death love - Clarena

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Helena

Ontem escutei a senhorita Bastos falar sobre me demitir, não a julgo, pois meu comportamento não era dos melhores, mas agora eu tinha que melhorar, pois ainda precisava dos arquivos, então seria necessário eu ficar por mais tempo.

Meus pensamentos vagam sobre a noite de ontem, no momento em que Clara perguntou sobre Paula, eu podia jurar que ela sentiu uma pontada de ciúmes, o que não faria sentido algum, tipo, porque ela estaria com ciúmes de sua funcionária, ainda mais pelo fato de ela me odiar, quer dizer, não sei se ela ainda me odeia, já que me ofereceu carona.

Porém, o que predominava meus pensamentos era o momento do carro, onde nossos lábios ficaram a um triz de se encostar, podia sentir o clima tenso entre nós naquele instante, e por um milésimo de segundo cogitei em beijá-la, e realmente achei que faríamos isso,  não sabia o porque, parecia que era mais forte que eu, querer sentir o toque macio de suas mãos em meu rosto, seus lábios nos meus, mãos bobas passeando pelo corpo, queria sentir o gosto de seus lábios cobertos de gloss.

Isso tudo que eu estava pensando me assustava, e muito, seria possível eu estar gostando da minha chefe? Não, não, não, não tem como isso estar acontecendo, tudo bem que ela era uma mulher linda, mas não apenas isso, ela exalava perfeição, não tinha como não a achar bonita, eu poderia dizer que é apenas isso, mas estaria mentindo para mim mesma, quando estou perto dela sinto mais coisas do que quando beijo Paula, é muito estranho, talvez eu estivesse mesmo sentindo algo por ela, mas não passaria disso, de um sentimento, nossa relação era totalmente profissional.

O dia passa rápido, sem muito movimento, Clara não me chamou em sua sala nem uma vez se quer, ela invadia meus pensamentos, não conseguia parar de pensar nela, mas guardo isso bem lá no fundo.

Nossa que tédio, eles não fazem nada aqui o dia todo? Jogo em meu celular, vou para o almoço, volto para minha mesa e continuo a jogar, nada de interessante, quando finalmente não tem mais ninguém no escritório e já tinha dado meu horário, bato na porta de Clara para avisar que eu vou embora e ela não fala nada então apenas entrei e pedi licença

Quando entro não vejo Clara em sua mesa, procuro pela sala e vejo-a sentada no chão, chorando com um pedaço de seu cabelo em uma mão e uma tesoura na outra.

-Meu deus Clara, o que aconteceu? Você está bem? - digo indo em sua direção e agachando em sua frente

-Nada demais, pode ir embora - Ela diz com uma voz de choro

-Eu não vou te deixar aqui nesse estado Clara - Falei me aproximando mais um pouco

-Isso não é um pedido, é uma ordem, vai

-Não

-Não? - ela pergunta incrédula, voltando sua atenção a mim

-Não, não vou embora até você me explicar o que aconteceu com você e com o seu cabelo

-Nada que você tenha que se importar, é só que eu sou muito trouxa, todos que eu confio me traem, meu marido me traiu com a minha melhor amiga, eu ainda perdoei ela, e o Theo... Eu deveria ter voltado para ele, sinto que ninguém me ama de verdade, e ele pelo menos me deseja, quando ele tentou ficar comigo ontem, eu deveria ter aceitado, não deveria ter o afastado, foi por isso que acabei me machucando, é tudo culpa minha - Ela dizia chorando cada vez mais

-Clara, presta atenção em mim, ele que fez essas marcas em você? - Falo ao notar os pulsos roxos e o braço com uma faixa de curativo

-Não exatamente, ele queria que eu o perdoasse, e fizesse sexo com ele, eu o afastei de mim, ele derrubou um copo e quebrou, mas foi culpa minha, eu deveria ter aceitado ele de volta, eu o deixei estressado, foi culpa minha, culpa minha que eu me machuquei, culpa minha meu cabelo estar desse jeito, eu não sabia mais o que fazer, achei que me sentiria melhor se mudasse o visual, mas nem para isso eu sirvo, comecei a tremer, e por impulso acabei cortando demais e agora eu vou ficar horrível- Ela não parava de chorar

