A invasão

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Bem-vindos!

Dias e dias correndo. Não sabia de que fugia ou de quem. Só sabia que aquilo era muito mais poderoso do que tudo o que já vi. Mais poderoso do que as pessoas que destruiram pouco a pouco minha vida: minha família.

Não lembro quando saí do território dos meus pais. Só sei que senti quando começaram a me perseguir. É claro, eu estava invadindo um outro território. Isso por si só já era motivo para a morte em algumas alcateias.

Acho que nem sempre fomos tão extremistas assim, mas as coisas mudaram quando nossa raça passou a ficar quase extinta. As alcateias tiveram que se juntar com outras e escolherem novos lideres. Um deles foi meu pai. É, nem todos os líderes são bons ou cuidadosos com seu povo. Nem mesmo nessas circunstâncias.

O que era para nos unir, nos fez ficar cada vez mais paranoicos. Os lideres sempre tomavam medidas extremas para qualquer situação que fugisse do seu controle. Era quase impossível viver em paz com tudo isso, mesmo assim, sonhava com o dia em que eu seria tratada com, pelo menos, o mínimo de respeito. Ou, talvez, com amor.

Já estava ficando cansada de correr e sabia que ainda não tinha sido pega porque não queriam me pegar, não ainda. Queriam saber pra onde eu ia primeiro, saber até onde eu iria. Estavam me testando. O que era ruim, porque nem eu tinha ideia de onde estava e até onde o caminho ia dar.

Quando cheguei perto de uma casa bem maior que as outras que vi pelo território, os lobos se aproximaram rosnando. Acho que tomar essa direção tenha sido uma péssima decisão.

Fui lançada para o tronco de uma árvore quando um deles veio com tudo na minha direção. Ele tinha força, mas não era um puro. Não era o alfa, disso eu sabia. Claro, esse fato não mudava em nada a dor que já se alastrava pelo meu corpo. Já estava cansada de apanhar. Só minha loba sabia o quanto.

Dois deles se transformaram e vinheram até mim. Eu estava com medo. Como sempre. Tentei me esquivar deles, mas os outros rosnaram me lembrando que ainda estavam me cercando. Meu lobo chorou antes que eu me transformasse para a forma humana.

Não me fizeram perguntas antes de me jogarem um roupão, me arrastarem para dentro da sala e me jogarem perto da parede. Havia outros lá, entre eles, três mulheres. Duas mais jovens, outra mais velha. Olhavam pra mim com um pouco menos de raiva, o que não significa muito. Eu invadi seus territórios. Era a inimiga ali.

Foi quando eu senti. Senti que algo na minha vida ia mudar, que talvez meu tão ilusório sonho pudesse passar disso para algo mais real. Senti seu lobo, seu cheiro, sua presença. Sabia o que aquilo significava. Tinha lido sobre isso, apesar de que essas histórias eram consideradas lendas nos dias de hoje. Não importava. Eu o vi.

Lindo, ele era lindo e só o medo de todos os outros me fez segurar um suspiro de alívio. Sim, dos outros porquê eu sabia que ele não me machucaria. É contra nossos instintos machucar nossos parceiros, vai contra o que somos, o que sentimos.

Mas seu rosto e a forma com que me olhou e vinha até mim me fez duvidar.

Ele também não ia me machucar. Ia? Não, ele era meu destinado, foi escolhido pra me proteger, cuidar de mim. Não pra me machucar.

Então porque ele não desacelera? Eu já estava encurralada pela parede. Por que ele vem parecendo estar agressivo? Isso não é uma coisa unilateral. Os dois sentem, os dois sabem. Nossos lobos sabem que encontramos nossos parceiros.

Não consegui mais raciocinar. Não quando ele estava me levantando com a mão no meu pescoço. Não quando eu não conseguia respirar direito. Acho que foi quando eu apaguei. Não antes de pensar que toda minha esperança de ser finalmente cuidada por alguém foi destruída. Destruida pelo único que tinha a obrigação de me amar.

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