Mentira e Consequência

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...

Dias atuais fazenda La Selva... Quarto do casal.

Mesmo com Irene cuidando dele as coisas estavam estranhas e complicadas para Antônio, depois de tantas discussões com a esposa ele tinha se tocado o quão burro foi em se afastar dela e renegar Daniel, aquele menino era seu filho, tinha o sangue dos La Selva e o de sua esposa. Era mais uma noite em que os dois estavam no mesmo quarto, mas não compartilhavam mais a mesma conversa, era cada um calado no seu canto sem pronunciar nem uma palavra entre si, dois estranhos que se conheciam muito bem. O problema era que a esposa estava cada dia mais sexy, Antônio subía pelas paredes cada vez que sentia o perfume de Irene por todo quarto, e quando a mulher desfilava na sua frente só de camisola indo para penteadeira e sentando pra começar a arrumar as lindas madeixas.

— Ei morena! _ levantou da cama indo até ela _ quer dá uma volta comigo antes de dormir?

— Não estou afim de sair com traidor e mentiroso, que tá me querendo porque tá na seca há um bom tempo _ continuou penteando os cabelos.

— Sou seu marido, o que custa da uma volta comigo? _ disse com todo seu charme _ vamo na caminhonete, você adora ir nas plantações.

— Custa sim, e os chifres que tenho na cabeça? _ se virou e encarou ele _ não pensou que isso me magoaria? Você não me ama e ainda mais me traiu.

— Chifres? _ riu, mas depois ficou serio _ não morena, meu coração é teu.

— Não me dirija a palavra, nem queira me chamar por esse apelido ridículo.

— Mas você gostava, o que te deu pra não gostar mais? _ disse sem entender aquela reação.

— Eu começo com a parte da traição e os chifres enormes na minha cabeça ou a que você tá com medo de perder metade da sua fortuna numa possível separação? _ falou curta e grossa.

Anos Atrás... Casa principal dos La Selva.

A ideia de estar num lugar tão grande e luxuoso não assustava Irene, a casa de Antônio parecia ter saído de uma novela das nove de tão linda e grande, cheia de pequenos detalhes que ali faziam a diferença. Enquanto estava se instalando no lugar era observada por seu enteado, Caio não estava feliz com a chegada de Irene e já tinha em mente o que fazer pra levar ela pra longe do pai e daquela casa.

— Irene? _ se aproximou dela de cabeça baixa.

— Oi Caio _ se agachou ficando do tamanho dele _ aconteceu alguma coisa?

— Meu pai prometeu levar eu pro rio e agora sumiu, pode me levar?

— Eu podia mas, eu não sei nadar e você é pequeno de mais pode se afogar.

— Eu sou bom nadador, a gente faz um piquenique _ disse já correndo pra cozinha.

— Caio? _ deixou o que tinha nas mãos em cima do sofá e foi atrás dele _ olha eu adorei a ideia mas...

— Já pedi pra Angelina preparar tudo _ deu um sorriso sapeca e correu saindo da cozinha.

— Esse menino é um amor, disse que te convidou pra um piquenique nas plantações.

— Então ou ele mudou de ideia ou eu entendi errado, o caio falou de um rio.

— Nem chegue perto se não sabe nadar, é uma correnteza danada que te leva!

— Eu vou seguir seu conselho Angelina _ olhou a cesta e sorriu nervosa _ não sei nadar bem.

— O doutor Antônio não deixa o menino brincar por lá, então toma cuidado _ deu a cesta a ela e saiu _ esse Caio é espoleta.

— Era o que faltava pra mim, agora ser babá de enteado _ suspirou voltando pra sala.

Os dois saíram a pé em direção a plantação, mas como Irene não conhecia nada foi Caio o guia para ela, andaram pouco mais de quinze minutos e chegaram nas margens do rio e a mulher não gostou nada daquilo e ficou nervosa, o menino foi ardiloso e mal tinham chegado já estava se preparando pra entrar na água. 

— Vamo Irene, vem comigo... _ já estava com os pés na água _ cê num é bruxa pra derreter na água.

— Eu não sou, mas também não sei nadar bem, você disse que a gente ia pras plantação _ foi atrás dele _ não é bom mentir, pensei que a gente tava se dando bem.

— Um banhozinho de rio não mata ninguém _ bateu na água se divertindo.

— Ai menino, essas pedras são um sabão... vou acabar cain... _ pisou em falso numa pedra e escorregou caindo na água com tudo.

Foi tudo tão rápido que Caio não viu mais Irene na superfície, tentou nadar perto de onde ela caiu e quase foi arrastado pela correnteza que estava mais forte naquele trecho, foi até a outra margem e correu pra parte mais alta da estrada e conseguiu ver a mulher presa entre pedaços de arvore represados na beira do rio.  Desceu correndo e atravessou as plantações e foi a procura do pai, mas achou um dos peões e segurou seu braço bem assustado, o menino tinha uma expressão pálida que já denotava que algo estava errado naquele momento.

— Tem que me ajudar seu Paulo, fui fazer uma brincadeira e me estrepei _ ele estava ofegante. 

— Brincadeira? _ o homem rude olhou o pequeno desconfiado _ matou quem?

— Minha madrasta, eu menti e levei ela pro rio, a correnteza levou ela até a represa de arvore caída _ explicou apressado _ a gente tem que salvar, meu pai vai me matar. 

— Caio, seu pai vai te matar _ segurou o garoto pelo braço e saiu arrastando ele ate a caminhonete _ pega o radio e fala com a Angelina, avisa pra ela esperar a gente na frente da porteira.

— Tá... me espera moleque _ pegou uma corda e saiu correndo.

Foram minutos angustiantes, mas ao ver Paulo aparecendo com Irene nos braços se sentiu mais calmo e ajudou abrindo a porta e dando espaço pra ela ficar deitada no banco de passageiro. Ela estava desacordada e com um corte profundo na cabeça e outros dois na região do tronco, suas roupas molhadas e rasgadas davam um tom ainda mais desesperador pro momento. 

Coração Alado 💓Where stories live. Discover now