Escuta-la falando aquelas coisas, apertou meu coração, era óbvio que estava sendo manipulada, nada daquilo era culpa dela, meu extinto era abraçá-la e protegê-la para que ninguém fizesse mau a ela, não a conheço muito bem mas sei que ela é uma pessoa maravilhosa, ela tem um brilho único que ilumina todo lugar que passa, saber que ela não enxerga essa pessoa incrível que é me deixa muito mal

-Clara, nada disso é culpa sua - Digo pegando em seu queixo e levantando sua cabeça para me olhar - Você é sensacional, saiba disso, tem lindos olhos, é super responsável, um belíssimo corpo, não importa como esteja seu cabelo, qualquer coisa em você fica lindo, ainda não tive a oportunidade de te conhecer melhor, mas sei que é divertida, meio chatinha as vezes, e tem um coração enorme, ja que não me demitiu ainda por pior que eu tenha sido, inclusive mil desculpas por isso, eu nem imaginava tudo que você esta passando. Mas uma coisa eu sei, que se você continuar falando assim de si mesma, eu vou ter que calar a sua boca - Falo e ela solta uma risada

-Mas você não entende Helena, eu sou imprestável, uma dondoca fútil que não... - É tudo que ela diz antes de eu selar nossos lábios

Coloco minha mão em sua nuca e aprofundo o beijo, esse momento foi mágico, ela largou a tesoura e levou a mão até meus ombros, apertando levemente, era um beijo calmo, e eu estava sentindo tantas coisas ao mesmo tempo, não vou mentir que ja me imaginei beijando ela algumas vezes.. Mas nunca achei que aconteceria, muito menos nessas circunstâncias, meu coração estava acelerado, minha pele quente, e meu corpo todo relaxado ao sentir a maciez de seus lábios nos meus, tinha sabor de maçã verde, era bom, obviamente queria levar isso a um outro nível, mas ela não estava em condições e eu não queria me aproveitar da situação, então separei nossos lábios

-Eu disse que iria calar a sua boca - Falo e dou uma risada de nervosismo, já ela me encara em êxtase e coloca a mão na boca, provavelmente tentando processar o que havia acabado de acontecer - Me desculpa, mesmo, eu não deveria ter feito isso mas era o único jeito de te calar e eu...

Ela me interrompe levando sua mão até minha boca em um sinal de silêncio

-Está tudo bem - Ela diz soltando uma risada, como era bom vê-la feliz, era o sorriso mais lindo que eu já tinha visto, meu coração aqueceu só com isso - Agora eu preciso da sua ajuda para arrumar isso aqui, se não for incomodar - Ela diz apontando para o cabelo

Então eu a levo para um dos únicos salões abertos esse horário, que por coincidência era o de uma amiga minha, ela era bem mais nova, então era como uma filha para mim

-Kate, oi - Digo indo em direção a ela assim que adentro o salão com Clara

-Oi mamis, quanto tempo - Ela diz me dando um abraço

-Mamis? - Pergunta Clara desconfiada

-É só um jeito de falar, e você é? - Ela pergunta para a mulher que está cabisbaixa

-Clara Albuquerque, prazer - Ela diz estendendo a mão e a outra logo recusa, dando-lhe um abraço

-Você é a namorada da minha mamis?

Nos olhamos por um segundo e logo eu solto uma risada, ela faz o mesmo

-Não, na verdade ela é minha chefe - Respondo

-Aham, ta bom então - Ela diz desconfiada - Meu deus o que aconteceu aqui? - Ela diz pegando no cabelo de Clara com uma cara de assustada

-Um imprevisto digamos assim, por isso viemos - Digo

-Vieram ao lugar certo, eu vou dar um jeito nisso, não só no corte, mas acho que tem algo que vai dar um 'tcham em você, confia em mim.

Caminhamos até o local onde seria feito a mudança e apenas observei aquela mulher incrível se tornar mais linda ainda. Olhando para ela durante todo esse processo e lembrando de tudo que havia acabado de acontecer, ela mostrando sua fraqueza para mim e que de certa forma ela confia em mim por ter contado isso tudo que estava acontecendo em sua vida, o beijo que pra ela foi só eu modo de cala-la, mas para mim foi mais do que isso, foi especial, todos esses fatores me fazem perceber que por mais que não nos conhecemos a muito tempo e nos odiávamos no começo... Estava realmente gostando da minha chefe.