Vagando

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Quando acordei na manhã seguinte, achei que tinha sonhado tudo aquilo, o fogo na lareira ainda ardia, abri os olhos e olhei para os lados. Chamei por ele, nada. Ele não estava lá. Mais uma vez ele fez a mesma coisa, não acredito que me deixei levar por ele, senti tanta raiva, tanto ressentimento, tanta mágoa. Me vesti, apaguei o fogo da lareira e saí de lá, fui até a casa do Urokodaki Sensei que era mais perto, peguei minhas coisas e saí de lá sem ter um destino exatamente, não iria para casa, se o visse, me avançaria nele.
Andei pelas laterais da estrada até o final da manhã, parei para comer e me sentei perto de uma árvore, ouvi uma voz conhecida gritar meu nome e me virei para olha-la.

(Kanroji) - Oi, o que você tá fazendo aí sozinha?
(Saori) - Comendo.
(Kanroji) - Sozinha?
(Saori) - É, tenho andado sozinha.
(Kanroji) - Estamos perto da minha casa, quer ir até lá comigo?
(Saori) - Não sei, por acaso, você sabe do Tomioka?
(Kanroji) - Ah, ele tá lá na Mansão Borboleta, eu vim de lá agora.

Senti uma pontada de ódio no peito, ele me largou mais uma vez, para ir atrás da Shinobu. Respirei fundo, e aceitei o convite dela, ele não iria até lá com certeza. Andamos mais um pouco até chegar lá e passei o dia com ela.

(Kanroji) - Quer passar a noite aqui?
(Saori) - Não quero incomodar você.
(Kanroji) - Você não incomoda, é bom ter companhia. Vou arrumar alguma coisa para comermos, vem comigo até a cozinha e me ajuda?

Eu gostava da companhia dela, ela era alegre e estava sempre sorrindo. Depois de comer, ficamos conversando um pouco, ela novamente me perguntou sobre o Tomioka, no fundo acredito que ela sabia e só não queria dizer.
Quando o dia seguinte chegou, agradeci pelo convite e segui meu caminho, até encontrei Rengoku pelo caminho, conversamos brevemente, eu disse que estava com pressa, mas não tinha exatamente um lugar para ir. Passei por perto da Mansão Borboleta, mas não os vi, saí de perto daquele lugar o mais rápido possível.
Meu corvo chagava com recados de todo mundo alguns dias por semana, eu não voltei para casa, não ia passar nenhum minuto perto dele, ainda mais no mesma casa, só nós dois. Já estava fora faziam dois meses, o inverno e a neve ainda estavam fortes, evitava os caminhos que sabia que poderia encontrar alguém e apenas enviava notícias para Urokodaki Sensei, não queria preocupar ele, dizia que estava bem, seguindo meu caminho sozinha e que sabia me cuidar. Com o tempo, as perguntas de por onde eu andava pararam, de vez em quando encontrava alguém conhecido, mas evitava ao máximo me aproximar de alguém.
Quando o inverno chegou ao fim e tudo começou a florescer, passei a andar por entre as árvores, aproveitando o aroma doce que delas vinham.
Em um dia ensolarado, parei em uma cachoeira para me refrescar, passei boa parte do tempo sozinha lá, até alguém chegar e eu ouvir uma voz conhecida.

(Shinazugawa) - Você tá viva afinal.
(Saori) - Shinazugawa, tá fazendo o que tão longe?
(Shinazugawa) - Posso te perguntar o mesmo, todo mundo ficou preocupado quando você sumiu garota.
(Saori) - Até você?
(Shinazugawa) - Claro que sim, você é minha amiga, não é?
(Saori) - Acho que sim.
(Shinazugawa) - Vai me contar porque sumiu desse jeito?
(Saori) - Não sei se você quer saber.
(Shinazugawa) - Se eu perguntei, é porque eu quero saber. O Giyuu ficou louco procurando você, mas disse que você sabia como evita-lo se quisesse.
(Saori) - Tem funcionado por meses.

Ele se aproximou e sentou em uma pedra, ficando de frente para mim e me olhando com um olhar cheio de perguntas, que eu não estava totalmente disposta a responder, mas ele faria mesmo assim.

(Shinazugawa) - Porque você sumiu?
(Saori) - Tava na hora de seguir meu caminho sem estar na sombra do Tomioka.
(Shinazugawa) - E precisava ser do nada? Sem comunicar ninguém?
(Saori) - Precisou ser assim. Eu não pretendia, mas as coisas levaram a isso.
(Shinazugawa) - Da pra ser mais específica? Desembucha logo!
(Saori) - Você é curioso demais.
(Shinazugawa) - Eu sou! Fala ou eu vou te dar um soco!

