02 - A decisão

42 7 305
                                    

Assim que tomou sua decisão Aruna sabia que arrumaria problemas. Em especial com sua mãe. Nunca tivera muitos problemas com seu pai em relação a sua própria vida, no fim ele sempre acaba se dobrando a sua vontade. Na maioria das vezes que insistiu para que Aruna fizesse algo que não quisesse era por influência de sua mãe para evitar conflitos com ela.

No entanto ela não estava se importando muito com esse detalhe no momento. A mãe teria que entender de uma vez por todas agora que não poderia mais ter nenhuma influência sobre a filha.

Dessa forma quando acordou na manhã seguinte sentindo-se bem mais disposta do que os dias anteriores, Aruna tratou logo de ficar se apressar e fazer o que tinha que ser feio.

Afastou as cortinhas da sua cama de dossel e saiu da cama e calçou os chinelos macios. Como ainda era verão optou com um vestido laranja soltinho de alcinhas que iam até o meio das coxas e sandálias combinando.

Enquanto penteava os longos cabelos tentando domá-los em um rabo de cavalo no alto, colocou o celular sobre a penteadeira abarrotada com cosméticos e maquiagem e iniciou uma chamada com o pai.

- Oi, filhinha - disse ao atender a ligação.

- Podemos nos ver para tomar café? - perguntou. Por um momento ficou indecisa se avisaria que também convidaria Olga pois poderia causar uma negativa. Mas decidiu ser honesta antes do pai dar a resposta. - Mamãe também será convidada.

Um silencio incomodo se prolongou do outro lado da linha. Aruna conseguiu prender o cabelo de forma satisfatória então focou sua atenção no telefone.

- Por que deseja isso, Aruna? - ele perguntou parecendo incomodado, porém seu tom manso e amável que reservava para ela não se alterou.

- Preciso conversar algo com vocês sobre mim. E sei que vai compreender que algo relacionado a mim precisa da presença dos dois.

Ele soltou o ar pesadamente, ainda assim concordou em se encontrar com ela dentro de trinta minutos. Sempre soube que seu pai não seria o grande desafio, ele era quase sempre alguém fácil de lidar e conviver. O seu grande impasse estava provavelmente no andar de baixo com uma xícara de café nas mãos.

Depois de pegar sua bolsinha transversal e passar a alça pela cabeça Aruna respirou fundo e saiu do seu quarto para o corredor que era incrivelmente iluminado com o sol da manhã aquecendo as paredes com quadros. Quando chegou no alto da escada apurou os ouvidos e não se surpreendeu ao receber somente o silencio.

Mas quando chegou ao pé da escada viu sua mãe sentada à mesa de jantar, com a xícara de café na mão, e um livro de estudos na outra. Sobre a mesa tinha mais uma xícara para ela. Algumas frutas, manteiga, geleias e uma cesta de pães de centeio fresquinho.

Aruna sentiu vontade de dar meia volta e sair dali. Não queria ver os olhos frios da mãe quando ela mencionasse seu desejo de tomar café com ela e o pai.

- Bom dia - falou tentando parecer segura e despreocupada.

- Bom dia, você não deveria estar no trabalho? - perguntou Olga com seu tom solene de sempre. Não é que ela não fosse carinhosa. Talvez só um pouquinho, era mais a das que abraçavam somente em datas especiais ou se passasse muito tempo longe.

O pai de Aruna por outro lado era caloroso e as vezes até meio grudento. E isso não era uma reclamação. Era por causa dele que conhecia o gesto do carinho e afeto real.

- Pedi a manhã de folga a dona Irpa, porque preciso de uma conversa.

Não era de todo verdade, ela tinha ligado mais cedo para chefe avisando que ia chegar mais tarde, mas que também tinha um assunto sério a conversar com ela. No caso, a sua demissão.

Akarsana - O Encanto da FlorestaWhere stories live. Discover now