Capítulo 27

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— Doyoung, eu disse que isso foi tudo o que ela disse.

Nós paramos no caminho para o vestiário após o resfriamento, e olhamos para o treinador e Doyoung no fim do corredor. Eles parecem estar tendo uma discussão acalorada. Bom, pelo menos por parte do Doyoung, que o olha como se quisesse passar por cima dele com um carro caso o visse em uma faixa de pedestre.

— Eu falei que não era para aceitar nenhuma chamada dela.

— Por quê? Você precisa pelo menos me dar um motivo. Eu preciso saber como ajudar você.

Doyoung sai do alcance dele quando o treinador tenta tocar seu ombro. Mas isso não é tudo. O olhar magoado do treinador fica chocado quando Doyoung joga seu capacete na parede.

A explosão sonora faz o corpo de todos ao meu redor ficar tenso com o susto, inclusive o meu.

— Não se mete na minha vida. Eu não ligo se você for o presidente do fã clube do meu pai. Só... pare de agir como se soubesse de alguma coisa.

— Doyoung. — Kun se aproxima para acalmá-lo, porém Doyoung o ignora e continua encarando o treinador como se esperasse para ver se ele tentaria dizer mais alguma coisa. Quando o treinador o olha com pena e assente, Doyoung se afasta e parte na nossa direção, ignorando os murmúrios e o olhar da equipe sobre ele. Seus olhos cruzam com os meus no caminho, mas eu mantenho o meu estoico e viro para ir me trocar.

— Doyoung só tem atrapalhado a equipe — diz alguém no caminho. — Como ele pode falar com o treinador daquele jeito? Ele passou dos limites desta vez.

— O treinador é o único que está sempre lá para nos ajudar. Cara, quando eu estava tendo problemas financeiros no ano retrasado, ele foi o único que me ouviu.

— Ele me consolou quando minha avó faleceu na páscoa e entendeu porque eu estava jogando feito lixo.

— Acho que o Doyoung se acha bom demais para enxergar que o treinador é um cara do bem.

A conversa se prolonga nos chuveiros e até depois de eu sair de lá.

Mas não importa o quão longe eu esteja, as vozes dos meus colegas ficam se repetindo na minha mente. E quer saber? Nenhuma descrição, afirmação ou xingamento, bate com a imagem do Doyoung sorrindo debaixo de mim na minha cama nas férias. O som da sua risada... Céus, eu sinto saudade de ouvi-lo. Tocá-lo.

Eu paro perto da porta do meu quarto quando vejo as pernas em frente a minha porta. Doyoung está de costas, destrancando-a com sua chave. Meu olhar sobe por cada parte do seu corpo e um alívio estranho me conforta por um tempo.

Bobagem. Por que eu ficaria aliviado? Ele já deixou claro que não vai voltar para mim depois de me ignorar por todos esses dias.

Seus olhos escuros encaram os meus, e eu odeio que os restos do meu coração se estilhassem ainda mais ao notar a região de seus olhos vermelha, assim como a pontinha de seu nariz.

Eu espero que ele diga alguma coisa. Qualquer coisa. Mas quando a trava da porta estala e ele vira o rosto para encarar nosso quarto, meu peito despenca. Não sei porque eu achei que seria diferente.

Eu passo por ele, sem me importar em ser educado, e procuro por um dos meus livros da faculdade para ir estudar em qualquer outro lugar enquanto ele está aqui. Mas enquanto eu não o encontro entre a bagunça em que eu deixei esse lugar, meus olhos continuam desviando na direção dele uma e outra vez, notando-o separando algumas roupas em uma mochila.

Meus olhos ardem e eu quero desesperadamente cair de joelhos.

Ele vai mesmo me deixar?

Sem essa. Ele não pode fazer isso comigo. Ele não pode chegar até mim e destruir todas as barreiras entre nós, se fixar em um lugar e então desaparecer deixando-o vazio!

Não demora muito para ele notar que o estou encarando, porém seus movimentos invés de pararem, apenas ficam mais lentos. Ele franze as sobrancelhas, confuso e com raiva de mim por algum motivo, mas eu não digo nada.

Posso sentir no ar, sua paciência se esvaindo aos poucos.

A tensão cresce no silêncio entre nós dois e se torna tão física que parece palpável.

Foda-se ele. Ele destruiu algo em mim e nem parece se sentir culpado por isso.

Sinto a mudança tênue, leve como dar um passo para o outro lado de uma linha invisível. É quase perigoso. Eu o odeio.

Eu odeio Kim Doyoung.

Eu odeio que mesmo quando ele para de colocar uma blusa na bolsa e ao invés disso a arremessa na cama, se virando para mim com olhos furiosos, eu ainda estou esperando que ele desfaça os últimos meses. Que ele me explique o que deu errado entre nós dois.

Por que pareciamos tão bem quando estavámos longe da faculdade?

Por que ele me deixou beijá-lo, abraçá-lo e aceitou que eu enxugasse suas lágrimas?

Eu achei que estivesse conhecendo um Doyoung que ninguém mais conhecia, mas não passou de uma ilusão. Esse é quem ele é?

Seus olhos escurecem e ele para de frente para mim, a raiva flutuando ao seu redor.

— Cuida da sua vida.

— Eu não tô nem aí pra você — digo, mentindo descaradamente. Pelo menos tenho orgulho do quanto isso parece verdade na minha voz firme.

Ele pisca, me olhando confuso.

Volto a procurar meu livro, porque eu preciso sair do quarto logo, antes que ele faça a mesma coisa que fez naquele dia no clube. Eu não quero ouvir o quanto ele tem certeza de que gosto dele, de que o quero. Porque, deus, eu o quero sim. Mas nunca vou admitir se isso só fizer bem ao seu ego.

Porque é só isso que essa constatação faz. Ele não está apaixonado por mim. Não importa o quanto destrua o restinho do meu coração. Ele não está apaixonado por mim. Ele vai embora. Em algumas semanas será como costumávamos ser. Não. Ele não está apaixonado por mim. Será como se não nos conhecêssemos. Seremos estranhos.

— Eu não acredito em você.

Eu paro de andar, congelando com suas palavras. Não vou deixar que ele comece isso de novo. Que ele manipule meus sentimentos assim. Eu volto para perto dele. Nossos rostos ficam próximos.

— Você quer foder? — Seus olhos escuros se arregalam, chocados. — É por isso que está falando comigo de novo?

— O quê? — Ele quase gagueja.

— Eu perguntei se você quer transar. Não foi isso que você disse que eu era? Só um colega com quem dormir. — Sua respiração trêmula bate no meu rosto. Eu odeio o olhar aterrorizado no seu rosto, mas cansei dele me tratar como se eu não fosse a porra de um ser humano com sentimentos também. Sentimentos por ele. — Você não vai dizer nada? Céus, como você é patético, Kim Doyoung.

Tomo um susto quando seus braços me prendem, agarrados ao meu pescoço e os seus lábios cobrem os meus num beijo. Não me orgulho que não demore nada para o choque passar e eu retribuir seus beijos. Minhas mãos seguram seus quadris e o prendem no lugar enquanto sua boca e sua língua deslizam sobre a minha.

Seus dedos puxam o cabelo da minha nuca e eu ouço meu nome nos seus lábios, baixinho, quando nos afastamos para respirar. Mas não tenho tempo de processar, porque minha boca encontra a dele de novo e um gemido rouco escapa entre nossos lábios pressionados.

Droga, não sei mais o que estou fazendo. Não sei mais o que eu queria provar para ele.

Sua risada na minha boca, faz com que eu me afaste para olhar os seus olhos fechados. Seu sorriso me deixa em conflito, por ser algo que eu vivo querendo ver, mas nessa situação ele não pode significar nada de bom.

Não importa como eu queira esconder. Eu não consigo mentir depois de beijá-lo assim.

Meus ombros caem com a percepção de que perdi.

— Você ainda não sabe, Jaehyun? — Ele sussurra ao olhar nos meus olhos e segurar meus ombros, se aproximando da minha orelha com seus lábios. — Amor e ódio são dois lados da mesma moeda.

Como (não) destruir seu adversário » dojaeOnde histórias criam vida. Descubra agora