Capítulo 38 - Pedido de Desculpas

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Anahí virou-se mais uma vez na cama. Não tinha jeito, não havia o que a fizesse dormir! Levantou irritada e desceu as escadas. Talvez um leite quente com mel a fizesse sentir sono.

Os últimos dias tinham sido turbulentos. A chuva de críticas na internet, a polêmica entrevista coletiva de Alfonso, a sua quase demissão e agora por fim, amanhã teria a tão aguardada audiência. Era mais que o suficiente para explicar tanto nervosismo.

Acendeu a luz da cozinha e um movimento na câmera da frente chamou a sua atenção. Alfonso não sossegou enquanto não verificou pessoalmente de que a câmera estava reparada mais uma vez, disse que era muito perigoso que ela estivesse sozinha com os bebês em casa enquanto a audiência não passasse. E pelo visto tinha razão porque um carro preto tinha acabado de estacionar ali.

A porta do carro se abriu e Annie soltou a respiração que até então estava segurando quando viu que era ele. Ao invés de entrar, para sua surpresa, ele apenas permanecia encostado na porta do carro.

Annie não pensou duas vezes e foi até a entrada da casa dando de cara com um Alfonso igualmente espantado.

- Annie, o que faz acordada?

- Eu é que deveria perguntar, o que faz aqui as duas da manhã?

- Bem... eu não conseguia dormir e vim ver se estava... tudo bem.

- Vem, vamos entrar, pode ser perigoso ficar aqui fora.

Alfonso seguiu Annie até a cozinha. Não era o ideal tomar café de madrugada, mas ela sabia que nenhum dos dois conseguiria dormir, então deveriam ao menos se agradar um pouco e os dois sempre gostaram de sentar-se na varanda do quarto para desfrutar de um bom café.

- Por que ficou parado na porta? Por que não entrou?

- Já é de madrugada, acho que não seria muito... educado da minha parte invadir assim. Além do mais, não sei a senha do portão.

- É a mesma...

Anahí respondeu de costas pra ele e Alfonso não pode deixar de sorrir com a surpresa. A senha do portão da frente era a data do casamento deles e ela não havia mudado! Ele sempre pensou que essa seria a primeira coisa que ela faria depois que ele saiu de casa.

- Vem, vamos lá.

Anahí pegou um prato de bolinhos e entregou uma caneca de café na mão de Alfonso, subindo as escadas. Muita coisa poderia ter mudado, mas havia uma que continuava a mesma depois de todos aqueles anos: o cantinho da paz.

Alfonso sentiu um certo aperto no peito ao entrar no seu antigo quarto. Passou muitos momentos bons ali. É verdade que também houveram muitas discussões, mas no momento ele só conseguia sentir uma estranha saudade de tudo o que foi aquele casamento. Descobrir que Marisa não era o anjo que ele pensava, o fez pensar em muitas outras coisas que havia perdido por conta dela.

Percebendo que Annie tinha as duas mãos ocupadas, Alfonso abriu a porta da varanda. Seu ombro reclamou um pouco devido à queda do telhado, mas não prestou atenção. Não podiam dizer que eram chatos, afinal tinha feito uma única exigência para a arquiteta do projeto: que a varanda circundasse toda a casa e assim foi feito.

- O que você tem nas mãos?

- Ah isso? São os seus bolinhos que eu prometi.

- Está brincando, não é?

Alfonso quase caiu da cadeira em que acabara de sentar tamanha afobação. Anahí riu ao ver a reação dele com um simples bolinho de banana. É verdade que dava trabalho, mas só de ver aquele par de olhos famintos sobre os bolinhos, já valia a pena.

- Eu prometi, lembra? Na verdade, estava pensando em te entregar depois da audiência, mas já que você está aqui...

Alfonso nem esperou ela terminar de falar antes de atacar o primeiro bolinho. Fechou os olhos e sorriu satisfeito com o gosto familiar que há tanto tempo não sentia. Sua avó costumava fazer quando ele era criança e Annie se esforçou em aprender depois de adulta porque sabia que aquele gosto o fazia se sentir em casa.

- Estão... deliciosos... mãos de fada.

- Oras muito obrigada.

- Quer um?

- Não pode aproveitar.

Annie sorriu dando uma bicada no café. Se encostou no divã e apenas apreciou o momento. Estava realmente precisando de um momento relaxante assim.

- Hum eu realmente precisava disso. Esse gosto de... infância é a coisa mais incrível.

- Estou curiosa, o que houve com os bolinhos que eu te mandei quando voltamos da praia?

Alfonso engoliu em seco ao ouvir a pergunta. A princípio pensou que se tratasse de algum engano, mas hoje, sabendo de tudo, ficou claro que aquilo não foi um equívoco, foi maldade e não tinha dúvidas de Marisa tinha jogado fora de propósito.

- Me desculpe Annie...

- O que aconteceu?

- Eu... bom... acho que te devo desculpas. Sei que tentou me alertar, mas eu nunca acreditei que Marisa pudesse ir tão longe. Você me perdoa?

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