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Alabama Point of View

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Alabama Point of View.

O som do despertador ecoava pelo cubículo no qual eu carinhosamente chamava de quarto, minhas pálpebras tremularam antes de se abrirem, o feixe de luz solar que adentrava pela fresta quebrada da janela me obrigava a levantar e ir pra mais um dia de trabalho miserável no Jimmy's. Todos os dias era a mesma coisa, e para mim, não havia escolha, eu morava em uma casa de dois metros quadrados em Round Top, no condado de Fayette; a menor cidade do Texas. Todo mundo se conhecia, e eu odiava a todos.

Em 15 minutos eu estava pronta, as mesmas botas de cowboy surradas e a farda ridícula que fazia parecer que eu havia saindo de um episódio de Betty Boop.

— Até mais tarde, pai. —
era como falar com as paredes.

Meu pai era um bêbado que não fazia nada o dia inteiro, além de ficar largado no sofá em meio ao fedor do próprio suor e latas de cerveja, eu tentava manter a limpeza da casa, mas era impossível com alguém que vivia em prol do álcool em suas veias; em prol à algo que o matava aos poucos dia pós dia.

Caminhando pela estrada de areia ao lado da avenida, admirava os carros e caminhões transitarem e ir embora, fazendo aquilo que eu sempre quis mas nunca tive a chance; ir embora. Era impossível juntar dinheiro, quando sozinha, tinha que pagar o aluguel, eletricidade, água e o básico para a alimentação, além de aguentar meu pai roubando o pouco que tinha para comprar cerveja; no fim, não sobrava nada.

— Bom dia Scott! —
Abri a porta de madeira sem pintura, com um vitral no centro, coberto por uma persiana branca.

Éramos os atendentes daquela pequena cafeteria no meio da estrada, onde eu trabalhava como garçonete de 09:00 às 21:00. Fui até meu armário e guardei minha bolsa, caminhei até umas das cadeiras e fiquei sentada em frente ao balcão, esperando algum viajante faminto entrar pela porta, onde o sino ecoaria fazendo soar como se estivéssemos no natal.

— Pra você! —
Scott estendeu um prato com um pedaço de torta de morango em minha direção, eu nunca tomava café da manhã e ele sabia, por isso, fazia questão de me dar sua fatia de torta diária que tínhamos direito no almoço, já que ele optava por levar sua própria comida, assim eu conseguia comer duas fatias de torta por dia.

— Você é um anjo, não sei o que seria de mim sem você nesse nosso inferno particular. — com o garfo, peguei uma porção da torta a levando até a boca.

— Vamos juntar nossas economias e ir embora! quem sabe Los Angeles, sempre foi seu sonho não é? —

Ele falava com aquele riso faceiro nos lábios, e era como uma faca perfurando o meu coração. Todos os anos ele repetia a mesma coisa, todos os dias; mas nunca conseguíamos o suficiente nem para a passagem de ônibus. No início eu nutria esperanças, mas agora eu já havia me conformado que viveria até o dia da minha morte, definhando em Round Top. Faltavam apenas 10 minutos para a cafeteria fechar, o movimento havia sido fraco, até que o sino ecoou pelo estabelecimento e meu coração palpitou aceleradamente ao ver a feição de Mick.

GANGSTA'S PARADISE, TOM KAULITZ.Where stories live. Discover now