Capítulo 41

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Lucien estava jogado em uma cela escura e fria nos calabouços da Corte Outonal. A Goteira pingava em vários locais daquela caverna, apenas para lembra-lo de sua garganta seca e sedenta por um gole de água.

Sua corte.

Sua casa.

Porém não se parecia nada com o sentimento de casa.

Onde era a sua verdadeira casa?

Ele tentava se segurar em suas lembranças felizes para não sucumbir à escuridão e a desistência de tudo. Tentava se lembrar de dias em sua infância em que seu pai saía para tratar de assuntos da Corte por dias, deixando o castelo muito mais sossegado. 

Naqueles dias parecia que até mesmo os criados ficavam alividados. Nos dias em que não estava chovendo, sua mãe o deixava brincar no jardim leste com seus irmãos mais velhos até o crepúsculo. 

A sujeira era inevitável. Como chovia dia sim dia não na Outonal, a lamaceira debaixo dos pés dos meninos fazia com que não somente suas botas se sujassem inteiras, como também boa parte de suas calças. Seu pai odiava isso, e os castigava quando eles não estavam impecavelmente vestidos como os filhos de um Grão senhor deveriam ser. Entretanto, quando eram apenas eles e sua querida mãe, quase se esqueciam de seus conflitos familiares. Esqueciam-se de competir, de brigar e focavam na única brincadeira em meio as folhas secas e coloridas do jardim. Lucien tinha quatro anos.

Seus irmãos mais velhos agora brincavam com espadas de madeira, Eris desarmando seus outros irmãos rapidamente enquanto ria em vitória. A diferença era que naquele momento não estavam brigando de verdade, mas Eris agora passava ensinamentos para os outros, apontado os erros dos demais. Eles escutavam com atenção.

Lucien olhou para sua mãe que estava sentada em um dos bancos de concreto do jardim, perdida nas páginas de um livro com capa verde musgo. Ela sempre vinha ficar por perto, para saber o que os filhos estavam fazendo e também para passar o tempo com eles. Sempre a mãe protetora e amável.

- Mamãe! – Lucien correu até ela e Amber quase se assustou com o grito dele.

- Sim, Lucien. O que aconteceu?

- Eris não está me deixando participar da brincadeira. – Lucien cruzou os braços com as mangas arregaçadas, revelando sua pele bronzeada em contraste com a branca e sardenta de sua mãe.

- E ele está certo, querido. – Amber colocou o livro de lado e abriu os braços para pegar Lucien no colo. – Você ainda é muito pequeno para brincar com espadas, mesmo as de madeira. O que acha de lermos um livro juntos?

Lucien observou seus outros seis irmãos. Eris já estava com quatorze anos e seus outros irmãos não muito mais novos que ele, só o mais novo antes de Lucien tinha sete. Ele não queria ler, fazia isso sem problemas já que sua mãe se encarregara de ensiná-lo bem cedo, enquanto seus irmãos partiam para aulas de combate.

- Não é justo. – Disse Lucien. – Quando o papai irá voltar? – Lucien perguntou com pesar.

Amber fez carinho na cabeça ruiva de Lucien, respondendo lentamente:

- Não sei. – Lucien viu Amber engolir em seco. – Ele nunca responde minhas cartas. Talvez na semana que vem? – Amber tentou dar um sorriso, entretanto ele não subiu aos olhos.

- Por que o papai não gosta de mim? – Lucien perguntou agora mirando nos olhos de sua mãe. Seu rosto triste.

- É claro que ele gosta de você. – Amber puxou Lucien ainda mais para os seus braços, falando em seu ouvido. Uma forma de fazer com que Lucien não olhar a mãe nos olhos, escondendo sua dor e culpa. – Você sabe como seu pai é mais... reservado. Ele ama todos os seus filhos à maneira dele.

Corte de Laços e Profecias (ACOTAR ELUCIEN)Onde histórias criam vida. Descubra agora