceis, das risadas compartilhadas... Amor e somente amor. Mais, muito mais do que ele é capaz de suportar. 

E mesmo após a discussão com sua namorada, ele não desisti do plano estúpido que arquitetou em menos de três segundos. Ao ouvir a porta do apartamento batendo, ele liga para Jimin. o som da chamada ecoa diversas vezes, e ele pensa que não será atendido, mas então ouve a voz sonolenta e irritada do outro. 

"Quem é?" 

"Jimin-ah?"

"Ah hyung, você disse que ia ligar quando chegasse em casa. Sabe que horas são?"

Ele olha para o relógio digital em cima da bancada da cozinha. Duas e dezessete da manhã. 

"Por que está dormindo a essa hora? Você sempre dorme quando está amanhecendo." 

"Eu tenho uma reunião às dez da manhã e outros compromissos depois. Preciso estar cedo na empresa. O que foi? Aconteceu algo?"

Pela voz mais limpa e o farfalhar dos lençóis, ele sabe que seu dongsaeng está mais desperto. 

"Amanhã é aniversário dela." Ele não tem coragem de pronunciar o nome. Teme em perder os pedaços de si mesmo se o fizer. 

Um minuto de silêncio é feito entre eles, até que o outro entende. 

"Hyung, você não devia pensar nisso." 

"Faça um favor para mim." 

O outro não fala nada, apenas ouve sua voz aflita. 

"Eu vou deixar o presente dela com você, preciso que você mande junto com o seu. Eu ouvi você falando com alguém por ligação mais cedo."

"Hyung—"

"Por favor." Ele o interrompe. 

"Você não deve fazer isso. Como vai mandar um presente para sua ex-namorada, estando namorando agora. E se sua namorada descobrir? Isso não é certo."

"Por favor, Jimin."

"Hyung, não me peça isso." 

"Se você não fizer, vou pedir ao Taehyung. Sei que ele não vai me negar." 

Uma sequência de palavrões é ouvida do outra lado da ligação. 

"Ele é irresponsável, por isso não vai te negar."

"Ele sabe como me sinto, é diferente." 

Taehyung o entenede, passa pela mesma situação. A diferença entre eles é que o Kim sempre dá murros em ponta de faca. Mesmo sangrando e se ferindo cada vez mais, não desiste. Valoriza muito mais o amor do que ele próprio, que pôs fim para eles sem uma grande justificativa. Ele se arrepende. Podia ter lutado mais, se sacrificado mais, tentado mais, ter sido mais paciente. Ele sabe dos erros que cometeu. 

"É só um presente. Não tem nada de errado nisso." 

"Você sabe que está se enganando, mas eu não vou ficar te dizendo todas as coisas que você já sabe."

A conversa chegou ao fim. Jimin fará o que ele pediu, eles dois sabem disso. 

"Hyung, só uma pergunta antes de desligar."

"Hm." Ele já estava em pedaços. Sabe que está cometendo um erro que pode ser irreversível, mas, então, por que ele não consegue voltar atrás? 

"Por que isso? Por que isso agora? Já faz tanto tempo e você se manteve longe. Por quê?"

Ele respira fundo. Sente o nó se formar em sua garganta e então vê os olhos dela quando fecha os seus. Ela está ali, sempre esteve. Tão perto, mas tão longe. Ela está impregnada em cada parte da sua mente e da sua pele. Nunca se foi de fato. Ele a guarda dentro de si para que nunca parta.

"Porque eu não suporto mais." Ele responde sincero.

GlimpseWhere stories live. Discover now