7- A Chama da Sedução: Entre Encantos e Desejos.

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Um mês para o dia da luz

Todos abrigamos um lado sombrio que jaz escondido no nosso interior. Esse lado oculto pode se revelar como um surto de raiva inexplicável ou como um momento de prazer que nos trará arrependimento na manhã seguinte. A escuridão, em nós, apresenta-se de forma inesperada, muitas vezes afeta-nos sem que tenhamos a mínima noção da sua presença.

No caso de John, a sua escuridão é tangível. Ele consegue identificar claramente os indícios que ela emite e, surpreendentemente, pode até mesmo comunicar-se com ela. Os sinais desta obscuridade são o Mascarado e a Dra. Ana. No entanto, é em apneia que ele consegue comunicar-se com esse outro lado.

Para John, a interação com a escuridão vai além de uma simples troca metafórica de palavras — é um procedimento meticuloso e calculado. Ele emprega um cronómetro para avaliar o intervalo de tempo que a Escuridão leva para surgir quando ele sustém a respiração em apneia. Assim que a Escuridão faz a sua visita, John regista a duração desse encontro no cronómetro. Para determinar o seu índice de escuridão, ele divide os segundos registados por três. Isso resulta numa métrica exclusiva e pessoal, criada para mensurar e compreender a intensidade da sua escuridão interior.

John concebeu um barómetro particularmente eficaz para monitorizar a sua escuridão. Quando a escuridão se eleva acima do índice 60, é a Dra. Ana que surge nas suas alucinações. Antes de conhecer Maggie, o Mascarado aparecia quando o índice caía abaixo de 40. Agora não, é algo que preocupa John, dizem que temos de ultrapassar o nosso limite para nos conhecermos verdadeiramente. E se a escuridão que nos habita ultrapassar o seu limite?

John percebia a escuridão em equilíbrio quando o índice oscilava entre 40 e 60 — um estado de meio-termo, onde nem a presença do Mascarado, nem da doutora se faziam sentir. Entretanto, nos últimos tempos, a escuridão tem aumentado inexoravelmente. Mesmo as suas boas ações parecem incapazes de mitigá-la.

O Mascarado, agora, faz a sua aparição mesmo quando o nível desce para 52, e continua a subir. No momento, o equilíbrio da escuridão mantém-se entre os índices 52 e 60, um sinal claro de que a escuridão de John está se intensificando, tornando-se cada vez mais inquieta e intrusiva.

A vida é um fio, que separa a existência da Escuridão. Desde aquela festa, na casa de Macguire que a sua escuridão não para de subir. Mas, não é tempo nem hora de pensar nisso. Prazeres e devaneios de loucura, espreitam na calada da noite. As estrelas, aparecidas há pouco, prometem delírios até onde a imaginação alcança.

Com a delicadeza de um amante, John percorria as curvas da sua forma esbelta, sentindo a ardência do desejo na palma das mãos. Ela, em resposta, pulsava com uma energia quase sobrenatural, um doce ritmo selvagem que falava diretamente à alma. Cada toque nas pontas dos dedos encontrava, uma resposta rítmica, num canto íntimo e sensual que ecoava em cada parte do seu ser.

A exploração daquelas linhas, descendo pelo corpo lustroso e firme, produzia uma sinfonia de sons, desde as notas mais baixas que pareciam sussurros sedutores até os gritos altos e agudos de pura entrega. Aquela paleta de sons era como um mapa sensual, onde cada tom, cada vibração, abria uma nova porta para um universo de sensações inexploradas. John delirava com ela.

Sentia o corpo, dela, vibrar contra o seu, ressonâncias sinuosas que se entrelaçavam com as batidas do próprio coração. Cada acorde que tocava nela parecia se abrir num bouquet de emoções, o seu som preenchendo o espaço ao redor como o aroma de uma flor rara e preciosa

De repente, a sua amada entrou no cómodo, John olhou para ela. Maggie estava brilhante.

— Deixe essa maldita guitarra, nem ela está afinada, nem tu a sabes tocar —, ela provocou. A guitarra estava esquecida, mas uma nova dança estava prestes a começar.

Ela é um farol de excitação que emite uma luz tão atraente quanto perigosa. Vestida num traje de flamenco que acentuava a sua figura esbelta, o seu sorriso era malicioso e convidativo, sugestivo de um jogo perigoso. John, vestido a condizer, compreendeu o desafio.

— Será que tenho música suficiente para você? — perguntou, John, sugerindo um convite mais íntimo.

A noite transformou-se num jogo perigoso, um balé de desejo e paixão, um caminho aventureiro que se afastava do comum. O amor deles não se desdobrou apenas como uma dança, mas como uma batalha, uma provocação onde cada movimento trazia uma nova promessa de prazer e um novo risco.

Maggie, com o olhar prometendo uma noite de êxtase, conduziu John ao quarto. As suas roupas entrelaçaram-se na dança erótica deles, os seus desejos se manifestando em cada toque, cada suspiro.

John explorava cada poro do corpo de Maggie, cada curva, cada linha, entregando-se à promessa de prazer e perigo. Ela rendeu-se aos avanços dele, a sua respiração acelerando com cada toque, cada sussurro prometendo uma escuridão deliciosa.

Num momento tranquilo, após saciar os seus desejos, John se encontra refletindo. Os seus pensamentos, embora calmos, estão inquietos com a escuridão que parece crescer dentro dele. "A escuridão dentro de mim está a ficar mais forte, e não sei se posso controlá-la", pensou ele.

John é como um marinheiro sozinho num mar de ilusões. Por fora, ele brilha como ouro, atraindo a atenção das pessoas. Mas por dentro, ele sente-se vazio, sem emoções, e sabe que a escuridão está a tentar preencher esse vazio por completo. Lutar contra isso é um desafio diário.

Muitos veem John como um homem cheio de boas ações. Mas suas verdadeiras intenções são ocultas e muitas vezes sombrias. Desde jovem, John aprendeu a viver com essa escuridão, sabendo que o vazio dentro dele precisava ser preenchido. Ele sempre conseguiu controlar essa escuridão, conviver com ela. Tudo mudou desde que conheceu Maggie, ele sente que está a perder o controle, não consegue parar o aumento da escuridão.

"O maior desafio da vida não é conquistar o mundo, mas enfrentar a própria escuridão", pensou John. Essa ideia ficou na sua mente, como uma promessa silenciosa de futuras lutas contra a escuridão dentro dele.

Já Maggie tem tanto de atraente quanto perigosa, uma manipuladora por natureza. Um desejo de vingança insaciável, John sabe-o bem, mas a atração que sente por ela é maior do que qualquer preocupação que ele possa ter.

— Quero mais, John —, Maggie sussurrou, e nas palavras dela, John sentiu um chamado. Aquela noite, eles não apenas deram vida à semente da escuridão, na relação, mas também fizeram um pacto silencioso. Eles abraçaram o desconhecido, comprometendo-se a buscar a adrenalina e o perigo, dando início a um destino sombrio. Um pacto que promete semear o caos.

Pacto de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora