Capítulo 2

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ANAHÍ

— Querida, que vestido lindo — minha mãe diz, em aprovação, enquanto nos beijávamos sem encostar os lábios uma na outra e fingíamos não notar o interesse das mesas vizinhas.

O The Palm era o lugar favorito da mamãe para ser vista almoçando. E por "almoçar" estava entendido que ela empurraria sua salada de alface no prato enquanto apreciaria sua vodca tônica e pressionaria sua filha em qualquer que fosse o plano que melhoraria mais efetivamente o perfil da família Portilla.

— Você está linda — eu digo, observando suas bochechas brilhantes e seu cabelo recém-penteado.

Nós duas éramos loiras e altas. Mas minha mãe tornou o trabalho de sua vida agarrar-se a cada vestígio de juventude ou, como ela via, de valor. De certa forma, eu imaginava que minha mãe havia plantado de maneira subliminar, a ideia da Perfectie em mim ainda criança.

Certamente, não era o meu sonho de infância desenvolver um redutor de rugas, apesar de aos cinco anos, ter passado um fim de semana inteiro tentando desenvolver curativos para robôs. No entanto, aqui estou eu, a rainha dos cuidados com a pele.

Os redutores de rugas levaram a produtos de prevenção, corretores de tom de pele e hidratantes. As mulheres agora tinham uma linha inteira de armas na luta contra o processo de envelhecimento, provavelmente graças à influência precoce de minha mãe.

Nunca coloquei muito esforço em minha aparência quanto mamãe gostaria, e ela nunca se esforçou muito em fingir interesse pelo meu trabalho quanto eu teria gostado. Era o equilíbrio perfeito de decepções vagas.

Mamãe acaricia seu próprio cabelo com satisfação.

— Oh, eu estou a mesma bagunça de sempre. O salão de beleza teve trabalho essa manhã — ela diz, despreocupadamente.

Eleanor "Temos Uma Responsabilidade" Puente Portilla nunca esteve uma bagunça em toda sua vida.

— Tenho pensado em fazer algo diferente com meu cabelo — penso alto, folheando o menu e me arrependendo instantaneamente.

— Anahí! Não se atreva a fazer algo vulgar, como cortar tudo. Ou, Deus me livre, colocar extensões baratas como as daquela sua amiga, Isa. Ela parece uma dançarina exótica.

Isa, a rebelde compulsiva, apreciaria o horror da minha mãe.

Pedimos o de costume. Saladas de alface crespa com peito de frango grelhado. Se eu estivesse aqui com minhas amigas, teria escolhido peixe ou talvez até mesmo um pequeno filé. Mas, desta forma, eu não tenho que suportar os comentários incisivos da mamãe sobre dieta e tamanho da cintura.

Nós, mulheres Portilla, tínhamos que manter as aparências.

Esse princípio não se estendia aos membros masculinos da família. A cintura do meu pai tinha se expandido de forma constante nos últimos anos, transformando-se em uma pança confortável e redonda. E o bronzeado playboy do meu irmão estava atingindo os tons de George Hamilton.

Mas o valor dos homens Portilla era calculado pelos saldos bancários, não pelo tamanho da cintura ou pelo tom da pele.

Era fácil esquecer que minha mãe crescera sem dinheiro. Ela vestia a riqueza tão bem. O pai dela, meu avô, abandonou a esposa e os dois filhos para se casar com a herdeira de uma empresa de pneus. Quando eles morreram em um acidente de carro, minha mãe de vinte e dois anos herdou uma fortuna respeitável e investiu em se refazer. Aos 24, ela endireitou os dentes, perdeu o sotaque vulgar do meio oeste e chamou a atenção de um rico empresário de Chicago. Ela cumpriu como o esperado até o fim o acordo pré-nupcial e embolsou quase dois milhões de dólares quando se divorciaram civilmente, cinco anos depois. Então se casou com meu pai seis dias depois que seu divórcio fora finalizado.

Miss Independent - Adapt AyA [Finalizada]Where stories live. Discover now