Sarah

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Encontrar o meu pai nunca esteve nos meus planos, o pensamento era se ele nunca teve a curiosidade em me conhecer, porque forçaria uma situação. Apaguei da minha cabeça o personagem pai na minha vida e deixei que a minha mãe criasse a história que melhor lhe agradasse ao ponto que nunca disse nada sobre o meu pai para o Gabriel e a história que ele estava morto foi o suficiente.

Não fazia ideia que um dia a lembrança daquela carta e do homem que nunca fez questão de fazer parte da minha vida, poderia ser a melhor alternativa de sobrevivência que a minha família teria.

- O que sabe do seu pai? – perguntou Gabriel depois de um longo tempo em silêncio, creio que ele também refletia como seria chegarmos à casa de um completo estranho com semelhança apenas no DNA e levando conosco um problema gigantesco.

- Muito pouco. Apenas o que mamãe me falou sobre a vida dele não comportar uma família e a carta que dizia que o destino e a vida não colaboraram com a nossa aproximação, mas que no momento atual ele estava disponível a atender todas as minhas dúvidas - respondi.

- Isso aconteceu há quanto tempo?

- Dez anos que achei a carta, pois é o tempo de falecimento da mamãe.

- E se ele estiver morto? – perguntou com sensatez.

- Pensamos em outra coisa, Gabriel diante do que está nos acontecendo e a pressão do momento foi a melhor saída que encontrei para nos proteger – disse frustrada.

- Não estou lhe criticando. Você está certa, a única coisa que penso é no próximo passo, principalmente por causa da segurança das crianças.

- Eu sei. Mas se tudo der errado em conhecermos o Peter, a cidade pode ser um bom lugar para nos escondermos – disse pensativa, pesquisei uma vez por curiosidade e me pareceu bem isolada do resto do mundo.

- Com certeza é uma opção.

Voltamos a ficar em silêncio por alguns minutos, quando o Gabriel voltou a falar:

- Por que nunca me falou sobre o seu pai?

- Porque construí a minha vida sem ele e nunca achei necessário cita-lo. Era como se desse espaço para alguém que nunca fez questão em me ter na própria vida.

- Entendo. Agora, sabe o que dizer a ele quando o encontrarmos? – falou depois de refletir sobre a minha justificativa.

- Não faço ideia. Talvez o melhor seja a verdade, seria uma boa prova de caráter, não acha?

- Se proteger ou ajudar a filha e os netos? Não acha que é uma prova de caráter bem dura? – questionou simpático.

- Digamos que nessa relação o melhor é partimos para o tudo ou nada – concluí.

Após algumas horas de viagem as crianças acordaram e pediram para ir ao banheiro.

- Estamos praticamente em São Jacinto – disse enquanto Gabriel estacionava em um posto de gasolina.

- Vamos usar o posto para sabermos se alguém conhece o Peter Fieldman, seria bom ter informações antes de batermos na porta dele – disse Gabriel.

- Concordo – respondi simplesmente, tentando assim conter a minha ansiedade.

Mas antes de irmos fazer as perguntas para sondar o lugar, os quatro precisavam urgentemente usar o banheiro. E com as necessidades básicas atendidas fomos para a lanchonete, pois era óbvio que as crianças já estavam verdes de fome.

Gabriel fez os pedidos enquanto ficamos todos sentados a uma mesa onde podíamos observar o movimento do posto. Tenho que confessar que estávamos ficando paranoicos, porém era uma atitude assim que nos manteria, vivos até os vilões estarem presos e nossa vida de volta ao eixo.

- Alguém conhece o Peter? – perguntei a Gabriel quando ele se sentou na cadeira ao lado da minha.

- A garçonete me disse que nunca ouviu falar, porém mandou que perguntasse ao seu Joseval na borracharia aqui ao lado, pois ele conhece todo mundo na cidade.

- Perfeito. Então vamos comer e depois iremos ao borracheiro – disse frustrada e porque não dizer ansiosa. Pediria ajuda a alguém que não fazia ideia de quem era e que a única coisa que fez para mim foi uma carta sem muitos detalhes e sem muito afeto.

- Calma, estamos juntos e não ficaremos onde não esteja bem – disse Gabriel segurando minha mão enquanto as crianças nos observavam.

- Obrigada, não sabe quanto me faz bem essa segurança – disse e Joyce se levantou da cadeira se aproximando para me dar um beijo.

- Se ele não for legal, nós vamos embora, mãe – disse Ricardo.

- Com certeza, filho – disse Gabriel.

E nesse clima de família terminamos o lanche e fomos a busca do Joseval na borracharia que ficava ao lado do posto.

Gabriel desceu do carro e procurou pelo homem, depois de alguns minutos um senhor de idade indefinida se aproximou. Conversaram durante um tempo e após um aperto de mãos o meu marido voltou ao carro.

- E então? O Peter existe? – perguntei ansiosa.

- Sim, ele mora em um pequeno sitio um pouco afastado do centro da cidade. O seu Joseval disse que ele tem uma vida isolada e vem à cidade apenas uma vez ao mês para fazer compras.

- Ou seja, o cara é um eremita. Será que ele é procurado pela polícia? Gabriel isso encaixaria tranquilamente com a história que minha mãe contou dele.

- Não sei. Mas Joseval falou muito bem dele e disse que trabalha no sitio junto com o sobrinho na época da colheita de maçã.

- Ok – disse simplesmente.

- Sarah, senão quiser ir até ele, dormimos em uma pousada e seguimos viagem amanhã para qualquer outro lugar até nos sentirmos seguros para planejar o que faremos – disse ele, solicito.

- Não, algo me diz que o Peter pode ser a nossa ajuda, portanto, vamos encarar e descobri o que o Universo nos reserva.

Nessa vibração positiva, seguimos até o endereço do sitio dado pelo Joseval. Assim que nos aproximamos fiquei encantada pela paisagem e pelo espaço, mesmo sendo isolado da pouca civilização existente na cidade era encantador.

Chegamos ao portão de entrada e vimos o sino que ficava na lateral. Desci do carro, disposta a toca-lo e toda minha família me acompanhou.

Quinze minutos depois um senhor ruivo atendia ao nosso chamado. Devo dizer que perdi a fala quando ele carinhosamente disse:

- Sarah. Sabia que viria me ver – disse.

Eu sorri e não sei o motivo o ar me faltou nos pulmões e antes que ficasse tudo escuro ouvi a voz de Gabriel me chamando.

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