Capítulo Onze

1 0 0
                                    

Quando Lucas já estava devidamente entregue em sua faculdade, Sophia dirigiu até seu apartamento. Lívia já devia estar estudando também,. Então ela teria muito tempo para pensar. O que ela obviamente não queria. Ela nunca conseguiu pensar em seus próprios sentimentos, já que estava com objetivos muito concretos desde a infância. Ser impulsiva nunca foi algo dela, por isso ela estava intrigada demais sobre seu próprio comportamento. A mulher se jogou no sofá e abafou um grito em uma das almofadas do sofá.

- Odeio quando as pessoas estão certas porque na maioria das vezes eu estou errada. E todo mundo estava certo sobre eu precisar de vida social.

Ela abraçou a almofada e se deitou de costas no sofá. Lívia tinha deixado o rádio de casa ligado e estava tocando uma retrospectiva bem antiga. Sophia não escutava rádio de músicas, entretanto ela não se levantou para desligá-lo. Tocava Sexy Yemanjá. O clima bom do toque da música a fez pensar ainda mais em Lucas. Ela pensava no sorriso dele. Ela pensava nas ruguinhas que se formavam embaixo de seus olhos quando ele sorria. Ela pensava no quão estiloso ele ficava quando estava com todos os piercings nas orelhas. Ela também pensava na voz aveludada dele. Sem contar nos beijos. Era a criatura que beijava melhor em toda face da terra.

Quando a música parou e a voz do radialista soou, Sophia acordou para a vida e se levantou, começando a procurar coisas dentro de casa para arrumar. Em menos de trinta segundos, Ragatanga começou a tocar, o que atiçou a curiosidade dela.

- Hum, eu me lembro dessa...

Ela tentou se lembrar da coreografia e estava surpreendemente afiada. Ela passou os três minutos e meio dançando e se sentido a membro perdida do Rouge, quando percebeu que estava começando a se divertir fora do trabalho ou dos estudos. Foi algo que ela, não fazia há anos. Então ela aumentou o volume do rádio e tentou se deixar levar.

Na UNB, Lívia e Lucas estavam sentados um do lado do outro, revisando uma das partes do trabalho que estavam fazendo. Com o tempo, ela começou a encará-lo com olhos de psicopata de uma maneira bastante constante. Ele se assustou:

- Por que você tá me olhando como se quisesse me matar?

- Ainda não acredito que você dormiu com a minha amiga.

-Ah, pronto!

- Tipo, eu achava que ela ia morrer virgem e solteira! Mas eu não contava com a sua astúcia! Você é principesco demais para ser real!

- Eu acho que ela que fez um milagre, Liv. Eu não quero pegar ninguém além dela.

- Já contou isso para a sua peguete número um?

- Lia... Ai - ele levou as mãos ao rosto e o esticou de forma exagerada, falando ao mesmo tempo de forma estranha - eu tô ferrado.

- Eu tô louca para ver isso. - Lívia pegou um chiclete na mochila.

- Eu tô indo dar um fora nela. Agora ou nunca.

- Isso aí, Chae!

Lucas se levantou da carteira, mas sentiu uma pontada nos pés e caiu de volta.

- Uau, já desistiu? Muito forte, você.

- Meus pés...

- Que cara é essa, Lucas?

- Meus pés... Lívia, eu acho que fodi meu pé...

- Que? Como assim?

- Anny chamou uma bailarina russa para me dar aula.

- Fodase?

- Bailarinas russas não têm piedade. Eu acho que eu distendi um ligamento do tornozelo.

- Moço, vai no médico. Senão como você vai dançar?

Lucas bufou e esticou o rosto mais dez vezes seguidas. Lia chegou atrás deles e se pendurou nos ombros de Lucas:

- Oi, Lulu!

Lívia passou a língua nos dentes. Lucas fez uma careta de dor:

- Não encosta em mim, eu tô dolorido demais.

