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Acordo atrasada para ir cuidar de Josh e Karl. Me arrumo rápido e dirigo até lá. Graças a Deus a mãe deles ainda não saiu e os meninos estão dormindo.

- Bom dia senhora - sorrio amigavelmente, ao entrar no cômodo em que ela está.

Ela não me responde. Seu olhar está fixo na carteira. Sinto um clima estranho se apossar da sala.

- Toma - ela me entrega o dinheiro.

- Pagamento adiantando? - levanto as sobrancelhas em dúvida.

- Último pagamento - a mulher fecha a bolsa, indo até a cozinha.

- C-como assim, "último pagamento?" - a sigo.

- Estou te demitindo - sinto meu peito doer. Demitindo? De novo?

- Posso... posso saber o por quê? - cerro os punhos.

- O respeito e a consideração que eu tinha por você, morreram - ela me encara - A menina, a menina que você bateu ontem, era minha entiada.

Algo em meu peito queima. Não pode ser. Eu já havia esquecido desse acontecimento... e agora, vem tudo de uma só vez.

- Senhora, sei que o que fiz foi errado, mas eu tive motivos... - tento me desculpar.

- Ela quebrou o nariz, sabia? Você quebrou o nariz dela - ela balança a cabeça em desapontamento - Eu não queria te demitir, você foi a primeira babá que meus meninos gostaram. Infelizmente, terei de fazê-lo. Adeus Amelie Zimmer.

- Senhora... espera. Me escute por favor - imploro, mas a mulher já está me puxando até a saída.

- Não apareça mais aqui - a porta se fecha em minha cara. Nem tive a chance de dizer o meu lado da história.

Fico ali plantada, sem saber para onde ir. Entro no carro inexpressiva, perplexa. Merda. Agora definitivamente, ninguém vai querer me contratar. Não tem como esse dia ficar pior.

Meu carro não pega. Tento o ligar mas simplesmente apagou. Saio abrindo o capô. Uma fumaça sai de repente, me fazendo tossir. O que aconteceu com meu carro querido? Pego meu celular para ligar para um mecânico, mas está sem bateria. Como? Se coloquei carregar ontem a noite? Xingo o nada e sinto alguns pingos sob minha pele. Então o céu desaba, em questão de segundos.
Fecho o capô, tentando abrir a porta do carro. Emperrou. Não é possível. Fico encharcada, tentando abrir todas as portas, mas fracasso terrivelmente. Sento no meio fio, com a chuva batendo em meu rosto. Sinto uma vontade enorme de chorar.

Então, a chuva para de cair em mim. Olho para cima vendo um guarda-chuva. Anthony está ali, o segurando.

- Está tudo bem? - ele pergunta, se abaixando.

- Está - forço um sorriso - meu carro só apagou e a porta emperrou.

- Ligou para o mecânico? - ele analisa o carro.

- Meu celular está sem bateria.

- Quer o meu emprestado? - Anthony me oferece o aparelho.

Ligo para o mecânico, dizendo minha localização. Infelizmente, ele vai esperar a chuva passar para poder vir. Minha casa fica longe daqui, não tenho outro lugar a não ser ficar na rua. Encharcada. Triste. Desempregada...

- Você pode esperar na minha casa, se quiser - o garoto à minha frente, sugere - é pertinho daqui.

- Não quero incomodar - fito meu tênis, todo sujo e molhado.

- Não vai, de maneira alguma. Quero te mostrar algumas coisas - levanto uma sobrancelha. Ele balança a cabeça rindo - Não, não é nada disso que você está pensando. Quero que você veja minha biblioteca pessoal.

- Você tem uma biblioteca?? - fico surpresa - Tem certeza que não vou atrapalhar?

- Tenho.

Chegamos à casa de Anthony. Ele me trás uma toalha e me empresta algumas roupas. Saio já vestindo-as, são duas vezes maior que o meu tamanho. Me lembro de Tom com suas cortinas.

