Não é meu.

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Três semanas depois...

Estava tentando conciliar o sono, mas os enjoos matinais estavam ficando piores e não conseguia comer nada nem segurar o que comia quando conseguia comer. Saiu sem ser vista do bordel e foi até o posto de saúde tentar falar com o médico e saber o que estava acontecendo com ela.

- Deu sorte menina, os exames de laboratório saem amanhã bem cedo pra cidade.

- Eu preciso saber se tô grávida, olha doutor não posso engravidar agora, mas nem vou mexer no curumim se ele tiver aqui dentro de mim _ colocou a mão na barriga.

- Não se preocupe, vamos colher seu sangue e se for confirmado pode fazer o pré natal aqui mesmo _ disse simpático.

- Olha eu queria que não fosse um bebê agora, vivo numa grande pindaíba _ riu nervosa e sentou esticando o braço.

- Olha ninguém tá preparado pra ser pai e mãe, mas acontece, quem sabe seu namorado não goste da novidade.

- Eu espero que sim, não sei ser mãe, ainda mais sendo solteira, isso me assusta.

- Vai dá tudo certo, só relaxa um pouco, o técnico vem colher seu sangue _ saiu do consultório.

Ela fechou os olhos e ficou imaginando ela grávida, seu bebê nos braços e o mais louco foi ver em seu sonho Antônio ao seu lado vendo a criança com cara de bobo, com aquela ternura que ele só mostrava no íntimo entre eles.

(...)

Foi Ademir entrar no bar e ela puxando ele para o quarto, o jovem interpretou como uma tentativa de intimidade e foi logo tentando beijar a linda morena, mas ela lhe rejeitou o deixando mais confuso.

- Acha que tá fazendo o que Ademir? Ocê e eu tem mais nada não _ foi dura nas palavras.

- Revivendo nossos bons tempos, pelo jeito já cansou do meu irmão _ segurou ela pela cintura e tentou lhe beijar.

- Tá doido homem! _ o empurrou e foi se afastando sem demora.

- Se não é isso fala logo o que cê quer _ parou olhando pra ela e pos a mão na cintura _ qual o assunto?

- Acho que tô grávida Ademir, e quase certeza que o filho é seu _ colocou as mãos no ventre e deu um sorriso nervoso.

- Meu o que? _ deu uma gargalhada cínica _ nem vem com esse golpe da barriga, filho de puta não se assume.

- Golpe? Não Ademir, eu tenho quase certeza que é teu _ disse perdendo a cor e quase caindo, teve que se sentar na cama.

- É do Antônio, fala pra ele, não me empurra filho dos outros _ disse rude, nem de longe parecia o paciente homem que rastejava aos pés dela.

- Sai do meu quarto! _ apontou a porta _ seu imbecil, esse bebê é meu e só meu entendeu?

- Melhor pra mim e pro meu irmão _ deu de ombros e saiu sem se despedir.

- MALDITO DESGRAÇADO _ jogou a almofada na porta depois que ele saiu.

Naquele mesmo dia horas mais tarde...

Antônio não encontrou sua morena na porta, nem no bar e tão pouco no quarto que costumavam se encontrar, estranhou e foi até Lucinda no seu quarto entrando de uma vez.

- O que te deu homem? _ levantou fechando o robe e foi até ele _ podia tá pelada.

- Onde tá minha morena Cândida? _ seu rosto estava com feições duras.

- A Irene? _ sorriu debochada.

- Sim... É a Irene sim Cândida, me diz logo onde ela tá ou acabo com esse lixo de bordel _ ameaçou com ódio.

- Calminho La Selva, a sua morena não se sentiu bem e tá dormindo lá no quartinho dos fundos.

- Que? Quartinho dos fundos? _ bateu o pé achando um absurdo _ o dinheiro que te pago é pouco pra cuidar do conforto dela?

- Ela é sua exclusiva, mas não sou babá de puta Antônio.

- Bom, eu vou lá ver ela e você vai perder a Irene me entendeu?

- Vai levar pra sua casa Antônio? _ afrontou o homem.

