25 de dezembro de 2022

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O celular toca em cima da mesa de jantar. É um número desconhecido. Ele pensa em não atender, já que sempre estão descobrindo seus dados pessoais, pessoas que ele não conhece fazendo ligações e mandando mensagens. Mas algo dentro de si insiste para que ele atenda só dessa vez. Ele pede aos céus que seja ela. Fazem três dias desde o aniversário dela e ainda não obteve uma resposta.

Ele atende a ligação, mas ninguém diz nada. Só há o silêncio. Então ele pensa em desligar antes que a pessoa do outro lado da linha diga qualquer coisa, mas aí ele escuta aquela respiração trêmula. É ela. Ele sabe que é. Porque esse mesmo som é o que ela fazia depois de ficarem tanto tempo longe um do outro. Ele a reconheceria de qualquer forma. Até mesmo sua respiração do outro lado da linha. E ele suspira aliviado. É ela.

"Oi." A voz dela soa baixa, tímida como ele nunca tinha ouvido. "Sou eu."

"Oi, B. Sou eu." O alívio transborda pelas suas palavras.

Sou eu era a forma como eles se cumprimentavam pelas ligações para se identificarem. Sou eu. Lados diferentes da mesma moeda.

O que ele deve fazer? São tantas as coisas que ele quer dizer, que precisa, na verdade. Como deveria começar? Senti sua falta todos os dias. Acho que ainda te amo. Meu coração está chorando por ouvir sua voz outra vez. Eu não aguento mais a distância. Preciso te ver. São os pensamentos que atravessam as mentes dos dois, como se eles compartilhassem o mesmo cérebro.

Existe um muro que os separa. Um longo e largo muro construído durante os últimos seis anos. Barreiras emocionais calcificadas, feitas na tentativa desesperada de se protegerem, mas que no fim das contas só serviu para prende-los dentro de si mesmos.

Ele pensa que deve dizer alguma coisa, mas tem medo que sua boca haja por vontade própria e derrame sobre os ouvidos dela toda a ânsia que tem sentido incontrolavelmente nos últimos dias. A impulsividade parece querer corrompê-lo.

"Como você está?" A voz grave dele soa incerta devido a força ferrenha que está fazendo para se controlar.

"Bem. Obrigada pelo presente, Y. Eu amei." Ele jura que pode visualizar o sorriso dela crescendo em seu rosto ao tempo que fala. Aquele lindo sorriso largo que mostrava seus dentes frontais salientes. "E você, como está?"

"Estou bem. Feliz agora por te ouvir." Ele cede um pouco.

A quem os dois querem enganar? Estão tentando não colidirem, mas soltaram o freio quando decidiram se conectar outra vez depois de todo esse tempo. Eles sabem o quanto sentem falta um do outro e é por isso que estão nessa ligação.

"Feliz natal." A voz dela quase não é audível. Não era vergonha, ele sabia. Timidez nunca foi uma característica dela. Ele se pergunta mentalmente se é o peso do passado recaindo sobre seus ombros.

Ouvir a voz dela e segurar os próprios sentimentos que o inundam, é como segurar uma represa com uma mão. Impossível. Por isso que o amor lhe escapa.

"Feliz natal, Jagi." Imediatamente ele fecha os olhos ao sentir o impacto da palavra. Havia prometido para si mesmo que não faria nada imprudente, mas ali estava ele, pondo abaixo todas as barreiras impostas entre os dois. Uma manobra perigosa, não dava para medir as consequências agora que o primeiro passo para o caos já estava dado.

Os corações retumbavam nos peitos, ansiosos para serem ouvidos. Um chamando o nome do outro de forma aflita.

"Está falando com sua namorada?" O irmão dele pergunta inocentemente sem saber que havia conduzido os dois para o olho do furacão.

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⏰ Last updated: Sep 12, 2023 ⏰

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