- Até os ombros, Lucas?? HOMEM, VAI NA PORCARIA DO HOSPITAL! - Lívia disse meio brava.

- Eu não quero. Ela não tá lá hoje.

- Lek, não acredito nisso. Você. Vai. No. Hospital. AGORA. - Lívia pegou ele pelo tronco e saiu arrastando pela sala.

Os 1,62m da garota conseguiram arrastar os 1,89 do bailarino sem dificuldade alguma. Poderia ser a raiva ou apenas a academia que ela faz em cinco dias por semana. Ela o arrastou até o estacionamento e o jogou no banco de trás do seu humilde Palio, feito um saco de batatas.

- Me lembre de nunca precisar que você me leve ao hospital de novo, viu? - gritou Lucas, enquanto ela dava a volta no carro para entrar pela porta do motorista.

- Você ainda vai precisar muito de mim.

Enquanto isso, na academia de dança, Anny estava treinando alguns solos de balés de repertório enquanto pensava. Uma garota de coque frouxo entrou na sala e ficou encarando Anny com uma cara de nojo indescritível. Aquela era Paula. A mulher revirou os olhos para a recém-chegada e parou de dançar:

- Que foi, Paula?

- Eu quero fazer audição para ser a Sílfide.

- Como você sabe que o balé vai ser La Sylphide?

- Eu sei de tudo.

- Então treina e tenta a sorte.

- Sem a Júlia aqui, é certeza que eu consigo.

Ela saiu da sala batendo a porta. Anny teve uma crise de raiva silenciosa e pegou o celular:

- Ah, mas não mesmo!

Ela apertou em um contato cujo nome era "Denise". Uma voz arrastada saiu do outro lado:

***

Denise: Eia, Anny. Como cê tá?

AnnyB: Denise, tu tá fumando?

Denise: Nah, é minha voz de sempre, amiga. Só vape.

AnnyB: Tá, deixa pra lá. Preciso que você faça o teste pro nosso balé. Boa o suficiente para ganhar o papel.

Denise: Feito, bebê. *barulhos de madeira rangendo*

AnnyB: Tô desligando. Aproveita seus momentos aí. Ainda bem que você e o Lucas não ficam mais. Pareciam dois ninfomaníacos.

Denise: Ele que não quis mais, mas eu não faço questão, de qualquer forma. *barulho de vape* te encontro em duas horas, ok?

AnnyB: Tá. Sala de sempre.

***

Denise era uma das bailarinas mais renomadas da academia, mas quando começou a trabalhar, começou a não participar dos recitais por vontade própria. Lucas ficava com ela desde os dezoito e parou cerca de dois meses atrás, quando ela começou a usar vapes. Fumacinhas com cheirinho irritavam muito ele, ao ponto dele achar que seria contagioso. Ele ainda se sentia desconfortável perto dela, então não manteve contato algum. Falando em Lucas, Lívia estava puxando ele pelo braço até a entrada do hospital, como se ele não tivesse quase o dobro do peso dela.

Bianca, a recepcionista, fez uma careta de surpresa quando viu aquela cena:

- A Sophia não tá aqui...

- Nah, eu só preciso que você chame alguém pra atender esse querido aqui.

- Ah. Então vamos precisar dela porque os médicos e residentes estão todos ocupados.

- Não tira ela de casa de jeito maneira. Ela precisa aprender que existe vida além do trabalho.

Dra. Luisa estava caminhando com Julia, quando passaram pela recepção e viram Lívia com Lucas. Julia estava andando o mais rápido que conseguia com a perna ruim e se jogou nos braços do amigo, que deu um gemido de dor:

- Lulu, você tá bem?? Você sempre consegue me levantar. - Julia disse, preocupada.

- É... Anny contratou uma professora russa para mim. Eu tô dolorido pra cacete, dizendo o mínimo.

- Oh-ou.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Aug 01, 2023 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Mon Danseur (Meu Bailarino)Where stories live. Discover now