36_ Eles te mataram.

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Heaven Quinn

... Você acha que eu sou... cruel?

- Não. - Ele respondeu na hora. - Eu não acho que você é realmente maldosa. Você tem olhos tristes. - Abaixou o olhar por um momento, antes de voltar a me encarar, dessa vez com mais intensidade. - Mesmo quando você sorri, eles parecem vazios. Então, não. Você não é cruel, apenas quebrada.

Os olhos do James pareciam inocentes. Calmos e inocentes.

Eu já tive olhos inocentes, não?

flashback

O sangue deslizou pela minha perna e pingou no chão.

Segurei o choro, me abaixando e tentando ajoelhar, apesar das minhas pernas estarem tremendo e ameaçarem falhar.

Como eu posso me desculpar com Deus por algo que eu não escolhi? Por algo que eu não tive escolha e fui forçada?

Fechei as minhas pernas com força, sentindo a minha intimidade arder.

Tentei me estabilizar de joelhos contra a minha cama para que eu não caísse, mas o meu corpo apenas começou a tremer ainda mais.

Eu vi o rosto da minha mãe primeiro, antes de perceber que ela estava me batendo e puxando o meu cabelo para que eu encarasse ela.

Estranho, normalmente, eu sentia a dor antes de ver ela.

Eu escorreguei no sangue embaixo de mim, ainda encarando a minha mãe, os meus olhos fixos nos dela.

Se eu realmente me concentrasse na frente de um espelho, e pedisse desculpa, era como se ela estivesse se desculpando. Eu me dava as desculpas que ela nunca me deu.

Eu tentava tanto me dar o amor que ela nunca conseguiu me dar.

O seu olhar caiu no sangue embaixo de mim e de onde ele saia.

Eu consegui ver a expressão de nojo se espalhar pelo seu rosto.

Ela tinha nojo de mim, como se eu tivesse escolhido isso. Como se eu tivesse deixado acontecer e não tivesse sido forçada.

- O que você fez? - Ela soltou a frase e todo o choro que estava preso na minha garganta saiu com força, o meu corpo todo tremendo sob as suas mãos. - O QUE VOCÊ FEZ?

Eu tentei me afastar dela, mas a mão dela apenas puxou o mais cabelo com mais força.

- O que você fez? O quê você fez? O quê você fez? - Ela continuou perguntando, a sua voz aumentando a cada palavra, enquanto a sua mão livre me batia e agitava.

Eu não conseguia respirar.

- Como alguém vai conseguir te amar agora? - Ela soltou exasperada. - Suja. Impura. Me diz, como você deixou isso acontecer?

Os seus tapas se tornaram mais fortes, a sua mão no meu cabelo não me permitindo nem mover o rosto.

O meu corpo todo tremia com o choro, mal me deixando respirar.

- COMO? COMO VOCÊ DEIXOU ISSO ACONTECER? POR QUÊ? ME DIZ, POR QUE VOCÊ É UMA DESGRAÇA? POR QUÊ VOCÊ FEZ ISSO? - A mão que me batia ficou pintada de vermelho, me fazendo perceber que agora eu também tinha o rosto sangrando.

Ela me puxou pelo cabelo, me fazendo cair de joelhos no meu sangue e arrancando um grito da minha garganta.

Eu comecei a sufocar, mas ela não percebeu.

Ela apenas continuou a depositar socos e tapas no meu rosto e me arrastar pelo sangue.

- Eu não consigo respirar. - Tentei avisar, as minhas mãos trêmulas e fracas segurando os seus pulsos. - Eu não consigo respirar. Mãe, por favor, eu não consigo respirar-

flashback

- Eu não consigo respirar.

Dessa vez, eu não estava de joelhos no meu próprio sangue chorando porque a minha mãe não me amava. Eu estava de joelhos chorando porque a minha mãe tinha me destruído para além de reparo.

Ela estava morta agora. E eu ainda não tinha recebido um pedido de desculpas por tudo que ela levou de mim com ela.

Braços estavam em volta de mim, uma mão grande na minha nuca, segurando o meu rosto contra o seu ombro. A sua outra mão ao redor da minha cintura me estabilizando contra ele.

Ele estava diante de mim, ajoelhado, me abraçando como se tivesse medo que eu pudesse quebrar.

- Não. - Sussurrei, em desespero.

O meu pai foi a última pessoa que já me abraçou. A única pessoa.

- Por favor, não. - Tentei me afastar dele. Ele não podia arrancar isso de mim. - Por favor, não me toca.

O James se afastou o suficiente para conseguir segurar o meu rosto com as suas mãos.

Os seus olhos procuraram os meus, a preocupação se aprofundando neles quando ele viu a minha expressão de desespero.

- Eu sinto muito, meu amor... - Ele murmurou, o meu coração se quebrando em pequenos pedaços assim que fechei os olhos.

flashback

- Eu não consigo respirar. Mãe, por favor, eu não consigo respirar-

O corpo da minha mãe foi afastado de mim e eu senti o meu pai me envolver nos seus braços.

- Eu sinto muito, meu amor. - O meu pai sussurrou, me segurando contra ele enquanto eu tentava respirar.

Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo, pai. Então, por que você continua escolhendo a pior coisa que aconteceu comigo?

Por que você continua escolhendo o motivo dos meus olhos serem tão vazios?

- A sua mãe tá grávida. - Ele sussurrou, como se pudesse ler meus pensamentos.

flashback

Eu segurei a camiseta do James entre as minhas mãos, as minhas lágrimas embaçando a visão do James.

Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles. Eu matei eles.

- Eu matei eles. - Sussurrei com a voz fraca, deixando mais lágrimas caírem e o meu corpo tremer sob o toque do James.

Eu não matei ela. Ela nunca foi minha família.

Eu matei a minha família. O meu pai e o meu irmão. Eu matei eles.

- Você era uma criança. - Ele negou com a cabeça. - Você não matou eles. Eles te mataram.

O meu rosto afundou no peito do James, a sua mão pulando instantaneamente para a minha nuca e os seus dedos se afundando no meu cabelo.

Confortável.

Era tão confortável estar nos braços dele.

Eu não conseguia parar de tremer, mas o James não parecia se importar.

Ele apenas me segurava contra ele. A sua mão subindo pela a minha nuca e fazendo carinho no meu cabelo, tentando me acalmar, enquanto o seu outro braço permanecia em volta de mim, como se tentando prevenir que eu fosse embora ou quebrasse.

- A última pessoa que eu abracei assim foi a minha mãe. - Ele confessou, a sua voz me distraindo dos meus pensamentos.

Por favor, continue falando. Eu amo o som da sua voz.

- Depois de eu ter matado ela. - Sussurrou.

continua...

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não tão inocente, não é?

O Inocente Aluno NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora