13| Em harmonia

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― Alfonso! ― Anahí o repreendeu.

― Escapou, sem querer ― ele respondeu encabulado. ― Eu sinto muito.

Dulce reparou no homem acomodado no banco de madeira. Sua beleza era evidente, os cabelos escuros levemente ondulados caiam sobre a testa, emoldurando um rosto angular de traços marcantes. Os olhos castanhos esverdeados exibiam o arrependimento.

― Pois da próxima vez é melhor pensar antes de falar ― a moça retrucou sem hesitar. ― Julgamos sem realmente conhecer a história verdadeira. E além do mais, as palavras que proferimos têm o poder de ferir também, muitas vezes equivalente a um golpe. ― Suspirando, ela apontou para a mesa. ― Agora, vamos deixar essa questão para trás e jantar.

― Por cinco minutos achei que havia me casado com o homem errado ― Anahí declarou ao se sentar do lado do marido.

O clima tenso foi apaziguado, mas quando serviram a comida a mulher notou o investigador muito calado. Ele não participou muito das conversas, parecia aborrecido pelo episódio anterior. A esposa espiou com o canto dos olhos o rapaz pegar sua caneca, ao mesmo tempo que pediu licença e se retirou da mesa.

― Acho que eu vou atrás dele. ― Ela ameaçou se levantar.

― Não, deixa comigo. ― Anahí interviu. ― Eu já queria bater um papo com o seu marido mesmo. ― A jovem loira piscou para a amiga.

― Anahí, não apronte nada, por favor... ― A moça a advertiu.

― Confia em mim ― disse antes de sumir pela multidão.

― Eu devo me preocupar, não devo? ― Dulce resmungou assustada.

― Com certeza! ― Alfonso respondeu em um tom de chacota.

De longe, ela observou os dois no balcão, discutiam amigavelmente.

― Sabe Christopher, esses dias reparei no quanto a Dul mudou. ― Os olhos azuis dela o encararam. ― Essa ali é quase a mesma que eu conhecia anos atrás, ela era cheia de vida, tinha planos de ensinar as crianças, mas então, a sua luz apagou. ― Annie suspirou. ― Por um bom tempo, eu imaginei que nunca mais veria a minha amiga. ― Sua voz embargou. ― Então, eu gostaria de agradecê-lo por ficar ao lado dela.

O investigador pegou a sua bebida e enfiou uma mão no bolso da calça, enquanto a moça continuava sua explicação.

― Meu marido às vezes é inconsequente, tem muitos defeitos, porém ele não é uma pessoa má.

― O que me aflige é que isso possa atrapalhar o progresso da Dulce. Não sei o quanto essas mudanças recentes realmente são parte dela.

― Bem, creio que você precisa conhecer a sua verdadeira mulher, então. ― A jovem loira apontou para o caminho.

À medida que eles percorrem o trajeto de volta, o senhor Uckermann permaneceu reflexivo.

― Acredito que eu também possuo um agradecimento para fazer, não é mesmo? ― ele mencionou baixinho para Anahí.

Imediatamente a moça lembrou de seus conselhos para a amiga e gesticulou com a mão como se dissesse que não foi nada, os dois sorriram ao se aproximarem da mesa.

― Pelo jeito, já estão cheios de segredinhos. ― A esposa apoiou o braço na tábua de madeira, segurando o queixo.

― Ciúmes, amiga? ― A jovem loira arqueou a sobrancelha.

― Não, apenas curiosidade. ― Em seguida, a mulher ergueu-se. ― Sem ofensa, mas você não faz o estilo dele, não.

― Eu tenho um estilo? ― o homem perguntou entre uma risada.

― Ah, sim, tem! Das donzelas indefesas. ― Ela levou uma mão na testa, dramatizando.

Assim que Dulce chegou perto dos dois, uma música agitada começou a tocar na taverna. Algumas pessoas se moveram para o meio do salão.

― Realmente, não faço esse estilo amiga ― Anahí comentou rindo. ― O marido é todo seu. ― A jovem loira, afastou-se.

