06- Feridas

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O caminho de volta ao vilarejo foi silencioso. Yva liderava o caminho a passos rápidos. Agora que a criança estava longe de seu alcance, os sussurros haviam voltado a preencher todos os lugares de sua mente. Era quase demais para lidar; estava tão em alerta que sentia todos os seus músculos enrijecidos.

O mandaloriano observava os passos rápidos da mulher. Ela parecia ainda mais perturbada que o normal. Suas mãos tremiam; ele conseguia ver, mesmo com a escuridão começando a se apoderar da floresta, mas não parecia ser por conta do frio, afinal, ainda estava encharcada. Era algo além, alguma coisa relacionada com a gama variada de cicatrizes que o homem havia visto há pouco. Ele queria perguntar o que havia acontecido, mas sabia que fazer perguntas apenas faria com que ela se afastasse ainda mais, afinal, como ela mesma havia dito, não confiava nele.

A garota estava tão no automático que sequer notou que havia chegado ao vilarejo. Marchava incansavelmente em direção ao celeiro em que dormiriam temporariamente. Só voltou a si quando sentiu o toque da mão enluvada em seu ombro.

Mando estava parado como uma estátua atrás dela; a criança esperneava em seus braços para que a colocasse no chão, e ele o fez, logo voltando à posição original. Ela imaginou que ele quisesse dizer algo, mas o homem apenas permaneceu imóvel em completo silêncio. Estava prestes a perguntar-lhe se havia algo errado quando a bela viúva apareceu à porta do celeiro com uma bandeja em mãos.

— Desculpem. — os dois viraram-se rapidamente em direção à voz. — Não tive a intenção de atrapalhar.

— Não está atrapalhando. — a ruiva considerou isso o pretexto perfeito para fugir do escrutínio do homem e caminhou depressa até sua bolsa, colocando-a sobre o ombro. — Preciso trocar de roupa.

Estava a meio caminho em direção à porta quando a mulher voltou a falar.

— O jantar está sendo servido na vila. — a mais velha lançou-lhe um sorriso acolhedor e caloroso que a fez querer se encolher. — Mas eu trouxe o seu. Achei que ficaria mais confortável aqui, por causa do capacete.

Pelo canto dos olhos, viu o mandaloriano se encolher. Ele parecia tão desacostumado com gentilezas quanto ela. Tinha certeza de que ele estaria corado por baixo de toda aquela armadura.

A garota saiu em seguida, sem esperar para ouvir a resposta do homem. Era bastante óbvio o interesse da outra mulher no caçador de recompensas, tão pateticamente óbvio que fazia as entranhas de Yva se contorcerem em protesto. Não sabia ao certo como a doutrina mandaloriana era sobre relacionamentos românticos, mas imaginava que não fosse algo tão simples. A pobre mulher apenas ficaria com o coração em frangalhos quando o homem partisse.

Yva aguardou bastante tempo nos arredores do celeiro, esperando dar tempo suficiente para que ele terminasse sua refeição, mas sua vigília logo acabou quando viu a viúva se aproximar da porta com a pequena criatura verde em seus braços. Esperou impaciente até a mulher sair novamente do celeiro e então se dirigiu à construção.

Mal havia entrado no lugar quando viu a armadura reluzente apoiada em uma cadeira. Não sabia se deveria continuar ou dar meia-volta, mas o capacete não estava em nenhum lugar visível, então julgou que fosse seguro. Ele estava de costas, limpando suas armas; sem todo aquele beskar, ele parecia um pouco menor, mas permanecia igualmente imponente. Costas largas se esticavam através da blusa preta desgastada; ela até conseguia ver um pouco da pele do punho, onde a manga da blusa insistia em subir devido a seus movimentos. Ele até parecia um homem comum, vestindo roupas comuns, mas então o brilho inconfundível do metal a atraiu para o capacete e a fez lembrar-se do que ele era.

— Levei algum tempo para conseguir engolir aquela sopa.

Tentou parecer despreocupada enquanto caminhava até a cama improvisada, mas parou no meio do caminho quando notou que a criança dormia tranquilamente, aninhada em seu velho lenço.

MIDNIGHT RAIN - DIN DJARIN/THE MANDALORIAN Where stories live. Discover now