Capítulo 10: Apenas um bater de asas.

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A vida pode mudar em um segundo.

Uma vez, quando criança, ouvi de um cientista famoso que o bater de asas de uma borboleta no Brasil podia resultar em um tornado no Texas. Não que o sopro gerado pelo movimento do inseto tivesse o poder, em si, de ocasionar grandes transformações.

Mas uma série de pequenos eventos isolados, quando performados em sequência - por azar, destino ou coincidência, eram capazes de manifestar grandes mudanças.

Consequências eternas.

Ou o caos.

Por algum motivo, enquanto dava as costas para a pista de dança que havia me recebido há segundos atrás e corria de mãos dadas com Zach para um destino incerto, pensei nisso.

Seria aquela escolha um bater de asas de uma borboleta?

Já podia prever a formação de um tornado.

Quando disparamos pelo salão, a multidão não hesitou em nos deixar passar. Talvez imaginassem que a fuga repentina fazia parte da performance.

Zach era tão rápido que não consegui ouvir a escolha do grupo vencedor. Havíamos ganhado?

Estava livre para continuar com a minha viagem ou teria um certo lobo em meu encalço?

Corremos pelos corredores da escola interditada até que meus pulmões estivessem em chamas, quando forcei Zach a parar.

Ele não parecia nem mesmo ofegante. Não me surpreendi, seu porte atlético deixava claro os anos de exercícios físicos.

Eu, no entanto, era uma negação para qualquer esporte.

- Onde... Estamos... Indo? - perguntei, tentando recuperar a voz em meio às tentativas de buscar oxigênio.

Zach me encarou como se fosse óbvio.

- Buscar uma saída. Precisamos fugir daqui, antes que os Dead Dogs, ou o outro grupo, cerquem você. Não podemos arriscar que te encontrem caso não tenhamos ganhado. - Ele explicou, sem olhar pra mim. Sua cabeça girava para todos os lados, procurando a porta que indicava a nossa liberdade. O cabelo dourado, antes perfeitamente penteado, agora apontava para todos os lados devido ao esforço.

- Zach, espera. - Falei, antes que ele começasse a correr novamente. - Não posso sair assim, preciso da minha mochila. Toda a minha vida está nela!

- Certo, e onde ela está?

- Num armário próximo da entrada. O número era 03, se me recordo. - Respondi, apressada.

Era impressão minha, ou estava ouvindo um barulho de passos no corredor?

Zach pareceu ouvir também. Ele correu até o armário mais próximo e praguejou baixinho, voltando para o meu lado com um semblante irritado.

- Merda, estamos no armário 97. Sua mochila deve estar do outro lado da escola.

O movimento de passos apressados estava mais alto agora.

As alternativas eram muitas: caso os Dead Dogs tivessem vencido, a dona dos passos poderia ser Francesca, vindo me avisar que estava livre, ou até Joe correndo para se desculpar por ter me feito de palhaça na frente de dezenas de pessoas.

Se a gangue havia perdido, no entanto, isso significava que Seth estava a minha procura, e eu não podia ser encontrada.

Pensei em continuar correndo, mas os reflexos de Zach eram mais rápidos que os meus.

Senti meu braço ser puxado para o canto com rapidez, enquanto Zach abria uma porta bem próxima de nós.

No instante seguinte, estávamos presos no escuro. Ouvi Zach trancar a porta devagar, prendendo a respiração, e grudar o ouvido na porta para discernir os passos que agora se avolumavam lá fora.

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