- Você não tinha que estar trabalhando essas horas? - pergunto, olhando o relógio. São apenas 8:00 horas.

- Sim, mas pedi para sair hoje de manhã. Como é sexta feira, o mercado faz promoção. Não pude perder - ele me entrega um café quentinho - Fui um dos primeiros a entrar. Semana passada, entrei perto do meio dia e todas as conservas já haviam acabado. Hoje aproveitei e peguei o máximo que pude.

- Então você também é fã de conserva? - brinco, vendo uma estante cheia das mesmas.

- Sim - ele sorri - Aliás, o que você estava fazendo nesse quarteirão?

- Ah - suspiro - eu trabalho... trabalhava como babá. Fui demitida. Creio que tenha visto o vídeo em que briguei com uma garota.

- Não, mas estavam comentando no trabalho ontem à noite.

- Ninguém quer ouvir a minha parte da história... - sento em uma cadeira, olhando para Anthony.

- Aposto que teve um motivo, não? - ele levanta - Vem, vou te mostrar minha biblioteca.

Meu queixo cai. Os maiores clássicos literários estão nessa estante. Uma prateleira inteira só de sonetos de William Shakespeare

- Isso é incrível - percorro meus dedos pelos livros - Anthony... posso te fazer duas perguntas? Além dessa é claro.

- Claro que pode - concorda.

- Como você sabia, que gosto de William Shakespeare e de ler? - o questiono.

- Ah sim. Bom, não sei se você se lembra, mas nós estudamos juntos. Sou mais velho, porém repeti dois anos. Lembro que todos os dias, você andava com alguns sonetos de Shakespeare na mão. Recitando alguns sozinha - seu olhar está distante - Foi por sua causa que comecei a gostar também.

- Eu não sabia que você estudava comigo - analiso o rosto de Anthony - Não consigo lembrar.

- Eu mudei bastante, deve ser por isso.

Até que a chuva se acalmasse, lemos e criticamos alguns poemas de Shakespeare. Foi uma manhã legal. Anthony me olhava estranho em alguns momentos, mas ignorei.
Me despeço dele assim que o mecânico chega. Mamãe e Astrid estão me esperando quando entro em casa.

- 13:00 horas - suspira Astrid - Que roupas são essas e por que você não atendeu o celular?

- Estava sem bateria.

Passo a tarde lendo e assistindo com a mamãe. Fico olhando o celular toda hora, esperando uma mensagem de Tom. Mas eles só chegarão lá de madrugada.

O final da tarde chega e me preparo para ir à faculdade. Quando desço do carro, meu celular vibra.

- Boa noite - sorrio, ao atender a ligação de Tom, enquanto percorro os corredores da universidade - como foi essas 17 horas de voo?

- Oi amor - sua voz sai cansada. Um arrepio me percorre ao ouvir ele me chamando de "amor" - eu estou cansado pra caralho.

- Os garotos também? - pergunto, ao escutar o sinal tocar.

- Estão dormindo agora, mas estão bem. Fiquei enjoado a viagem inteira. Eu liguei só para avisar que estou vivo e agora vou direto pra cama. Amanhã já temos show. Desculpa, queria falar mais com você, mas realmente estou muito cansado...

- Tudo bem, eu tenho que estudar mesmo. Nenhum de nós dois poderia conversar agora - vejo minha professora de teatro se aproximando - Ah... bom descanso, se cuida ok? Te amo muitão.

- Boa noite Amelie, também te amo - o escuto suspirar - Já estou com saudades.

- Eu também... Beijo - desligo o aparelho, assim que minha professora para em minha frente.

- Que bonitinho, esses dois pombinhos - ela debocha - Você sabia que a apresentação da feira foi um fracasso?

- Não, mas obrigada por me contar - passo por ela indo até minha sala.

Não estou com cabeça pra ouvir sermão.

Kiss Me - Tom KaulitzDonde viven las historias. Descúbrelo ahora