07. Fort Nelson

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"Olha, se não é Sora Williams." - comentou o xerife que se aproximava da garota que estava tomando o café da manhã no antigo restaurante e mais característico da cidade.

Ela arregalou os olhos e deu de cara com aquele senhor alto e ruivo, com o uniforme da polícia Canadense. Ele tinha um sorriso amplo e brilhante por baixo do longo bigode. Sora não esperava ser abordada por qualquer um, principalmente pelo Xerife Oliver Mackenzie, ela planejava uma ida discreta à cidade, e a última coisa que queria fazer ela conversar com qualquer um. E ela não era qualquer uma, só a filha de um Coronel do Exercício.

A patente do seu pai e do seu ex-namorado a perseguiriam por onde quer que fosse, ela era a garota de ouro daquela região, como tinha sido a sua mãe um dia. Dotada de bons costumes, esperta, tímida e educada, era a imagem que Sora Williams tinha criado para si desde pequena e desde que tinha decidido morar na Cabana depois de ter desistindo da faculdade de Medicina de Vancouver. Ela não queria e não podia dar motivos para que o seu nome e a sua imagem fossem manchadas, ela tinha muita coisa nas costas, após a morte de Campbell e principalmente, depois do evento no meio da floresta que aterrorizava muitas de suas noites.

O xerife a abordar ali, era algo que a fez gelar imediatamente, mas ela sabia que não havia nada a ser descoberto, tinha sido logo após a notícia da morte do seu companheiro então, aquilo tinha provavelmente, caído no esquecimento da investigação do Xerife.

"Olá, Oliver." - ela sorriu, por dentro, manteve a calma e logo após bebericou o café. Pousou a xícara no pires e o encarou. - "Sente-se."

"Ah não, eu já estou de saída, mas obrigado." - Ele sorriu novamente e gesticulava, era como se ele genuinamente estivesse feliz por ver a garota. - "Finalmente você saiu da toca!" - comentou orgulhoso enquanto colocava as mãos na cintura.

"Ah sim! Eu vim trazer uma mercadoria e vim consertar o rádio."

"Ahh, finalmente."

"E é claro, dar um jeito na velha D20." - ela afastou a xícara já vazia, e meio envergonhada até por ter deixado o carro chegar naquelas condições e coçou de leve o braço direito.

"A velha, hehe. Então, finalmente podemos contar com você." - Ele lhe lançou um olhar certeiro, a comunicação com ela era algo que Mackenzie já almejava há muito tempo, por ter visto a garota ir em temporadas desde pequena a cidade e depois com seus pais, para a secreta cabana nas montanhas.

Ele tinha um carinho por Sora, e ela estar incomunicável, o pegava de vez em quando, quando se lembrava do seu pai, que inclusive era um amigo de longa data seu.

"Sempre, mas como eu te disse, lá em cima quase não há nada acontecendo, a não ser um caçador aqui e ali, mas eu te garanto que eles sempre vão nas épocas certas que o governo define, e os irregulares, bom, eles nunca se aproximaram da minha casa."

"Ah, é bom saber disso." - Ele se mantinha de pé do outro lado da mesa, ele olhava para a janela pensando em como continuar o diálogo com ela. - "Assim que ligar o rádio, me dê uma chamada, ok?"

"Claro, Olie. "

"Perfeito, bom, eu vou voltar a ativa, temos recebido algumas informações, tem algo acontecendo nessas montanhas."

Aquilo deixou Sora em alerta, mas ela se controlou ao máximo para não demonstrar o mínimo de preocupação.

"E temos que encerrar aquele caso, daquele homem."

"qual homem?"

"Aquele fugitivo, aquele caçador que operava traficando pessoas, ele esta desaparecido e apesar de ser um lixo, a gente acha que tem algo a ver com o que esta acontecendo por aí."

Aquela afirmação deixou Sora com o coração pesado, ele estaria vivo? Seria mesmo? Ela achava que o tinha matado, e agora, o que aconteceria se eles achassem aquele corpo... Naquela região, não, ela fez tudo de maneira limpa e até o momento, só existiriam ossos.

"Ah sim, então, pode deixar que eu vou ficar atenta! E pode deixar que assim que eu chegar, eu ativo o rádio!:

"Perfeito, Sory! Enfim, bom de ver, não suma, depois venha com mais calma,  Suzanna vai adorar te ver de novo."- ele comentou já se afastando e se despedindo.

"Pode deixar." - ela sorriu e bateu a mão para ele também.

Oliver saiu pela porta sorridente.

"Puta merda." - ela soltou entre os dentes. Levantou e deixou o pagamento do seu café no balcão, agradadeceu à atendente e saiu pela porta do restaurante.

Ela já havia entregue a mercadoria ao cliente, que era de um restaurante renomado em Vancouver, e já estava com a sua quantia na conta. Ela ligou o telefone, pegou o sinal da Internet e e quanto andava pelas ruas lentamente, ela ia passando pelas mensagens e via antigos contatos perguntando dela, sem resposta, parentes, amigos da faculdade, possíveis relacionamentos que ela deixou para trás, todos inacabados e sem resposta. No horizonte, as montanhas de topo branco que ficavam na direção contrária da sua cabana, ela suspirou, parou, observou e talvez fosse o momento de apenas dar um mínimo sinal de vida. Enquadrou a câmera do telefone, e no cenário, as casinhas antigas e tradicionais de Fort Nelson a rua no meio e ao longe, as imponentes montanhas com seus picos brancos e neblinados.

"Alive at all." era a legenda da foto e logo depois guardou o telefone no bolso e voltou seu caminho até a oficina. Ela tentava ocupar sua mente com outros pensamentos, as coisas que tinha que comprar e com Simon lá, se caso ele ficasse bem, seria uma pessoa que poderia ajudá-la com alguns reparos na casa, ela não iria conseguir fazer tudo sozinha e de certa forma, ele devia algo a ela. Ao chegar a oficina, ela deu de cara com uma D20 que estava dando um certo trabalho para o velho mecânico, que talvez entregaria o carro só no dia seguinte, o que foi um banho de água fria para Sora.

Não tinha muito o que ser feito, ela esteve protelando demais de ajeitar o carro e dessa vez, tinha que arcar com a consequência da sua procrastinação de arrumá-lo. Ela usava as mesmas roupas que tinha usado pra sair de casa, apesar de nublado, ela usava seu chapéu negro e o poncho, que a protegia dos leves pingos de chuva que voltavam a cair. Já que ela ficaria mais um dia seria sensato visitar Oliver e a mulher? O encontro de ambos já deixou a garota ansiosa e preocupada novamente, ela não sabia até que ponto Oliver saberia ler suas expressões e talvez desconfiar dela, como ela estava isolada lá, talvez fosse algo que ele investigaria, ela pensou e iria até a sua casa, não visitá-lo sabendo que teria mais um dia na cidade seria uma bandeira vermelha que ela colocaria na sua cabeça. Ela tinha que ser o mais amigável possível.

Wolf and RavenOnde histórias criam vida. Descubra agora