Escorei os braços para trás, deixando o sol chegar até o meu rosto e me esquentar, respirei fundo e comecei a falar. Não tinha tocado no assunto e até de pensar eu evitada desde aquela noite e quando descobri que ele me deixou lá para ir até a inseto.

(Saori) - No inverno, eu e o Tomioka... lá na floresta de glicínias, ficamos lá sozinhos e acabamos... passando a noite juntos...
(Shinazugawa) - E ele é tão ruim de cama que você fugiu dele?
(Saori) - Idiota!
(Shinazugawa) - Eu só quero entender, porque você foi embora? Me conta.
(Saori) - Eu acordei lá sozinha, como da primeira vez.
(Shinazugawa) - Ele largou você lá depois de...
(Saori) - Eu fui idiota, ele já tinha feito isso antes.
(Shinazugawa) - Nem eu faria uma coisa dessa.
(Saori) - Comigo nunca fez, obrigada.
(Shinazugawa) - Quer que eu arrebente ele? Faço isso por você.
(Saori) - Por mais tentador que seja, eu só quero esquecer que eu fui burra de deixar isso acontecer de novo. E ele me deixar pra ir atrás da borboletinha, de novo.
(Shinazugawa) - Ele foi atrás da Shinobu?
(Saori) - Eu encontrei a Kanroji no mesmo dia a tarde, e passei a noite na casa dela, ela me disse que ele estava na Mansão Borboleta mais cedo, ou seja, me deixou lá e foi encontrar ela.
(Shinazugawa) - E vocês não se encontraram mais desde então? Sabe que ele anda te procurando?
(Saori) - Não. Porque?
(Shinazugawa) - Ele tá preocupado com você, você sumiu, lembra?
(Saori) - Você não vai dizer pra ele que me encontrou e nem aonde. Vou mudar meu caminho por precaução.
(Shinazugawa) - Konishi, já fazem meses. Vocês precisam se entender. E se acontece algo com o Giyuu? Sabe que ele ainda acha que você não tá pronta, eu disse que vocês precisavam conversar sobre isso, eu disse pra ele, que você tava se contendo perto dele, pra ele confrontar você...
(Saori) - Eu fugi de tudo e de todos, lembra?
(Shinazugawa) - Você precisa voltar, vocês precisam se entender.
(Saori) - Continua falando que eu vou odiar três Hashiras.
(Shinazugawa) - Para. Não vou obrigar você, e você tá magoada, mas mais cedo ou mais tarde, vocês vão precisar conversar. Não podem fugir disso pra sempre.
(Saori) - Não pra sempre, mas ainda não, não dá. Eu fui idiota, eu sei disso, mas não quer dizer que eu não...
(Shinazugawa) - Você tá magoada, eu entendo, mas tentou ver o lado dele?
(Saori) - Sério? O lado dele? Simples, a noite comigo não foi boa e ele foi atrás dela. Ela deve ser melhor.

Ele chegou mais perto, o suficiente pra tocar meu queixo e fazer eu levantar o rosto e o olhar, piscou e sorriu.

(Shinazugawa) - Com você é sempre ótimo. (Saori) - Obrigada.
(Shinazugawa) - Não se preocupa tá, não vou falar pra ninguém que te encontrei, mas é bom saber que você tá bem, inteira, viva.
(Saori) - Vocês me subestimam demais.
(Shinazugawa) - Não lindinha, eu sei do que você é capaz. Só fiquei preocupado por você não dar notícias.
(Saori) - Não vai contar nada mesmo?
(Shinazugawa) - Pelo o que o Giyuu contou, você mantém contato com o Sensei de vocês.
(Saori) - Não deixaria ele preocupado, com ele sim, só com ele.
(Shinazugawa) - Se quiser me escrever, sabe que pode confiar em mim.
(Saori) - Vou tentar não desaparecer, talvez eu apareça na sua casa.
(Shinazugawa) - Uma visita sua é semrpe ótima. Eu vou deixar você em paz. Mas não some de novo tá.
(Saori) - Não vou te deixar preocupado achando que eu morri, pode deixar.

Vi ele se afastando e até pensei em voltar depois de conversar com ele, mas não, ainda não.

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Os Hashiras da Água Where stories live. Discover now