14. Incumbência.

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A Freira sabe que não irá conseguir se defender por muito tempo, mas o golpe de Cassandra foi defendido em um ímpeto enquanto João observa a luta. O cubo em forma de espada se desfaz, tornando-se novamente apenas um cubo, nas mãos do jovem.

Tormenta Violeta desaparece e aparece do lado da Freira, segurando-se para não matá-la, mas ainda sim, tentando atingi-la. A freira, defende-se como pode com a maça, mas logo depois a guarda no suporte em suas costas e tenta mirar a Magnum, atirando para todos os lados para afastar a corredora, que desaparece durante alguns instantes. O João, cansado, coloca a mão em seu ombro direito, sentindo o desgaste muscular.

"Essa mulher é invencível?!" pensa a Freira, questionando sua chance de vitória, definindo-a como quase nula. No meio da chuva torrencial e dos relâmpagos, sua mente trabalha rapidamente, buscando uma estratégia inteligente para escapar da situação.

Aproveitando o breve sumiço da Tormenta Violeta, tornou a segurar a maça com os dois braços e assim que a velocista surge à sua frente, tenta golpeá-la. Cassandra desvia a atenção para aparar o golpe, a Freira vê uma abertura, ali está a sua chance de fuga. Com agilidade, ela cria uma distração, utilizando suas mãos para lançar alguns objetos próximos à Tormenta, como pedaços de madeira, taboas, enquanto ela segura a maça, desviando a atenção da velocista momentaneamente e também faz com que solte a maça, para proteger o corpo contra os objetos lançados.

Enquanto a Tormenta Violeta se concentra naquela súbita interferência, a Freira se move o mais rápido que pode e se oculta na sombra de um depósito, ao lado de uma das casas. Por sorte, há uma abertura para O sistema de águas pluviais, ela se lança na abertura, sabendo que precisará nadar um pouco. A chuva forte mascara o som de seus passos e a Tormenta Violeta é incapaz de localizá-la naquele instante. Em segundos, a Freira desaparece, deixando apenas a sensação de que ela se dissipou na própria escuridão.

A Tormenta Violeta percebe que a Freira conseguiu fugir, mas não consegue identificar para onde ela foi. A inteligência da Freira ao criar essa oportunidade de escapar impressiona a jovem velocista e a faz perceber que lutou contra uma adversária feroz, com instintos de sobrevivência. Cassandra se cobra pela falha, por subestimar a mulher. Sua expressão muda, entristecendo-se. No entanto, não é por isso que Cassandra está em Brasília.

- Valeu pela ajuda. E-Eu sou um grande fã do que faz em São Paulo e por ali, não pensei que viesse aqui investigar o incêndio do convento.

- Eu vim até aqui por outro motivo - diz ao guardar a Lâmina do Trovão na bainha, presa no suporte do uniforme, localizado nas costas e ignorando o fato dele ser um fã.

- Aquela freira matou suas Irmãs do convento, um monte de gente nesse lote, tudo isso no intervalo de 1 dia e nem é por isso que tu tá aqui? - pergunta João, confuso, apontando para o corpo da mulher morta no chão encharcado. - O que é mais importante que prender a freirinha do mal?

- Você - revela, olhando em seus olhos castanhos.

A resposta da velocista deixa João perplexo. Ele tenta processar suas palavras enquanto a confusão toma conta de seus pensamentos. A chuva que não dava trégua, cessou quase por completo e os dois caminhavam em direção a porta de uma das casas sem mortos.

- Eu? - ele pergunta, com os olhos arregalados. Cassandra suspira, o olhar preocupado por dentro do visor.

- Olha, rapaz.. eu nem sei o seu nome... pra te falar a verdade. Só que o Guardião Branco disse que você será uma peça fundamental no futuro. Ele me enviou para recrutá-lo. O estranho é que eu deveria saber o porquê, já que eu vim do futuro e deveria estar escrito em algum livro, e-book, qualquer coisa no futuro mas...

- Pera aí... - interrompe João, ainda tentando assimilar as informações. - Você veio do futuro? E o Guardião Branco diz que eu sou uma peça funda...