― Sinto que o senhor não irá me falar sobre o que conversavam, certo? ― Mirou o investigador, atenta.

― Não, minha boca é um túmulo. ― Ele grudou os lábios um no outro, enfatizando.

― Pois mais cedo ou mais tarde, eu descubro. Também possuo meus meios. ― A moça encostou os dedos nos ombros dele. ― Agora, há algo na minha mente que me deixou intrigada. ― Seus olhos castanhos encontraram-se com o dele.

― E o que seria?

― O senhor sabe dançar, senhor Uckermann? ― Ela sorriu bem-humorada.

― Por que não solucionamos este mistério juntos? ― O rapaz segurou uma de suas mãos.

Logo depois, ele a conduziu para o meio do salão, seus pés mal tocaram o tablado e foi rodopiada em perfeita harmonia com a melodia. À empolgante cadência da polca, combinava passos rápidos e saltitantes. Um homem dedilhava o violão com destreza, seus dedos produziam acordes vibrantes que preenchiam o ambiente. Ao lado dele, outro músico empunhava um banjo, suas mãos ágeis percorriam as cordas cheio de precisão. Em um canto, um terceiro dava vida ao batá, um tambor de origem afro-brasileira, as batidas enérgicas ecoavam pelo salão, criando um som muito contagiante. Frente a frente, o casal se aproximou quando o ritmo aumentou, Christopher a guiou pela cintura, em passos hábeis. A mulher sentiu como se estivesse flutuando, seguindo os movimentos coordenados dele. Os dois trocaram um sorriso cúmplices, imersos na alegria do momento.

Quando a música parecia chegar ao fim, uma leve tontura atingiu Dulce, ela precisou apoiar-se no marido para recuperar o equilíbrio. Seus cabelos desalinhados caíram sobre o rosto, por um instante a moça fechou os olhos, respirando fundo para recobrar a compostura.

― Está tudo bem? ― o investigador perguntou preocupado.

Ela assentiu ao mesmo tempo que se recuperava, lentamente a vertigem passava.

― Acho que exagerei um pouco nos giros ― ele pronunciou retirando uma mecha de fios da face da amada.

― Talvez só um pouquinho ― a mulher disse zombando dele.

Em seguida, avistou Anahí e o marido aparecerem no centro do salão.

― Vocês nos inspiraram a dançar também ― a jovem loira comentou.

Com uma piscadinha sugestiva, ela arrastou o Alfonso consigo, prontos para começarem a se mover no ritmo da próxima melodia que inundava o ambiente. Entusiasmados, eles deram os primeiros passos.

― Creio que já foi suficiente por hoje, não é? ― Christopher dirigiu um olhar para a esposa, repleto de cuidado.

Dessa vez, o compasso do ritmo era mais calmo. Uma música suave que a convidava a permanecer ali, no calor dos braços dele. Dulce negou com a cabeça e o rapaz a encarou sério. Contrariando-o, ela envolveu seus braços ao redor do pescoço dele, movimentando o corpo devagar. Não, ainda não era suficiente, ponderou em pensamento. Não queria que esse momento terminasse tão cedo, tudo parecia em harmonia entre eles. Estava disposta a aproveitar cada segundo que os restava, desejava que essa noite durasse para sempre. Junto do seu amado e da presença da melhor amiga, sua felicidade não podia ser mais completa. Pelo menos, por ora, esqueceria que em breve devia partir da cidade, pois sentiria falta de Anahí.  

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Espero que tenham curtido esse capítulo, pois a calmaria logo vai acabar :o 

Eu super amei esses momentos vondy hoje <3 Dulce arrasou também em colocar o Poncho no seu lugar kkk e com certeza mais tarde rolou DR Ponny!! 

Então, gente... Não sei se vou conseguir postar mais um essa semana. Mas nos vemos na próxima, ok? Teremos mais 3 capítulos e chegaremos ao fim :(  segurem a minha mão, pelo amor do pai, estou sem estruturas para isso!! Até logo amores... 

A Dama de Vermelho - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora