♔ TRÊS ♔

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Sento-me na cadeira de gesso bem a sua frente, o barulho de água caindo desvia um pouco a minha atenção para a passagem que passa pela estufa, jorrando água nas plantações. Na mesa, havia café e alguns pães com recheio, um pote de biscoitos de mel, bolo de cenoura e um bule de chá com um aroma que poderia ser de erva doce ou cidreira.

— Então, pode se servir — o homem, limpa a garganta após a permissão.

— Obrigada, senhor...

— Helius Montgomery — interrompe.

Que diabos de nome é esse? Por acaso é algum cosplay, ele está debochando de mim!

— Então senhor Montgomery, pode me explicar por que estou aqui? — digo me servindo com os pãezinhos, um pouco irritada, mas percebo que ele não ri ou sequer nega seu nome.

— Provavelmente será confuso, mas me ouça bem. Você foi tocada pelos deuses, é a escolhida. Sendo direto — gesticula com as mãos — Não quero que se assuste, você está nesse exato momento em um dos muitos jardins da academia Crystalline, porém, calma! Garanto que estamos na cidade Ouriana, ainda estamos no Nordeste, não há muito a temer. Ah claro, você pequena criatura frágil, é a chave para solucionar os nossos problemas.

Você foi tocada pelos deuses, é a escolhida.

Esse pensamento martela em minha mente, me faz fugir de suas explicações contínuas. Suspiro, incrédula com sua fala que transborda em um tom natural, que agora ronda em minha cabeça. Esse cara é louco, como eu vim parar em um lugar desses. Aquele sonho... aquele bendito sonho, será possível que seja real?

— Tudo bem, mas quando posso ir para casa? — questiono com a voz baixa.

— Criança, você não tem casa — suas palavras soam como facas em meu coração, duras e realista — Criança, ainda não compreende? Você foi abençoada pelos deuses, significa que é a única que pode nos ajudar encontrar algo precioso para nosso mundo. Aqui será sua casa.

— Não pode ser, eu não fiz nada de errado! — meus olhos ardem, quero desabar — Isso é algum tipo de seita? Por que justo eu? Olha, moço se o senhor me deixar ir embora prometo que não direi nada!

— Isso não é algo ruim, muito menos uma seita, é uma benção e honra incomparável. Estávamos a sua espera há muito tempo, mas o poder despertou na noite do seu décimo oitavo aniversário, só assim para conseguirmos encontrá-la, sua áurea está brilhante como os raios de sol, qualquer ser vivo que possuir o dom consegue sentir o selo de luz vindo de você.

Oh céus, minha mente vai explodir como um vulcão em erupção. Suas palavras são tão confiantes que parte de mim quer acreditar em todo esse besteirol, principalmente pelo sonho que me ocorreu, mas boa parte quer apenas sair correndo e gritando para que a polícia me encontre. A senhora Luisa jamais me abandonaria, sei que devem estar atrás de mim. O homem continua indagando explicações que não compactam com a vida real, depois de algumas falas que me cansam de tanta besteira, por fim, ele finalmente decide me tirar dali. Para minha infelicidade, não é para retornar ao orfanato, mas sim ao templo, um santuário, o mesmo lugar onde estávamos a meia hora.

Dessa vez, atravesso a porta de madeira na entrada, andamos até a sala principal, as paredes de gesso são cor de gelo, com pedras encrustadas de ouro, há um sino cheio de velas, similar a um lustre, noto que bem ao longe existe uma escultura de uma divindade segurando um centro com formato de sol, uma coroa posta em sua cabeça e um manto com doze sóis bordados, vislumbro um grande arco em formato de sol bem atrás da divindade, apesar de não possuir cor, eu enxergava exatamente como a majestosa mulher do sonho, olhando bem, posso afirmar que a deusa desse templo é ela, Celesttya.

» Abismo entre Cristais e Rosas « LIVRO ÚNICOWhere stories live. Discover now