Capítulo 4: Solidão e Fogueiras

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Esse capítulo acontece simultaneamente com o capítulo 3. Eu sei que muitos traduzem Maito Gai como Might Guy, mas eu preferi adotar a romanização do nome.

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Não há vermelho na sua paleta

Capítulo 4: Solidão e Fogueiras


Gai encontra Kakashi no terceiro campo de treinamento. O sensei do time sete, à distância, parece absorto em seus pensamentos, olhando fixamente para uma fogueira sem dar sinais de que o notara. Mesmo quando Gai está quase ao seu lado o Hatake não move um músculo em reconhecimento ou dá sinais de que vai cumprimentá-lo.

Mesmo assim, o jonin se aproxima passo após passo. Ele não tem nenhum discurso preparado e, de qualquer maneira, não imagina que palavras prontas possam alcançar um homem como Kakashi.

Quase ao seu lado, Gai cautelosamente observa a falta do colete jonin. Se não fosse alguém tão conhecido e de uma fisionomia distinta poderia se passar por um civil comum na vila. A hitaiate, por outro lado, parece incompleta em sua testa. Ele nota o símbolo da folha arrancado, protegendo o sharingan apenas com o tecido azul nu sem o adorno.

— Kakashi. Vim assim que pude. — E assim que consegui encontrá-lo, também, pois Kakashi não parecia querer ser detectado e ficou aparentemente vagando por um bom tempo na vila sem um destino certo.

Apesar de reconhecer sua presença, o sensei do time sete não responde ou se move.

Gai olha para as estrelas do céu com um suspiro pesado. Não faltava muito para o amanhecer e ele se pergunta há quanto tempo Kakashi está ali, exatamente, absorto daquele jeito.

O jonin senta-se na grama ao seu lado, próximo o suficiente de Kakashi para tocá-lo no ombro se estendesse a mão. Ele percebe os restos mal queimados de uma capa laranja de livro, do zíper de um colete jonin e da placa com o símbolo da folha carbonizada.

Se livrando de coisas substituíveis porque perdeu algo insubstituível, Gai pensa.

— Está desistindo?

Kakashi não responde, conectado com as chamas.

O colete parece agora apenas uma montanha de cinzas. Os restos do Icha Icha estão quase completamente indetectáveis, sobrando apenas um pequeno pedaço da capa que escapou das chamas. A placa é um metal enegrecido e quente.

— Não é sua cara — Gai emenda.

Ele continua em silêncio, absorto do mundo. A mesma sensação de vazio quando um colega jonin empurrou-o para longe de sua aluna volta ao seu peito. A mesma após a saída de Mebuki. E talvez assim ele permaneceria até o fim.

— Me ignorar é um combustível, você sabe que eu vou continuar simplesmente falando o tempo todo por dias. Eu sou capaz de ir morar na sua casa.

Finalmente, Kakashi sai de sua caixa e o olha demoradamente antes de se desviar para a fogueira. É um esforço tremendo montar as palavras, permitir que elas saiam. Sua língua parece papelão dentro da boca.

— Sakura se foi.

A informação não é nova, mas ele a diz mesmo assim e supõe que somente isso seja suficiente para ser compreendido. Sakura se foi, ele é um sensei de merda e não pode se perdoar. Sakura se foi e todo mundo que é ligado a ele de alguma forma acaba morrendo por sua culpa.

Não há vermelho na sua paletaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora