Capítulo 6: Hollywood não é para amadores

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Eu não fazia ideia de onde os adolescentes podiam chegar sem a supervisão de adultos, até conhecer Francesca e seus fiéis escudeiros. 

Como não era possível estacionar os trailers no local da festa, pegamos uma carona com duas garotas com roupas minúsculas e coloridas, que combinavam com suas personalidades afetadas. Ambas usavam arcos com orelhas de coelho brancas, o que tornava suas fantasias um verdadeiro enigma. Elas não pareciam se importar. 

O sol já estava se escondendo no horizonte quando Sandra, a motorista alegre e muito ruiva, deu partida no carro, levando Francesca, Maggie e eu para a tão aguardada festa em Hollywood. Eu não sabia o que esperar, mas tinha certeza de que não seria nada parecido com as reuniões pequenas e improvisadas na garagem de Hugo.

Não era só a minha intuição que dizia isso, mas as 5 caixas enormes de bebidas que Francesca nos fez carregar até a mala do Opala verde musgo. 

Apesar da animação crescente para conhecer as viajantes que me dariam carona para San Francisco, ver a noite se aproximando fez o meu estômago afundar. Com certeza os meus pais já deviam estar me procurando por toda a cidade. E se a polícia estivesse por perto? E se eles chegassem até mim antes que eu conseguisse me matricular na universidade? 

E se o meu rosto já estivesse estampado pelas delegacias da cidade e um jovem bêbado resolvesse me entregar em troca de uma gorda recompensa?

Apertei o nó da máscara com mais força. Ninguém podia me reconhecer. 

Meus pensamentos foram afastados pelo barulho dos freios, misturado aos gritinhos de alegria das garotas. Havíamos chegado. 

A rua era escura, e demorei a assimilar onde estávamos até que meus olhos encontraram um letreiro um pouco enferrujado que anunciava: Hollywood Hills High School. 

- Francesca... Mas as aulas terminaram, como faremos a festa dentro de uma escola fechada? - Perguntei, enquanto a morena abria a porta do carro. 

-  Ah, Alice... - Francesca soltou um sorrisinho convencido e levantou uma das mãos, onde uma chave dourada reluzia. - Está fechada até que se tenha a chave, não é mesmo? 

- Espera, mas isso é... Ilegal, Francesca. Não se pode fazer uma festa clandestina em uma escola, a noite, com bebidas. - Todas no carro irromperam em uma gargalhada, e senti minha pálpebra esquerda tremer levemente com a adrenalina. 

- Fica tranquila, Alice. - Maggie me abraçou de lado. - Não é a primeira vez que fazemos isso. Hollywood é o lugar perfeito para festas como essas, e nós temos os contatos certos. 

Eu não podia sonhar em ser pega pela polícia naquela noite, mas não tinha escolha: precisava conseguir a minha carona para o norte da Califórnia.

Por isso, deixei o sonho de uma nova vida em San Francisco dominar a minha mente enquanto ajudava as meninas a carregarem as bebidas para a escola. Foquei nas aulas sobre arte e literatura que teria na universidade enquanto assistia o ginásio desativado se encher com jovens de todos os estilos. 

E quando a música já dominava os meus sentidos, imaginei os detalhes daquela grande cidade que ficariam registrados na minha câmera, enquanto deixava as notas me chamarem para a pista de dança lotada. 

E eu dancei. 

Dancei por mim, pelos meus sonhos e também pelos meus medos.

Dancei para esquecer do que poderia dar errado. Mas, principalmente, para me lembrar do que poderia dar certo.

Deixei a música me envolver e, com os olhos fechados, reconheci as melhores canções dos Bee Gees tocando nas alturas. De relance, percebi alguns olhares fixos em mim, mas não me importei: tudo o que eu queria naquele momento era continuar dançando. 

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