- Exatamente - responde ela, com um tom sério e interrompendo o rapaz, ignorando a primeira pergunta. - O Guardião Branco. Sobre os livros do destino, eu me lembro perfeitamente que só foram escritos dois! Porém, ele diz que há cinco - ela diz, sua voz tingida de mistério. - Há uma discrepância nas informações, e isso só torna sua presença ainda mais singular.

João franze a testa, tentando entender. Talvez Cassandra tenha soltado informações de mais, porém, o rapaz é inteligente e tenta por a cabeça no lugar, mesmo sentindo um turbilhão de emoções dentro de si. Ao saber sobre os livros, o jovem se lembra que a Freira tem um deles. No entanto, por algum motivo, ele preferiu não dizer para Cassandra naquele momento.

- Posso lidar com isso. E a propósito, eu sou João. João Alves. Então, o grandão lá quer me recrutar, é? - pergunta ele, com um pequeno sorriso no rosto, apertando o cubo, com um toque de curiosidade e temor.

- Como ele soube de mim? Eu nem sou super-humano.

- Ah, você é, sim - diz a ruiva, dando uma leve gargalhada. - Você vai entender mais do que eu tô falando. Eu não faço ideia de como ele te encontrou, mas me deu um pequeno apetrecho que coloquei numa das entradas do meu visor, o que me permitiu rastrear a assinatura tecnológica do seu cubo - ela mostra o visor, puxando seu capuz um pouco para o lado.

João observa atentamente o dispositivo minúsculo, que fora usado para rastrear a localização especifica do cubo. O objeto é um pequeno cristal multifacetado, com dimensões minúsculas, quase imperceptível. João ficou fascinado, pois tal objeto foi projetado especificamente para se acoplar de forma discreta no visor da Tormenta Violeta, onde uma ranhura especial é integrada para acomodá-lo perfeitamente. Sua estrutura é feita de materiais ultra-resistentes, garantindo sua durabilidade em combates e missões de alto risco.

- Esse dispositivo minúsculo consegue rastrear a minha assinatura energética e redireciona para o visor dela de modo que possa localizar-nos. Atualizarei meus sistemas mais primários e descobrirei como camuflar o rastro energético - diz o cubo, com a voz feminina e robotizada.

- Eu achei do caralho... Mas e se eu não quiser fazer parte de nada disso? - pergunta ele, hesitante.

- A escolha é sua, João - responde ela, saboreando o nome do jovem. - Mas o Guardião Branco tem certeza que fará, então, é uma questão de tempo. - Cassandra faz uma pausa, observando o cubo cósmico. - E quando se unir a nós, saiba que não vai estar sozinho.

A ruiva olha novamente para o rosto do rapaz, dando um leve sorriso enquanto ouve as sirenes das viaturas chegando. Como se estivesse se despedindo, se preparou para correr, com o capuz vermelho sobre a cabeça e a Lâmina do Trovão nas costas. João, como um grande fã, a admira, pois ninguém além do Guardião Branco e Zenitx sabem quem é o relâmpago púrpuro que corta a cidade de São Paulo e agora, outras partes do país.

- Obrigado - disse ele. - Você salvou minha vida.

- Me deve essa - diz Cassandra, ainda com um sorriso no rosto.

A encapuzada começa a correr. João tenta acompanhá-la com a vista, porém, já havia desaparecido no horizonte, sentindo uma sensação de perda. Em seguida, caminha até sua moto e dá partida.

João foi para casa, adentrou o apartamento e se sentou no sofá, mesmo todo molhado e sujo de lama. Ele pensa na Tormenta Violeta e na Freira, se pergunta como a ruiva tornou-se uma super-heroína e qual o papel dele nessa história toda. Ele observa o seu cubo, que se desativou para reescrever seus sistemas para que sua assinatura energética não fosse rastreada facilmente, perguntando-se o que aconteceria a seguir, sabendo que haverá algo maior. O rapaz sorri, ansioso para saber o que o futuro lhe reserva.

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