- Não é da sua conta sua quenga velha! _ bufou e foi até a porta mas voltou e a olhou sério _ e se eu quiser enterro esse passado dela de mulher da vida.

- Passado de quenga não se enterra Antônio La Selva, um dia ou outro se descobre.

Ele não deu mais ouvidos, saiu fechando a porta com tudo e seguiu pelo corredor pisando duro até o quarto dos fundos. Abriu a porta e foi até a cama procurando por algum vestígio da mulher, mas não viu suas roupas no guarda roupa e nem suas coisas na penteadeira.

- Mas o que é isso? _ pegou o papel da cama.

" La Selva, por mais que eu repetisse que não era possível o meu coração foi logo se apaixonando por você, apesar de todo mundo falar que puta não se apaixona não tem homem no mundo que eu queira mais nesse momento que o meu fazendeiro estressadinho e carismático. O problema é que não posso continuar na cidade tão perto de você e decidi fugir na surdina pra não encarar a fúria da Cândida, mas principalmente não te ver mais e confundir meus bobos sentimentos."

Ele pegou o papel e antes de guardar no bolso ficou relendo muitas vezes pra entender aquelas palavras, parecia mentira que sua morena estivesse fugindo daquela maneira, procurou pensar num lugar óbvio que ela fosse naquele momento e lembrou da rodoviária, desceu com pressa e não falou nem com Ademir que já estava no bar agarrado a uma da mulheres.

Tempos atuais...

Quando Ramiro entrou não esperava ver a patroa na gargalhada guardando a arma na bolsa tranquilamente e o patrão gritando como um louco cheio de fúria.

- MALUCA... VOCÊ É DOIDA IRENE LA SELVA!!! _ apontou o dedo pra ela, balançando com frenesi.

- Não se preocupe, vai sarar depressa, foi de raspão _ se segurou pra não rir mais e irritar o marido.

- Na minha coxa? Queria atirar pra me assustar ou pra matar? _ travou o maxilar de ódio.

- Os dois, mas já que eu te assustei estamos bem né La Selva? _ cruzou os braços sorrindo com superioridade.

- Bem? Bem onde sua maluca? _ colocou a mão na coxa _ desgraça de dor.

- Ramiro ajude seu patrão a ir pro carro, mas pelos fundos ok? _ apontou a porta com tranquilidade _ não quero falatório do seu patrão pela cidade.

- Sim patroa _ foi ajudar Antônio.

Foi até o patrão ficando ao seu lado e Antônio segurou por cima dos hombros do capataz, saindo mancando e reclamando de dor. Enquanto o marido saia pelos fundos Irene desceu até o bar e encontrou com Berenice, foi até ela e a encarou.

- Se eu tiver que voltar aqui pode ir se despedindo da vida me entendeu? _ estava parada na frente da moça com uma cara nada agradável.

- Acha que eu tenho medo de você? _ foi peitar Irene sem medo.

- Devia ter moleca rameira, acha que eu cheguei aqui como? _ falou altiva e olhou ela de cima pra baixo _ eu e Antônio estamos juntos há muitos anos e não é um casinho sem importância que vai nos separar.

- Sem importância? _ riu sínica _ não é isso que ele me disse da última vez, seu maridinho se declarou pra mim.

- Se declarou? _ deu uma gargalhada debochada e balançou a cabeça negativamente _ bobinha, o Antônio é mesmo um emocionado quando se trata de quenga.

- Foi assim com você pelo jeito _ balançou a cabeça rindo _ tá com medo de perder o posto de primeira dama da soja?

- Comigo o buraco é mais embaixo _ tirou o revólver da bolsa _ te tiro do caminho sem da tempo de explicação.

- Maluca violenta _ levantou os braços tomando distância _ sai do meu bar.

Assim que Irene guardou a arma na bolsa deu uma gargalhada gostosa, adorando aquele terror instalado. Berenice sabia que mexer com a primeira dama La Selva era ter o perigo lado a lado, mas não ia desistir tão fácil do seu gatão peludo, o sugar daddy milionário.

Coração Alado 💓Où les histoires vivent. Découvrez maintenant