•Prieten•

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Alvaro Pov

Prieten (adj.): almas amigavelmente apaixonadas; encanto fraternal.

- Se você não me considerar o melhor amigo do mundo depois disso, você poder ter certeza que você é a pessoa mais ingrata do mundo. – Eu disse, olhando meu cabelo pelo  do carro de Maraisa, enquanto estávamos parados no semáforo a caminho de Roxbury-Um, um dos bairros mais pobre de Boston.

- Eu já considero você o melhor amigo do mundo. – a mulher ao meu lado respondeu, fitando o vazio à nossa frente. – De qualquer forma, você me odiaria se eu considerasse você o melhor amigo do mundo só porque está indo passar a virada do ano em uma festa de calouros.

- Provavelmente! – Exclamei, reconhecendo e saindo com o carro assim que o semáforo mudou para a cor verde. – Você tem que me considerar o melhor amigo do mundo por uma infinidade de outros motivos.

- Não precisa lista-los outra vez, Alvaro. – ela disse, com bom humor. – Eles estão gravados no meu coração de tantas vezes que você já me fez escutar. – Maraisa colocou as duas mãos teatralmente sobre o peito e, pela primeira vez em quase um mês, eu vi um sorriso sincero em seu rosto. – E olhe que eu tenho uma enorme dificuldade em gravar coisas no coração. Você sabe que é meu prieten.

- Olha só quem está sorrindo... – observei em voz alta sem querer e logo calei-me, percebendo que a observação exposta faria minha amiga recuar. – Você é meu prieten também.

Maraisa sorriu fraco e resignou-se ao silêncio, fazendo-me amaldiçoar a mim mesmo por não ter controlado a língua. Cruzou os braços e repousou a cabeça no encosto do banco do carro, enquanto fixava seu olhar em um horizonte perdido à nossa frente.

- Seu carro é muito confortável pra dirigir. – Falei assim que encontrei em minha mente um comentário verídico e que desviasse o assunto para qualquer outro.

- Assunto errado. – Maraisa falou, sem tirar os olhos do horizonte. – Falar sobre o meu carro não vai desviar a minha atenção dela.

Dela”, queria dizer a garota de olhos castanhos, Marilia.

- Me desculpe... – falei, finalmente observando a cor do semáforo mudar para verde e seguindo em direção à rua que procurávamos.

- Não é como se ela realmente tivesse saído da minha cabeça só porque eu ri de alguma coisa. – Maraisa disse em um tom ameno, ainda fitando a rua.

- Eu não entendo... – falei, fazendo a curva para a direita, aproveitando para olhar Maraisa.

- Não vamos discutir isso de novo, alvaro. – Minha amiga falou usando um velho tom de desproteção que antigamente eu a ouvia usar com frequência, mas agora, raramente aparecia.

- Me desculpe, mas eu não consigo. – Falei, atento aos nomes das ruas, para não perder o endereço. – Você está triste assim há meses, Maraisa. Tudo por causa de uma pessoa que, pelo menos aparentemente, também quer você. Isso não faz o menor sentido na minha cabeça.

- Uma pessoa que é minha aluna... – ela começou a responder.

- Isso nunca foi um problema pra você. Desde o início disso, o fato de ela ser sua aluna não impediu você, então nem tente usar isso como desculpa. Não comigo. – Parei o carro, assim que avistei a casa que procurávamos, no acostamento, bem à frente do endereço.

Maraisa suspirou pesadamente e desviou o olhar da rua para mim.

- Eu fui atrás dela, deixei meus sentimentos expostos, expliquei-lhe como minha cabeça funciona, deixei mais do que claro que a queria quando a chamei para sair novamente. – Maraisa disse, olhando-me fixamente. – E ela disse que achava melhor não. – minha amiga disse e aquilo pareceu doer-lhe tanto que teve dificuldade em piscar, de forma que seus olhos se abriram e fecharam lentamente demais. – Foi a decisão dela e eu aceitei isso. Além do mais, você sabe que eu tenho muita dificuldade em lidar com sentimentos. Estou fazendo o que sei fazer. – ela disse.

Wonderfall - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora