♡°•☆Capítulo 10☆•°♡

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Geno não fazia ideia de quanto tempo se passara desde a briga. A única coisa que o mantinha lúcido era a suave melodia que emanava dos painéis luminosos, ecoando pelo vazio infinito. Conforme as horas se arrastavam lentamente, seus pensamentos começaram a divagar.

"Talvez ele nunca mais volte." - Pensava, consigo mesmo.

E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu medo.

E se Reaper não voltasse mais? Ele ficaria sozinho, perdido no vazio pelo resto da eternidade. A criança, causadora de sua miséria, seria para sempre sua única companhia.

Geno sentiu as mãos tremerem, o ar desaparecendo gradualmente a medida que seu nervosismo aumentava.

- Porra, porque eu não posso simplesmente desaparecer?

Murmurou para si mesmo, as lágrimas se formando em gotas teimosas que se recusavam a descer.

- Se eu pudesse simplesmente destruir esse maldito cronograma, eu...

Geno se calou por um momento. A palavra desmanchava de maneira estranha na língua ao ser pronunciada.

"Destruir"

Por um momento, Geno saboreou a ideia.

Há muito tempo tentava dar fim àquela linha do tempo, mas como poderia? Sua alma danificada era muito fraca para tentar qualquer coisa. Precisaria do outro Sans para fazê-lo, mas nunca em nenhum cronograma conseguira convencer aquela versão de si a ajudá-lo.

Era inútil. Nunca teria paz enquanto não morresse, e isso tinha se provado impossível.

Nem mesmo a própria Morte se compadecia dele. Era um miserável.

Pegou o celular e encarou a tela apagada por quase cinco minutos antes de abrir as mensagens.

Nada. Sem resposta.

Ainda chorando, atirou o aparelho longe. A criança, que brincava sozinha num canto do vazio, virou a cabeça bruscamente na direção de Geno e correu em sua direção, envolvendo-o com seus bracinhos.

- Shh...

Sibilou, acariciando a cabeça do esqueleto que chorava copiosamente no chão daquele vazio infinito. Geno não queria um abraço, mas não o afastou.

Só tinha ele agora.

°• {P.o.V Reaper} •°

Conforme a noite chegava e a lua se elevava no céu escuro, o calor ia desaparecendo e dando lugar a uma brisa fresca agradável. Podia sentir a grama fria debaixo de meus pés descalços enquanto caminhava sob a cortina de estrelas que se estendia até o horizonte.

Olhei para o véu de pontos luminosos no céu e lembrei de Geno. Da sensação de voar com ele e tê-lo em meus braços. De ouvir seu riso, sentir seu cheiro e admira-lo sob o céu noturno.

Sabia que ele não era perfeito. Não, nem mesmo os deuses eram perfeitos. Ele era falho e defeituoso, mas talvez fosse isso que me fascinasse tanto.

Ele era perfeito em sua imperfeição.

Respirei fundo, tentando esquecer os pensamentos. Sentia meu corpo exausto e pesado, colher almas é cansativo e a Morte não pode jamais descansar.

As vezes tudo que eu queria era uma pausa.

Me sentei no chão, sob um pinheiro antigo e alto, fechei os olhos por um momento e quis dormir.

- Sans?

A voz doce feminina que ouvi era familiar e reconfortante. Toriel. Ela se aproximava calmamente, em passos tão suaves que faziam parecer que ela flutuava.

- Toriel. Olá.

Ela abriu um sorriso terno, e se sentou ao meu lado.

- Há tempos não nos encontramos, não é mesmo? Como andam as coisas?

Eu sabia que ela não perguntava apenas por perguntar. Ela se importava genuinamente. Provavelmente, a única que se importava realmente com o que as pessoas falavam.

Não que eu tivesse muito a dizer.

- Tudo bem.

- E seu irmão, Papyrus? Como vai?

- O mesmo de sempre.

Ela assentiu, em silêncio. Pensei em puxar assunto, mas desisti. Talvez eu não fosse tão bom com as palavras, mas não queria falar então não importava.

Silêncio. Profundo e desconfortável silêncio.

Acho que ela percebeu que eu estava mal, porque fechou os olhos por alguns segundos, inspirou profundamente e começou a cantarolar uma música. Nossa música. Não uma música comum, cantada por vozes semelhantes às humanas, mas uma sinfonia celeste.

"Who can say where the road goes?
Where the day flows? Only time.
And who can say if your love grows
As your heart chose? Only time."

Toriel sempre cantava quando achava que eu estava triste.

Ela cantarolava e sua voz jamais poderia ser compreendida por qualquer ser mortal, porque ela era uma deusa. Em sua voz etérea havia o calor do sol da tarde, e o frio de uma nevasca, e as cores da aurora, e era tão suave quanto o bater de asas de uma libélula. E de sua boca não saía apenas música, mas vida. Vida.

"Who can say why your heart sighs
As your love flies? Only time.
And who can say why your heart cries
When your love lies? Only time."

Uma brisa fresca passou por nós, bagunçando o pelo macio e branco de Toriel. Seus olhos brilhavam tanto que pareciam mais que janelas para a alma, mas dois portais que me levariam direto para o infinito que era seu ser. E de repente eu pensei que talvez fosse uma boa ideia beijá-la.

E beijei. E era como num sonho daqueles que você esquece quando acorda, mas que te deixa atordoado pelo resto do dia. Era como se eu não estivesse lá, não senti nada além de um borrão e tudo pareceu tão estranho e confuso.

Então, calmamente, ela recuou e me lançou um olhar que não consegui decifrar.

- O quê estamos fazendo?

Dei de ombros.

- As pessoas costumam chamar isso de beijo. Não sei se você já ouviu falar.

Ela sorriu, e eu também. Mas não tinha graça.

- Engraçadinho, você entendeu o que eu quis dizer. Porque isso agora?

"Por isso agora?". Tentei pensar em uma resposta, mas nada me veio a cabeça. Porque. Eu. Fiz. Isso?

Porque eu fiz isso porque eu fiz isso porque eu fiz isso por que eu fiz isso.

- Você está bem?

Assenti. "Tudo bem", não era o que eu queria responder. Mas foi isso que saiu. Ela me encarou por algum tempo. Torci em silêncio pra que ela não repetisse a pergunta.

Mas ela repetiu.

- Sans, porque você me beijou?

- Não sei, Toriel. Acho que amo você.

Não era verdade. Eu não queria dizer aquilo. Talvez tenha algo de errado comigo.

Ela abriu um sorriso doce e encostou a cabeça no meu ombro, acariciando minha mão. Ela continuou a música.

"Who can say when the roads meet?
That love might be in your heart?
And who can say when the day sleeps
If the night keeps all your heart?
Night keeps all your heart

Who can say if your love grows
As your heart chose? Only time
And who can say where the road goes?
Where the day flows? Only time

Who knows? Only time
Who knows? Only time"

. . .

- Acho que amo você também, Sans.

Por algum motivo, senti vontade de chorar.

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⏰ Última atualização: Aug 30, 2023 ⏰

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