17. Storm

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Simon sonha, e em seu sonho, há sangue na neve. Ele acorda assustado, como de costume, devido ao seu estresse pós-traumático que se tornou rotina há alguns anos. O susto faz com que as memórias do sonho desaparecessem, como se ele nunca tivesse sonhado naquela noite. Ele vira para o lado, e Sora dorme pacificamente. Nenhum deles conseguiu manter o compromisso de ficarem acordados, os seus corpos estavam chegando no limite e seriam pelo menos, mais algumas horas de caminhada.

"Sora." - ele aperta com gentileza o ombro da moça.

Durante a noite, a neve se intensificou, e o seu chapéu e o poncho estavam cobertos dela. Ela abre os olhos lentamente e se abraça com mais força, a claridade da neve ofusca seus olhos e seu coração acelera, eles haviam dormido bem mais que o esperado.

"Temos que ir." - ele anuncia enquanto entrega a ela um saco de biscoitos que tinha coletado da Cabana.

"Nós dormimos demais." - ela fala preocupada mas aceita os biscoitos, tira um do pacote e o mordisca.

"Tivemos sorte, temos que contar que eles não vão ser ousados o suficiente de aparecer agora de dia... Pelo menos eu acho que a neve encobriu nosso rastro."

Ambos se levantam, e começam a arrumar suas coisas, Simon para petrificado, quando nota uma luz vermelha brilhar do meio das árvores e mirar no ombro de Sora, o brilho vai subindo até encontrar seu chapéu. Ele tem segundos para agir, e seu impulso foi imediatamente jogar Sora no chão. A cadência do tiro faz com que ele perfure a árvore que estava atrás deles e milhares de pedaços de madeiras irem ao ar.

"Foge daqui!" - ele grita a ela, que tem segundos para digerir o que estava acontecendo.

Sora não pensa, ela sai correndo com a semiautomática na mão sem ter tempo de saber de onde veio o tiro, seu foco é sair da floresta e correr o mais rápido possível para longe do campo de visão do inimigo. Simon não tem tempo para pensar, ou ele tenta enfrentá-los e buscar a origem do tiro ou foge, deixando Sora na mão.

"De novo não." - ele pensa enquanto engatilha o fuzil.

O primeiro tiro do inimigo tinha sido o início da investida, e Simon, enquanto se via no fogo cruzado, tentava mapear a quantidade de direções de que vinham, ele corria abaixado procurando a melhor posição para atirar, inevitavelmente, ele havia avistado pelo menos 5 pessoas ali. Mentalmente, ele criava uma estratégia para que conseguisse abater todos, em tempo de ir atrás de Sora, pelo que ele tinha imaginado, metade dos homens estavam ali. Em meio a adrenalina de tiros e madeira sendo estilhaçada, ele conseguiu acertar dois homens de balaclava que se mostraram.

Sora ouvia os tiros se distanciando atrás dela, e inevitavelmente, seu chapéu voou para trás no desespero da corrida em direção ao campo aberto, para chegar na cidade, era um caminho que a deixaria visível e a vulnerável se quisessem matá-la. Ela tinha que tentar acertar quem estivesse atrás dela e não demorou muito para que ela ouvisse o barulho de passos sobre a neve atrás dela e logo, tiros. A adrenalina tomava conta do seu corpo, ela tinha que parar e lutar, ou seria pega em campo aberto.

Ela parou atrás de uma árvore, carregou a arma e atirou de volta, pegando um dos homens de surpresa no olho, o grito de desespero dele ecoou pela floresta, e Simon, de cima, ouviu o choro. Ele tinha que se manter frio, assim que percebeu que tinha dado um tempo a ela, ele resolveu ir avançando pelo menos caminho que ela. Involuntariamente ele levou a mão a onde ficava seu comunicador e assim que lembrou do gesto involuntário, amaldiçoou o equipamento que havia sido danificado pelas águas do rio de que tinha saído.

Simon decidiu que iria correr, e pegar o restante que poderia estar atrás de Sora por trás, sendo que acreditava ter eliminado os cinco homens que o encurralaram a princípio. Por entre as árvores, ele conseguiu ver uma imensidão branca, e amaldiçoou novamente por ser um espaço completamente aberto.

"Sora, não..." - pensou Simon, enquanto vislumbrava o desastre acontecer.

Apesar de James tê-la ensinado como caçar, era bem diferente quando era ela que estava sendo caçada, o que ela poderia fazer era tentar se esquivar dos tiros, atirar de volta, muitas vezes sem saber exatamente onde estava seu alvo e ter esperança de que fosse atingir seus perseguidores. Desestabilizada pela perseguição, com o psicológico abalado pelo medo e ansiedade de ser morta, ela não pensou duas vezes e seguiu em frente rumo ao campo aberto.
Durante o ano, aquele campo possuía uma grama baixa e era salpicado de pequenas flores amarelas e vermelhas, em uma área ou outra, uma solitária árvore se erguia. Naquele dia, o verde gramado tinha dado lugar a neve que batia nas canelas de Sora.

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