Gabriel

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Não estava preparado para aquela notícia. Tinha esperança em contatar Afonso e obter dele a proteção necessária para a minha família, porém agora não sabia o que fazer.

Não fazia ideia de como protegeria Sarah e as crianças e conseguiria a nossa vida de volta.

Puta! Merda! Se encontrasse com o Lauro e a Cibele, acho que mataria os dois. Eles tinham ferrado comigo de tal maneira que não enxergava uma saída.

O voo durou cerca de duas horas de relógio, o que permitiu que esfriasse um pouco o ânimo e as crianças se acalmassem, porém percebia que a ansiedade da Sarah estava a todo vapor e ela precisava desesperadamente de um plano traçado seja ele qual fosse para ir à busca daquela meta.

- Estou com fome – disse Ricardo.

- Come o meu amendoim – disse entregando para ele.

- Pai, isso não dá para nada – falou contrariado com a minha sugestão.

- No aeroporto vamos comer alguma coisa – disse Sarah e depois que terminarmos nós precisaremos de um plano – completou me olhando, confirmando a minha avaliação.

Olhei para ela serenamente e não disse mais nada, ela estava certa e precisava pensar no próximo passo, pois com a morte de Afonso nós éramos as próximas pontas soltas a serem eliminadas.

Descemos do avião e como nossa bagagem estava conosco não precisamos esperar por elas, seguimos direto até um café em um canto discreto do aeroporto.

Sarah se incumbiu de fazer os nossos pedidos, enquanto me mantinha alerta sobre a nossa segurança.

- Pai, ficará tudo bem, não é? – perguntou Ricardo.

- Sim, filho. Estamos todos juntos e daremos um jeito de sair dessa e voltarmos as nossas vidas. Só preciso de um pouco de tempo para me organizar.

- Entendi.

- E o que faremos agora? – perguntou Joyce.

- Vamos comprar um carro e pegarmos a estrada.

- Para onde? – perguntou Joyce, visivelmente preocupada.

- São Jacinto – respondeu Sarah se aproximando.

- Por que essa cidade? – perguntei curioso.

- Porque é onde mora o meu pai – disse seriamente.

- Sarah, você me disse que não sabia quem era o seu pai, que sua mãe nunca falou sobre ele. E você não tem nem o nome dele nos seus documentos – disse enumerando as alegações, como o advogado que habitava em mim.

- É uma longa história, conto para vocês no caminho para cidade. Mas antes precisaremos comprar um celular, pois não faço ideia de como chegaremos e pelo que sei as placas não ajudam muito – disse misteriosamente.

Comemos em silêncio enquanto não tirava os olhos de Sarah, pois a história do pai dela não saía da minha cabeça. Como assim ela tinha pai e sabia onde ele morava? Que tipo de relação nós tínhamos que ela sempre manteve esse fato em sigilo?

Pensei em insistir, porém não era o momento, estávamos vivendo uma situação em que não podíamos nos apegar a detalhes, e sim, a garantir que a nossa família ficasse bem.

Na cafeteria conversei com uma garçonete que me falou de lojas no centro da cidade que vendia celular e uma pequena concessionária de carros usados. Perfeito para o que precisávamos no momento.

- Primeiro passo, pegamos um taxi e vamos à concessionária – disse para Sarah e as crianças.

- Certo. Pagamento a vista? – perguntou Sarah, demonstrando preocupação.

- São gastos necessários até ficarmos em segurança – respondi.

Com essa ideia em mente, seguimos para a saída do aeroporto. Na pequena fila de taxi entramos no carro mais espaçoso que por sorte era dirigido por um motorista muito simpático que me deu melhores indicações sobre a concessionária que compraria um carro mais velho e de boa qualidade.

- Obrigado, Tomaz. Ajudou muito – disse para ele quando estacionou o taxi na frente da concessionária do seu primo.

- Qual carro nós iremos comprar? – perguntou Ricardo.

- Um que esteja em um bom estado para nós viajarmos até São Jacinto, – disse olhando para Sarah, deixando claro que aquela informação ainda não tinha sido assimilada - que não custe muito caro e claramente não tenha como ser rastreado – respondi completando.

- Certo, pai.

O primo de Tomaz de nome Joaquim nos recebeu da maneira que esperávamos e saímos da concessionária com um Palio ano 2005 que estava muito bem conservado e nos levaria em segurança até o nosso destino.

Paramos em uma loja pequena no centro da cidade que vendia celulares e carregadores, como eram aparelhos mais antigos, os valores estavam com um preço mais em conta e resolvi comprar um celular para cada um, lembrando as crianças que não podiam mandar mensagem para ninguém e evitassem interagir nas redes sociais.

Meus filhos me olharam com tristeza e me senti péssimo por isso, porém era para o bem deles.

De volta ao carro era hora de ir para São Jacinto e conhecer um sogro que não fazia ideia de que existia.

- Sarah, tem certeza que é uma boa ideia procurarmos o seu pai? – perguntei depois que ela colocou a cidade no waze.

- É a melhor saída para ficarmos em segurança pelo menos até pensarmos no que fazer.

- Nunca me falou do seu pai – disse.

- A vovó Júlia me disse uma vez que o seu pai tinha morrido antes de você nascer, mãe – disse Joyce.

- Ela mentiu, filha. Bem, eu sou fruto de um relacionamento nada ortodoxo – disse.

- Como assim? Seu pai é casado? – perguntei, curioso.

- Não, a minha mãe só me disse que ele tinha uma vida dupla com relação a trabalho e que não tinha como comportar mulher e filho. Depois que ela morreu achei nas coisas dela uma carta dele direcionada a mim, dizendo que se um dia quisesse conhecê-lo deveria seguir para São Jacinto interior de Goiás e procurar por Peter Fieldman. Enfim, pensei que talvez fosse o melhor momento – disse insegura.

Olhei para ela por alguns segundos e concluí que talvez realmente fosse o melhor momento.

- Talvez seja realmente o melhor a fazer. Já percebi que devemos viver o momento e não deixar nada para depois - disse.

E nesse clima de tudo ou nada seguimos viagem no mais completo silêncio, creio que nós aproveitamos o momento para refletirmos sobre as nossas apreensões sobre o futuro.

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