Capítulo 9

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Acabamos não jogando na sexta-feira e ainda por cima perdemos, então Kun está quieto e os outros estão com o humor lá embaixo.

Já eu, tenho que me manter funcionando para o trabalho na cafeteria.

Desde que Doyoung e eu estamos tentando nos dar melhor, temos feito algum progresso.

Atendo um cliente no balcão e Doyoung já começa a esquentar os donuts que o cliente escolheu enquanto eu preparo o café do pedido.

Ele faz seus pedidos sem me atrapalhar e eu tento fazer o mesmo. Ninguém andou chamando a nossa atenção e eu meio que quero sorrir por isso.

— Olha como vocês estão trabalhando bem juntos! — Meu sorriso e a possibilidade de comentar qualquer coisa com Doyoung morre assim que escuto a voz de Yuta.

Viro o rosto e o encontro sentado em um banco da lateral do balcão. Doyoung lança um olhar meio assustador para ele.

— Essa é a coisa mais sinistra que você já disse e que eu já ouvi — ele diz, com o semblante e o tom rude. — Você nunca mais deveria dizer isso.

Eu desvio o olhar deles para terminar de colocar outro pedido para viagem em um saco de papel com a logo da faculdade e rio dele. É a cara de Doyoung dizer isso.

Eu viro o rosto de novo e me surpreendo com seus olhos chocados, focados em mim.

O que eu fiz?

— Nunca vai perder a graça a forma como vocês dois tem uma crise quando se vêem fazendo algo normal perto um do outro ou agindo como amigos. — Yuta suspira com um sorriso de quem está achando graça.

— Nós não somos amigos — Doyoung fala assim que não está mais estático no lugar. Ele lança um último olhar no Yuta, que eu não consigo ver de onde estou e aí volta a trabalhar.

Por um momento eu esqueço do meu pedido. Mas tudo bem, eu sei bem que Doyoung e eu estamos longe de sermos amigos. Nós nos toleramos. Apenas isso.

— Eu quero um macchiato — pede Yuta a ele.

— Sente-se em uma das mesas — manda Doyoung. — Daqui a pouco eu entrego.

Yuta assente e desce do banco para procurar uma mesa vaga. Enquanto isso, continuo terminando mais pedidos.

Eu estico a mão para pegar a tampa do copo plástico que deixei separada na parte interna do balcão, mas minha mão pega a de Doyoung no lugar.

Nós nos encaramos, confusos, e só então noto que ele ia pegar a minha tampa. Solto a mão dele primeiro.

— Era... minha. — Meu rosto começa a esquentar.

— Hm. — Ele coloca a tampa no meu copo e vira para pegar outra e pôr no seu, sem discutir e nem nada. Observo seu perfil, o uniforme com camisa social preta com os primeiros botões abertos e seu pescoço avermelhado como se sua pele estivesse quente. Desvio o olhar antes que o calor que estou sentindo por todo o meu rosto piore.

— O que vocês vão fazer mais tarde? — Yuta volta pro balcão e debruça os braços sobre ele.

— Treinar com Kun? — soa como uma pergunta, mas é que estou meio confuso sobre o que acabou de acontecer.

— Não vão, não — Yuta refuta minha resposta com tanta rapidez que eu e Doyoung olhamos para ele e paramos o que estamos fazendo. — Kun quer fazer uma festa da equipe com as Tigresas. — Ele nota que estou franzindo a testa e já explica: — A equipe feminina da CKU. Elas assistiram nosso jogo de sexta-feira.

Assinto, mas eu não queria ir a nenhuma festa.

— Vocês não podem faltar — Yuta pega o macchiato que Doyoung entrega a ele e dá um gole. Ele tira algumas notas em seguida e entrega. — Tá todo mundo desanimado, precisamos nos divertir.

— Certo — Doyoung responde e volta para seu lugar.

Yuta olha na direção dele e depois para mim.

— Você não pode deixar ele faltar.

— Eu? — pergunto, mas ele vira e vai embora.

Não volto a falar e nem a olhar diretamente para Doyoung até que estejamos nos trocando na parte interna da cafeteria, onde fica o pequeno vestiário com alguns armários apertados na parede.

— Devemos mesmo ir nessa festa?

Ele me olha de lado, abotoando o par de botões de sua camisa normal. Seu cabelo preto está meio bagunçado por ele ter que passá-la pela cabeça. Eu viro e visto minha camiseta enquanto ele me responde.

— Se não formos eles vão nos tratar pior no próximo treino.

Fico surpreso que ele se importe.

— Bom, nós não precisamos ser pontuais — digo, com um tom sugestivo. Quando levanto a cabeça percebo ele parado e me encarando com as sobrancelhas apertadas. O que eu disse? — Só vou treinar por uma hora.

— Claro — ele responde e bate a porta do armário metálico. — Você sabe que uma hora a mais não vai mudar nada, né?

— Não é por isso. — Aproximo-me e apoio a mão no armário atrás dele. — É sobre estar na pista. Nós temos que ir para a aula de manhã três dias da semana e trabalhar a tarde todos os seis. E tudo isso para estar na pista. Se no fim eu não estiver lá, por que estou fazendo tudo isso? — Olho para ele e só então percebo que suas costas estão contra o armário e eu estou de frente para ele. E esse é o mais perto que já estivemos fora da pista.

— Você joga por paixão.

— Você não? — rebato, surpreso.

Doyoung balança a cabeça como se quisesse afastar a pergunta.

— É mais complicado do que isso. — Seus olhos escuros estão tão perto que não consigo desviar meu olhar.

— O que pode ser tão complicado? — pergunto num tom baixo.

Ele abaixa a cabeça e estende a mão entre nós. Seguro a respiração quando ele toca meu peito, mas só para me empurrar para trás.

— Eu? — Ele olha para mim de novo. — Tudo sobre mim. Vamos, estamos perdendo tempo aqui, perdedor.

Como (não) destruir seu adversário » dojaeTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang