38. Peças de um crime

223 46 8
                                    

Já passava das sete da manhã e Hyunjin permanecia detido na delegacia. Era suspeito da morte de Yeosang, por mais absurdo que pudesse parecer, e não seria liberado até que o delegado compreendesse o motivo de sua presença na cena do crime. 

De forma solícita, o professor se dispusera a esclarecer tudo o que estivesse ao seu alcance, contribuindo com as autoridades para que o assassinato fosse solucionado o mais rápido possível. Era o mínimo que poderia fazer pela memória de Sang, afinal. O verdadeiro culpado precisava ser preso para que o rapaz pudesse descansar em paz.

O inspetor andava de um lado para o outro com as mãos nas costas, pensativo. Hwang parecia um homem inofensivo, em sua sincera opinião. Chorava como uma criança quando a polícia chegou ao local e olhava para o corpo sem vida com notável tristeza. Se tivesse que palpitar, Choi San diria que ele e o michê haviam sido alvos de algum tipo de armação, enquanto o verdadeiro responsável estava prestes a sumir do mapa.

Evidentemente, não poderia inocentar o professor apenas baseado na intuição. Algo estranho acontecera naquele quarto, criando pistas desconexas que desafiavam a percepção do delegado. E pensar que quando assumira o cargo transferido da capital, fora sob a garantia de que seus dias seriam leves e pacatos. Ledo engano. Não fazia nem mesmo um ano que chefiava a delegacia e agora tinha um assassinato para resolver, digno dos mais estapafúrdios romances policiais.

Sentado atrás da velha mesa de madeira, com os olhos fundos e os cabelos desajeitados, Hwang exibia um ar de agonia. As provas recolhidas estavam expostas em sua frente: uma chave ensanguentada que fora encontrada embaixo da cama, a carta supostamente escrita por seu punho, as flores murchas, o lençol sujo e a frasqueira do garoto de programa.

— Muito bem, Hwang. Você afirma que não é o autor do crime.

— Não, senhor — murmurou com os olhos fixos em um ponto qualquer, abatido.

— Então, quer explicar o que fazia no hotel, segurando a vítima entre os braços?

— Eu... — os dedos alisaram a borda do chapéu, que estava sobre a mesa. — Eu e Yeosang fomos noivos há muitos anos. Ele partiu por motivos pessoais e nos reencontramos casualmente há algumas semanas. Dividimos uma conversa e um café, nada mais. Ele trabalhava no bataclã, como o senhor sabe, mas não parecia feliz. Ontem, no meio da tarde, um menino de recados trouxe uma mensagem de Sang que me deixou aflito. Ele pedia para que o encontrasse nesse hotel e entendi nas entrelinhas que estava prestes a cometer uma insensatez. Veja, eu possuo um relacionamento com outra pessoa e em nenhum momento fui guiado por qualquer intenção maliciosa — ergueu os olhos, mirando o homem alto e corpulento à sua frente. — Só queria que ele ficasse bem e desse uma nova chance para a vida. Infelizmente, atrasei-me, pois o carro de aluguel teve uma pane. Quando cheguei, trinta minutos após o horário marcado, entrei no quarto e achei que ele estivesse o banho devido ao som da água corrente. Esperei durante dez minutos do lado de fora, porém havia algo esquisito naquela situação. Ele não respondia aos meus chamados do outro lado da porta e foi quando decidi entrar. Infelizmente, encontrei-o caído na banheira, já sem vida.

— Compreendo. Você conta que ele foi o responsável por chamá-lo até o local, porém esse recado foi assinado por você. A reserva também estava em seu nome — arrastou o papel sobre a mesa, na direção do outro.

— Não fui o autor dessa carta e não realizei tal reserva.

— Essa não é a sua assinatura?

— De maneira alguma. Posso demonstrar que não se trata da minha caligrafia. Nunca utilizo letra de forma, todos os meus escritos são feitos com letra cursiva, inclusive durante minhas aulas — passou os olhos sobre as frases, contraindo os lábios. — Contudo, se me permite, existe um detalhe a respeito do texto que prendeu a minha atenção.

Meu querido professor | Hyunlix | MinSungDonde viven las historias. Descúbrelo ahora