31. A galinha dos ovos de ouro

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O maestro ficou olhando para o violinista sem se mover, como uma estátua. A cada segundo de silêncio, o clima ficava mais denso e sombrio. Lee suava frio e sentia o estômago embrulhado, mas não ia recuar. Não depois do que tinha acontecido naquela tarde. Para que mentir? Han Jisung o conquistara no primeiro sorriso, durante aquela única aula de violino. Poderia descrever todas as conversas que haviam dividido com precisão, assim como o gosto de seu beijo mais cedo e a sensação de estar no conforto de seu abraço. Tudo sobre o mais velho era inesquecível para si, provavelmente porque encontrava-se, pela primeira vez na vida, enlouquecidamente apaixonado.

— Ah, Lee! Você é uma figura — Bang começou a rir sozinho, chacoalhando peito ao tombar a cabeça para baixo, gargalhando discretamente.

— Do que está rindo? — Minho piscou, sem entender aquela reação.

— Você quer terminar comigo, então — virou-se de costas, enchendo o copo novamente. Em seguida, caminhou para perto do mais novo, rodeando-o feito uma cascavel prestes a dar o bote. — E quer fazê-lo sob o pretexto de que nossa relação padece de algo. Será que é isso, mesmo? — questionou-se, sem esperar qualquer resposta. — Eu não penso que seja — chegou ainda mais perto, arrastando a ponta do nariz pela sua nuca.

Minho encolheu-se sem fazer qualquer movimento brusco, engolindo em seco.

O verdadeiro motivo está no fato de você estar dando para outro homem, meu querido. É por isso que quer terminar o nosso noivado — sussurrou sagaz. — Eu sinto o cheiro dele nas suas roupas, MinMin. Como se você fosse uma puta depois do expediente.

— N-não diga coisas rudes assim! — Lee afastou-se em um rompante, como um bichinho acuado. — Eu não te amo, Christopher. Sou muito grato por tudo, de coração, mas não é amor. Tenho respeito e admiração, mas essas coisas não sustentam um casamento.

— Você é um romântico iludido. O que sabe sobre casamentos? — deu outro gole, levando a cabeça de um lado para o outro. — De qualquer forma, deixe isso para lá. Você não quer mais se casar. Devo deixá-lo ir, suponho. Afinal, por que manteria alguém ao meu lado contra a sua vontade, não é mesmo? — foi até a gaveta da sala, deixando a peça deslizar pelos trilhos em um ranger baixo e desconfortável aos ouvidos. Calado, puxou dali algumas folhas e foi até Minho, jogando-as sobre a mesa, em sua frente. — Ah, que cabeça a minha. Eu mesmo tenho a resposta. É porque você me deve, meu amor — sorriu ao apontar para as promissórias.

Nesse instante, o coração do violonista começou a bater desgovernado.

Sim, devia. Devia muito.

— Eu sei disso, Bang, e já disse que pagarei cada centavo — tentou não hesitar.

— Claro que pagará, mas não da forma que pensa — o maestro colocou um último papel sobre os outros.

— O que é isso? — correu os olhos pelas letras miúdas que pareciam firmar algum tipo de acordo.

— É um contrato de agenciamento, Lino. Para você tocar pela Europa durante cinco anos. Os shows já estão fechados e logo serão divulgados ao público. Só preciso que assine e tudo ficará certo. Quando terminarmos, vamos para a América.

— Você está tentando me explorar? — mal conseguiu proferir as palavras trêmulas.

— Tsc, que jeito horrível de colocar as coisas. Claro que não — deu um tapinha no ar, afastando aquela ideia absurda. — Eu só quero que nós façamos uso do seu talento da melhor maneira possível.

— Eu sempre deixei claro para você que não tenho o mínimo de interesse em deixar a cidade. Sabe disso melhor do que ninguém. Não quero ficar longe de meus pais e de meus irmãos, sou feliz na orquestra e meu sonho é ocupar o posto de spalla, nada mais — avisou agitado, fechando os dedos na palma das mãos. — Escute, isso não tem cabimento. Pagarei minhas dívidas, mas não vou assinar coisa alguma.

Meu querido professor | Hyunlix | MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora