♔ DOIS ♔

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Dia 18 de Abril , a tão esperada data que representa o meu dia. Meu aniversário, mais a morte se aproxima. Isso não importa, pelo contrário, estou sempre comemorando com grande festividade o fato de ficar mais velha. Não quero imaginar a dona Morte chegando com um bolo de baunilha e raspas de chocolate, gritando "sopre a vela, é o seu fim!" Odeio pensar nisso. Tenho medo de como irei morrer um dia apesar de que naturalmente no fundo sabemos que uma hora o final chega, é impossível escapar. São quase 19:30h e a senhora Luísa ainda não subiu para me ajudar, sento-me na poltrona de frente para o espelho da cômoda, pego o rímel, passo várias camadas até pesar meus olhos.

Escuto passos ecoando pelos corredores e no andar abaixo da salinha que estou agora, são os organizadores terminando os detalhes da minha festa, todos os anos é a mesma coisa, esse ano ainda mais especial porque chegou a minha vez. É a minha maioridade, finalmente o tão aguardado dezoito anos, esperei ansiosamente por esse dia, portanto, sei que hoje será meu último momento no orfanato Orquídea Bolena.

Quase todos os anos ocorre eventos como esse, somos chamadas de "Debutantes" quando alcançamos a idade que a sociedade cogita como o momento ideal para jogar as responsabilidades nas costas de um adolescente.

Escuto três batidas na porta, senhora Luisa entra no cômodo, toda sorridente com seus cabelos grisalhos como a neve e olhos verdes vibrantes, usufruindo um belo colar de pérolas exposto em seu blazer rendado. Noto uma caixa em suas mãos.

— Como se sente? — a dona do orfanato questiona.

— Estou grata e feliz — respondo abrindo um sorriso para ela.

— Desejo que sim, querida Kate. Bom, aqui está o meu presente para você, espero que goste — Luisa estica os braços me entregando uma caixa preta com uma fita dourada.

Não vi ainda a surpresa, mas sei que vou amar, já que, sempre amei tudo vindo dela. A senhora Luisa Hoper é especial para mim, ela fez o papel de mãe e pai ao mesmo tempo, foi minha conselheira e a pessoa que mais esteve presente comigo. Para minha sorte, desde que fui deixada aqui a senhora Hoper já se encontrava presente, ela veio dos Estados Unidos e se casou com um brasileiro, um homem chamado de Augusto Albuquerque, mas que infelizmente nunca cheguei a conhecê-lo, a única coisa que herdei do seu amado esposo foi o nome que ele escolheu para mim assim que cheguei no orfanato, diria que "Katherynne" não é uma denominação tão brasileira assim, contudo, na sociedade de hoje as pessoas buscam ser cada vez mais criativas com os registros da nova geração, sem julgamentos, conheci um garoto na biblioteca da cidade que o nome dele era Victor Jin, sua mãe era super fã de uma boyband coreana. Anseio enquanto abro a caixa, meus olhos fitam um par de sapatilhas vermelhas com um grande laço de pedrinhas que brilham bastante quando reflete na luz.

— É incrível! — Exclamo, surpresa.

— Sim, mandei fazer especialmente para você, querida Kate, e claro, na sua cor favorita — parece orgulhosa e satisfeita pela minha reação.

— Obrigada, sempre fui muito grata por tudo isso e...

— Eu sei, suas ações mostram tudo, acredite, nós sentiremos sua falta. Vamos fazer com que a noite de hoje seja um momento inesquecível. Lembre-se, sapatos novos te levarão a lugares extraordinários. Permita-se.

Quero lacrimejar, meus olhos param antes de derramar mil lágrimas, será incrível tudo essa noite, tenho a sensação. Depois de mais algumas palavras afetivas, a senhora Luisa me ajudou a finalizar meu cabelo rebelde, as vezes acho que ele pensa que sou a Merida de Valente, pois quase todo momento se embaralha e dá volume, já basta o ruivo chamativo. Depois de alguns minutos estou com um coque e pequenos broches de prata ao redor com apenas alguns fios soltos na franja. Visto o vestido vermelho de lantejoulas, onde a parte de cima não possui alça, mas sim um tomara que caia formato coração.

» Abismo entre Cristais e Rosas « LIVRO ÚNICOOnde histórias criam vida. Descubra agora