Era uma vez, uma princesa que voltou no tempo

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Ao final deste dia, irei encontrar minhas mães que, de alguma forma, retornaram.

Eu rezei para que esse reencontro acontecesse, pelo menos enquanto meu espírito ainda estivesse nesse plano, arrastando-me pela passagem estreita e suja.

“Agrh..!”

Tendo ciência de meus planos, os antigos membros da família real ruminariam que me abstive da Glória Iluminada e fiquei completamente insana.

Eu estava tremendo até os ossos na verdade, e não era por conta de uma tempestade chegando. Como posso postergar as tão expressas ordens de meu primo, o atual soberano sob o Sol, e sair furtivamente de meu quarto no meio da noite? Talvez eu tenha ficado completamente insana.

A poeira e as teias de aranha se permeavam em minhas roupas, meus olhos e feridas, meu nariz coçava repetidamente ao passo que meu corpo latejava.

Era uma das passagens secretas anexadas no Palácio apenas para a família real, mas ninguém em sã consciência acreditaria nisso vendo o quão suja e destroçada estava.

Quando a rainha, minha mãe, era viva, essas passagens, em sua grande parte labirintos passados apenas para aquele que sucederia a coroa, eram o meu parquinho livre de problemas, para onde eu corria quando tudo dava errado.

A passagem virou algo pior do que uma sarjeta acabada, depois que o primo Aaron a enterrou. Bem como meu estado atual.

Minhas roupas estavam no mesmo estado de trapos velhos, esfarrapadas e cobertas de sujeira, assim como meus cabelos ruivos, mais claros que os de minha mãe mas tão semelhantes aos dela, bagunçados em um rabo de cavalo.

Ninguém acreditaria se contassem que essa seria a futura aparência da Herdeira das Estrelas, a primeira híbrida, aquela que foi reverenciada por todos em seu nascimento.

“Eu só preciso ser mais rápida…”

Suspirei um tanto audível e me espremi pelos escombros da passagem acabada. Se eu for pega, morrerei no mesmo momento, sem dúvida nenhuma. Cruel e friamente.

Há aqueles que dizem que na Terra do Sol, as leis deste reino sagrado e celestial são bondosas com todos, sem discriminações, que neste mundo sob a benção dos Deuses, todos os seres de luz eram dignos de uma chance, à seu próprio jeito. Era uma certa verdade, pois até mesmo um plebeu não encararia a terrível pena de morte mesmo se cometesse um crime cruel, o mesmo valia para nobres, todas as castas.

A única forma de receber uma pena de morte é se o indivíduo cometer um crime hediondo. E conta apenas se você for um ser de luz. O que não era o meu caso, pelo menos, de acordo com meu primo, eu sou um ser infernal. É esse o motivo de eu ter que arriscar minha própria vida nesse dia.

Por conta da pouca iluminação — nenhuma no caso, pois aquele lugar estava destruído — acabei batendo no final da passagem após andar por mais de meia hora, talvez, ou alguns minutos. Sem força alguma por conta das feridas em minha pele, empurrei a abertura na parede com esforços desajeitados.

“Ugh, só, um pouquinho!”

Semelhante a uma porta cujas juntas não recebiam óleo há uma década, a abertura foi, na velocidade de uma lesma, empurrada, mostrando aos poucos, o quarto de minha avó, escuro e com alguma fresta de luz. Até que cai do lado de fora, quando a parede subitamente se abriu toda, e meu corpo encontrou o chão.

"Sanya! Querida!"

Vi minha tia, D'arcy, correndo para mim depois da queda que tive. Ela estendeu os braços para mim, que recuei como um bicho assustado até minhas costas estarem encostadas na parede que antes se abriu, mas mesmo assim, não parou e abraçou piedosamente meu corpo imundo, me deixando nervosa.

Vocês Duas São Minhas Mães, Não É Óbvio?! - Stellatrix AUWhere stories live. Discover now