Prólogo

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Após o nascimento da criança, Melinda sentiu-se perdida na exaustão. A cama ainda encharcada de sangue, enquanto as criadas se esforçavam para manter a limpeza do aposento. O choro do bebê ressoava por todo o pequeno reino.

Não tardou muito para que Melinda chamasse uma das arrumadeiras.

"É uma bela menina. Mas preciso de auxílio. Já não tenho forças em meus braços para sustentá-la, ainda que seja tão leve", disse entre tosses, não podendo ocultar que a enfermidade já se encontrava em estado grave. "Leve-a para o reino vizinho após minha morte. Tenho certeza de que não a verei se casar, nem mesmo conhecerei meus possíveis futuros netos".

Melinda entregou o bebê para a criada. Sentiu-se imensamente grata por toda a ajuda prestada por esta durante o parto. Repousou a cabeça no travesseiro e relaxou seus músculos, podendo enfim ter seu descanso, apesar de não estar em condições higiênicas adequadas. No entanto, era a última coisa que lhe importava no momento.

"Eu preciso que meu esposo saiba..."

(...)

O senhor de terras retornou de viagem, ansioso por conhecer o filho que viera ao mundo. Um turbilhão de emoções se apoderava de si. Rogou ao cocheiro que se apressasse para chegar o mais rápido possível ao pequeno castelo. Embora já estivesse na cidade sem nenhum negócio ou acordo feito, não via a hora de chegar em casa e ver o novo membro. O futuro herdeiro das pequenas terras.

Não tardou muito e já se encontrava diante do castelo. A carroça parou de maneira abrupta enquanto o homem observava os viajantes passarem a cavalo. Havia contemplado as breves ruas durante a viagem. Foram três extenuantes dias de andança. E então, por fim, finalmente aliviou-se ao ver os portões de sua morada. O aroma das mercadorias vizinhas e o som dos trabalhadores lhe agradavam de tal forma que o faziam sentir-se mais feliz. De fato, para ele, não havia nada melhor do que imaginar chegar em casa, ver a esposa e segurar o filho nos braços. Seu primeiro e único filho.

César, apressado e entusiasmado, desceu
rapidamente e adentrou o pequeno castelo. Mal pensara no fracasso da viagem e dos negócios. Antes disso, cumprimentou aos mercadores segurando seus sacos de batata nos ombros ao passarem por ele.

Perguntou aos criados onde se encontrava sua esposa. Todos afirmaram estar no quarto, tendo seu descanso pós-parto. O pai da criança sorriu e correu pelas escadarias o mais rápido possível; não podia mais suportar tanta emoção.

Fechou a porta do quarto lentamente, evitando provocar qualquer ruído. Olhou para o berço bem ao lado e próximo da cama e, direcionando-se ao berço, pôde tocar a mão de sua esposa desfalecida. Um mar de emoções inundou ainda mais seu peito. O rosto delicado, os pequenos dedos, os pés minúsculos... Todos os detalhes amoleceram seu coração. Era uma parte dele.

O bebê começou a chorar quando o teve nos braços, balançando-o freneticamente e devagar para acalmá-lo.

"Meu amor, vai ficar tudo bem. Xiii... Passou, passou". Disse quando uma das criadas apareceu para limpar a criança. "Meu pequeno herdeiro. Você vai herdar tudo isso, e irá engrandecer nosso reino. O que foi de meu pai, e depois meu, será seu".
"Majestade...", chamou a criada, prestando bem atenção no que ele houvera dito. "Sinto em lhe informar, mas é uma menina".

"Menina?", perguntou, desconcertado. A mulher confirmou e ele olhou para a criança com os mesmos olhos, mas desta vez, com um pouco de preocupação. "Então... Você é minha pequena herdeira. Ainda é parte de mim, minha menina".

"Como irá chamá-la, Majestade?"

"Judith". Falou o primeiro nome que veio em sua mente. A resposta foi rápida, embora tivesse plena consciência de ter de fazer a escolha junto de sua esposa. Mas já tinha decidido. Seria este nome. "Prometo pagar toda a dívida para que não sobre nada para você. Eu temo isso. Se fosse homem, caso eu não conseguisse pagar o que devemos antes de minha morte, deixaria isso prosseguir para você. Mas não posso morrer em paz sabendo que minha esposa talvez não esteja mais conosco e não possa me dar mais filhos, e tudo reste para você, uma futura mulher e rainha".

As cortinas da janela ao lado balançavam com o vento e a noite se preparava no anseio de escurecer as ruas. A luz do pôr do sol clareava o rosto da menina nos braços do pai, de lábios rosados e pele suave, dando-lhe um contraste belo e fortalecendo o laço de ambos.

O chão de madeira fazia ruídos a cada passo, revelando o seu péssimo estado. No momento, visto que tinham altas dívidas com o reino vizinho e estavam com problemas financeiros, daria um jeito de dispensar os criados e trabalhar por si, honesta e justamente.

"Eu preciso pagar tudo o mais rápido possível. Esta viagem me fez apenas perder tempo, não consegui nenhum acordo. Nenhum contrato. Nada".

THORNS (Johnny Depp)Where stories live. Discover now